Intifada!, gritou-se no funeral do adolescente palestiniano morto em Jerusalém
Confrontos na cidade recordaram violência dos dias da revolta palestiniana. Situação na fronteira de Gaza continua tensa apesar de negociações para uma nova trégua
“Com as nossas almas e com o nosso sangue vamos redimir-te, mártir”, gritaram milhares de vozes durante o cortejo fúnebre que ligou a casa da família de Khdeir, no bairro de Shoafat, ao cemitério local. Ouviram-se também apelos a uma nova Intifada (sublevação) e pedidos para que o Hamas – grupo a que Israel atribui o sequestro dos três adolescentes – vingue esta morte, descreve a Reuters.
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“Com as nossas almas e com o nosso sangue vamos redimir-te, mártir”, gritaram milhares de vozes durante o cortejo fúnebre que ligou a casa da família de Khdeir, no bairro de Shoafat, ao cemitério local. Ouviram-se também apelos a uma nova Intifada (sublevação) e pedidos para que o Hamas – grupo a que Israel atribui o sequestro dos três adolescentes – vingue esta morte, descreve a Reuters.
O corpo do jovem palestiniano só nesta sexta-feira foi entregue à família, dois dias depois de ter sido encontrado, “totalmente carbonizado”, numa zona florestal de Jerusalém Ocidental. Não são ainda conhecidos os resultados da autópsia e o ministro da Segurança Pública israelita, Yitzhak Aharonovitch, disse que a polícia continua a seguir “todas as pistas” e que o móbil do crime “continua por determinar”. No entanto, a semelhança do crime com o sequestro e assassínio dos estudantes israelitas e a pouca credibilidade de outras pistas – falou-se num acerto de contas entre famílias – dão força à suspeita de que Khdeir foi morto por vingança, alegadamente às mãos de judeus radicais.
Essa convicção, partilhada pela família do adolescente e a liderança palestiniana, alimentou uma revolta que nos últimos dias levou centenas de jovens a pegar de novo em pedras e cocktails Molotov contra as forças de segurança, em alguns dos piores confrontos desde o fim da segunda Intifada em 2005.
Antecipando novos incidentes durante o funeral, que coincidiu com a primeira sexta-feira do Ramadão, a polícia mobilizou milhares de agentes e proibiu a entrada no Pátio das Mesquitas, local sagrado do islão, a homens com menos de 50 anos. Mal terminaram as orações semanais registaram-se os primeiros confrontos, que se espalharam a vários bairros árabes e, em menor dimensão, a algumas cidades da Cisjordânia. As forças de segurança responderam com granadas de gás lacrimogéneo, balas de borracha e disparos para o ar. Ao final da tarde, o Crescente Vermelho palestiniano falava em 60 feridos, quase todos ligeiros, e a polícia anunciou que seis agentes foram hospitalizados.
O dia terminou sem notícias de mortos, mas com as ameaças de vingança dos radicais – tanto israelitas como palestinianos – teme-se que o ciclo de retaliações não se fique por aqui. Um risco que a situação na fronteira com a Faixa de Gaza agrava.
A BBC noticiou de manhã que o Egipto estava a ultimar um acordo entre Israel e o Hamas para restaurar o cessar-fogo na zona, depois de uma semana em que dezenas de obuses foram disparados daquele território. A aviação israelita respondeu com ataques a alvos do Hamas e o Exército reforçou a presença no local. “Não temos qualquer interesse numa escalada ou numa guerra em Gaza”, disse um porta-voz do Hamas. O Governo israelita fez saber que a trégua estava dependente da capacidade do movimento para impedir novos disparos. Até ao final do dia, 15 obuses caíram em território israelita e a aviação retaliou, atacando alvos em diferentes zonas de Gaza, mas não é claro se as negociações de bastidores foram interrompidas.
Só que a aparente estratégia de contenção tem adversários dentro do próprio Governo de Benjamin Netanyahu. O ministro dos Negócios Estrangeiros, o ultranacionalista Avigdor Lieberman, disse que “é um erro grave pensar que a calma gera a calma” e voltou a exigir uma ofensiva sem quartel contra o Hamas em Gaza.