Pai e filho
Toumani implica o filho numa linhagem de 72 gerações da sua família dedicadas à kora.
O álbum construiu uma aura de tal forma mítica que a kora, com o advento da world music, começou a viajar sem nunca repetir tal encontro a duas vozes, como se qualquer tentativa de imitar o feito anterior partisse, desde logo, de um ponto de comparação que a reduziria a um esforço patético. Até que os filhos dos intérpretes originais, Toumani Diabaté e Ballaké Sissoko, arriscaram repetir a proeza com New Ancient Strings, em 1999, e aquilo que lograram atingir foi, afinal, mais sublime ainda para ouvidos que não tenham sido educados na tradição mandé, sabendo integrar recursos estranhos a esse património local. Toumani, fundador de uma Symmetric Orchestra em que a simetria era dada por doses iguais de tradição e modernidade, passaria pouco depois a disseminar o som da kora, colocando-a em cenários inesperados com o jazz de Roswell Rudd, o blues de Taj Mahal, a pop de Björk ou os encontros malianos de Mali Music (sob a batuta de Damon Albarn) e com o génio de Ali Farka Touré.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O álbum construiu uma aura de tal forma mítica que a kora, com o advento da world music, começou a viajar sem nunca repetir tal encontro a duas vozes, como se qualquer tentativa de imitar o feito anterior partisse, desde logo, de um ponto de comparação que a reduziria a um esforço patético. Até que os filhos dos intérpretes originais, Toumani Diabaté e Ballaké Sissoko, arriscaram repetir a proeza com New Ancient Strings, em 1999, e aquilo que lograram atingir foi, afinal, mais sublime ainda para ouvidos que não tenham sido educados na tradição mandé, sabendo integrar recursos estranhos a esse património local. Toumani, fundador de uma Symmetric Orchestra em que a simetria era dada por doses iguais de tradição e modernidade, passaria pouco depois a disseminar o som da kora, colocando-a em cenários inesperados com o jazz de Roswell Rudd, o blues de Taj Mahal, a pop de Björk ou os encontros malianos de Mali Music (sob a batuta de Damon Albarn) e com o génio de Ali Farka Touré.
Estas duas histórias levantam-se novamente a propósito de Toumani & Sidiki. Voltando ao formato de duas koras, Toumani intima agora o seu filho mais velho, baptizado em homenagem ao avô. Sem querer, desta vez, reanimar o estatuto histórico de Cordes Anciennes, Toumani implica claramente o filho numa linhagem de 72 gerações da sua família dedicadas ao instrumento. Não assumindo um papel tão preponderante quanto Toumani, Sidiki traz uma linguagem menos dada ao lirismo, mais rítmica e vigorosa – o que não espanta, uma vez que a sua fama local se deve sobretudo ao duo que mantém com o rapper Iba One. De Hamadoun Touré aBansang o que fica evidente é que o fulgor melódico e a capacidade de reinvenção do instrumento, lentamente incorporando linguagens importadas que não comprometem a transmissão ancestral, ampliam cada vez mais o encanto da kora em vez de contribuírem para a sua saturação.
A carta está jogada. Sidiki que saiba dar continuidade ao génio de Toumani.