Accionistas e Banco de Portugal escolhem Vítor Bento para liderar o BES
João Moreira Rato, presidente do IGCP, deverá ser o novo administrador financeiro.
Ao seu lado, como administrador financeiro, deverá ter João Moreira Rato, actual presidente do IGCP, responsável pela gestão da dívida pública. Desconhece-se ainda se a nova comissão executiva mantém alguns dos actuais gestores, tendo várias partes envolvidas participado numa reunião no Banco de Portugal, nesta sexta-feira.
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Ao seu lado, como administrador financeiro, deverá ter João Moreira Rato, actual presidente do IGCP, responsável pela gestão da dívida pública. Desconhece-se ainda se a nova comissão executiva mantém alguns dos actuais gestores, tendo várias partes envolvidas participado numa reunião no Banco de Portugal, nesta sexta-feira.
Os accionistas do BES deverão a qualquer momento vir a público anunciar a escolha de Vítor Bento como CEO, que irá a votos na Assembleia-Geral de 31 de Julho. O economista já informou alguns membros da SIBS da sua decisão, apurou o PÚBLICO. Ao seu lado deverá ter João Moreira Rato como administrador financeiro, que está à frente do IGCP, a agência que gere a dívida pública, desde Agosto de 2012.
Ainda que o Banco de Portugal repita a tese de que cabe aos accionistas do BES escolher os presidentes executivos e não executivos e que ao regulador apenas compete avaliar se os nomes cumprem os requisitos exigidos, nomeadamente, de idoneidade, terá partido da equipa de Carlos Costa (no seu diálogo permanente com o núcleo duro do BES) a indicação do conselheiro de Estado.
Vários analistas e responsáveis do sector bancário ouvidos pelo PÚBLICO consideraram Vítor Bento, de 60 anos, uma “boa escolha”, ainda que se trate de uma solução de banqueiro “não clássica” pois o economista nunca trabalhou na banca. Em contrapartida, alegam que o seu prestígio deverá permitir “segurar” as ondas tumultuosas que rebentaram à volta da instituição, após a ESFG (que possui 25,1% do BES) ter revelado que ia submeter à reunião magna o nome do administrador financeiro Amílcar Morais Pires para ocupar a cadeira de Ricardo Salgado, de quem é próximo.
A solução Morais Pires determinou nos dias seguintes uma evolução errática das cotações do BES e da ESFG que se traduziu na perda rápida do valor de mercado das instituições (quase 40%). Esta sexta-feira, o BES fechou a sessão em alta, a subir 8,2% para 0,752 euros, mas a ESFG caiu 5,2% para 1,57 euros. Os títulos do BES ganharam maior dinâmica a partir do momento em que o nome de Vítor Bento foi noticiado.
Apesar de nunca ter desenvolvido actividade directa na banca, Vítor Bento tem grande experiência no sector financeiro. Percebe de Finanças e do funcionamento do sistema financeiro, pois lidera há vários anos a SIBS, uma sociedade participada por vários bancos. Ou seja: não sendo um especialista de banca, sabe o suficiente para gerir um banco e se rodear de uma equipa experiente que não poderá contar com membros da família Espírito Santo.
Ex-presidente do Conselho Directivo do Instituto de Gestão do Crédito Público, ex-director-geral do Tesouro, ex-director do Departamento de Estrangeiro do Banco de Portugal, Bento esteve ainda ligado ao Banco de Macau (emissor).
Tal como Paulo Mota Pinto, proposto pela ESFG para presidente não executivo, não existem sobre Vítor Bento polémicas e controvérsias sobre o seu carácter ou actos de gestão praticados. Se Bento se assume como um "independente" do bloco central, Mota Pinto é deputado do PSD (lugar que já disse que vai deixar depois de ser nomeado),e esteve ligado ao Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa. À semelhança de Carlos Costa, Mota Pinto e Bento pertencem ao universo do Presidente da República, Cavaco Silva.
O Banco de Portugal “impôs” igualmente que o futuro chairman do BES fosse um jurista, para se poder responsabilizar pelos actos da gestão. Daí que a escolha tenha recaído sobre Mota Pinto, que é da esfera do advogado Daniel Proença de Carvalho, do gabinete luso-espanhol Uría Menéndez-Proença de Carvalho, que está a ajudar (de forma remunerada) Ricardo Salgado no processo de reestruturação do grupo, e que foi quem sugeriu o seu nome.
O conselho de administração também não poderá integrar accionistas (família Espírito Santo, Crédit Agricole, fundos de investimento), que ficarão acantonados no conselho estratégico (uma estrutura não estatutária, mas de aconselhamento). O nome que foi sugerido para representar a ESFG e liderar o conselho estratégico foi o de Ricardo Salgado, que pode (ou não) também cair, para dar entrada a outro Espírito Santo.
Desde Maio que o nome de Vítor Bento estará em cima da mesa do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, tendo então circulado insistentemente na esfera do GES. Na altura, confrontado pelo PÚBLICO sobre a possibilidade de poder integrar os órgãos sociais da instituição, o presidente da SIBS desvalorizou a informação e negou que o seu nome estivesse a ser equacionado. Mas a verdade é que as lutas internas entre Ricardo Salgado e José Maria Ricciardi (presidente BESI), vieram baralhar e atrasar a divulgação de uma “escolha” consensual para substituir Salgado e permitir ao segundo maior banco privado iniciar um novo capítulo da sua existência, agora com uma gestão mais independente dos seus accionistas.
Recorde-se que a proposta de indicação de Amílcar Morais Pires - o actual CFO, com o pelouro financeiro e responsável pela montagem do último aumento de capital de 1047 milhões de euros - para substituir Ricardo Salgado gerou protestos por ser um homem da confiança do ainda presidente do BES (que sairá a 31 de Julho).
Salgado está no epicentro das divisões internas na família (nomeadamente com José Maria Ricciardi) e de polémicas envolvendo eventuais responsabilidades nas insuficiências das holdings, que levaram à ocultação de perdas e à manipulação de contas (que o ainda CEO diz terem sido cometidas por um contabilista). E também pelo recebimento de comissões por serviços prestados a título pessoal a um construtor civil cliente do banco (isto apesar de ser presidente executivo).
O ainda presidente do BES está igualmente na origem da controvérsia que gerou o investimento de 897 milhões de euros da PT em papel comercial da Rioforte, onde se concentram os problemas.