Casa da Música transformada em Escola de Maestros
A iniciativa de organizar pela primeira vez uma Academia de Verão, com principal incidência na direcção de orquestra, mas alargada a todos os instrumentistas, foi um sucesso que deixou os participantes agradavelmente surpreendidos
A culpa é de Peter Rundel, o maestro titular do Remix Ensemble, e do reconhecimento e popularidade que este agrupamento de música contemporânea residente na Casa da Música alcançou a nível nacional e pela Europa fora.
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A culpa é de Peter Rundel, o maestro titular do Remix Ensemble, e do reconhecimento e popularidade que este agrupamento de música contemporânea residente na Casa da Música alcançou a nível nacional e pela Europa fora.
Quando ao final da tarde desta quinta feira, os 55 alunos de sete nacionalidades e os membros do Remix Ensemble se misturarem para tocar peças clássicas e modernas (do repertório constam compositores como Arnold Schönberg, Johann Strauss, Edgard Varése, Mahler, Anton Webern, György Ligeti e Richard Wagner) vai acontecer algo parecido com magia. Não se espera nada menos que isso. Para alunos e professores, para maestros profissionais e para maestros em início de carreira.
Este concerto final será o clímax de quatro dias de trabalho intenso (Rundel admite repetir a proeza de organizar uma nova Academia, mas gostava de o fazer com mais tempo - "as coisas boas precisam de tempo, e em quatro dias ficou tudo um pouco corrido", confidenciou ao P3), em que a aprendizagem foi constante, e mútua. "Acredito que o balanço é muito, muito positivo. Não só para os estudantes de direcção, como para os instrumentistas. Os músicos do Remix queriam muito que esta oportunidade surgisse, tanto quanto eu", garantiu Rundel.
Porque, admitamos, professores e alunos têm sempre algo a aprender. Seja numa "masterclass" como as que Rundel protagonizou, seja nos corredores, nos intervalos das aulas e ensaios. "O trabalho de aprendizagem de um maestro não termina nunca", disse-nos Stijn Berkouwen, um holandês que terminou os estudos no conservatório de Berlim e que se revelou fascinado com a capacidade com que os academistas de instrumento e os profissionais do Remix Ensemble demonstraram em dar, de facto, voz ao maestro que os conduzia. "É muito gratificante ver como eles mudam consoante quem os está a conduzir. Temos a sensação de que estamos a dirigir uma orquestra. Se houver erros, a culpa é tua. Mas se for muito bom, o mérito também é teu", afirmou Berkouwen, um dos 12 estudantes de direcção de orquestra que se inscreveu nesta academia.
Também Eva Fodor, uma húngara-israelita-alemã ("posso dizer que sou uma cidadã do mundo?", questionava), que terminou os estudos em direcção de Orquestra e que correu para o Porto ("é a primeira vez que aqui estou, é uma cidade muito bonita"), quando soube desta oportunidade. "Peter Rundel é muito conhecido pela sua capacidade de misturar, de fazer uma transição entre o repertório clássico e o moderno, de uma maneira tão fluida. Foi muito interessante trabalhar com ele", concluiu. Peter Rundel disse estar muito satisfeito com o nível dos alunos que se apresentaram na Academia e de ter recebido um "feedback" de participações "tão positivo" no desafio de mudança que assume como seu.
"Desde os meus tempos de estudante que o repertório contemporâneo não é muito trabalhado na formação dos alunos. E no Remix Ensemble sabemos bem como é importante contribuir para que isso mude", acrescentou. E agora, silêncio, que é hora de dar a batuta aos maestros.