Passar politicamente nas “primárias”

A verdade é que na política nacional as primárias ainda são vistas com estranheza. A sua implementação, na minha opinião, exige cuidados: ensaios em pequena escala, formação e informação

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Fotos GOVBA

Há muito que defendo a necessidade de começarmos a escolher candidatos e programas eleitorais com base em primárias ou sistemas semelhantes. Lembro-me de há uns anos ter estado num congresso nacional do meu partido a defender esta posição. Eramos uma minoria e quase fomos ignorados, até porque para a maioria isso estava longe de ser uma prioridade. Mas para mim, e para outros que assumíamos a necessidade deste tipo de mudança, era bem evidente que a cidadania política estava já em crise. Hoje a panorâmica agravou-se e não são só os elevados níveis de abstenção em que isso se manifesta.

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Há muito que defendo a necessidade de começarmos a escolher candidatos e programas eleitorais com base em primárias ou sistemas semelhantes. Lembro-me de há uns anos ter estado num congresso nacional do meu partido a defender esta posição. Eramos uma minoria e quase fomos ignorados, até porque para a maioria isso estava longe de ser uma prioridade. Mas para mim, e para outros que assumíamos a necessidade deste tipo de mudança, era bem evidente que a cidadania política estava já em crise. Hoje a panorâmica agravou-se e não são só os elevados níveis de abstenção em que isso se manifesta.

Já nessa altura, quando se falava de primárias, ficava-me com a sensação de que, no geral, quase ninguém sabia concretamente do que falávamos. Eu próprio tinha, e continuo a ter várias dúvidas, mas o princípio básico era evidente: uma mudança prática com imenso potencial que podia trazer mais democracia e participação cívica/política, tal como mais conteúdos ao debate político a todos os níveis.

A vantagem das primárias reside na maior facilidade para surgirem candidatos e projectos alternativos, obrigando a que os intervenientes debatam e explanem melhor as suas propostas e motivações políticas, em sequências dos escrutínios que vão eliminando os candidatos minoritários até que fique só um, aquele que reúne de facto o maior consenso possível e as melhores propostas políticas para um confronto eleitoral. Mas esse consenso não resulta de um automatismo, essa prevalência surge de muito trabalho político, de uma definição de propostas e ideias que foram largamente discutidas, rebatidas e que só sobrevivem se forem de facto as mais fortes e coerentes.

A verdade é que na política nacional as primárias ainda são vistas com estranheza. A sua implementação, na minha opinião, exige cuidados: ensaios em pequena escala, formação e informação. Tirar as primárias da “cartola” pode ter resultados imprevisíveis (bons ou maus); ou pode ser simplesmente a destruição, à partida, de uma boa oportunidade para melhorar o nosso sistema político/partidário. Sabemos bem o que acontece quando se retira um “Coelho” impreparado da cartola e se espera que depois tudo corra bem, arriscando “Passos” de mentira e ilusão.

Assim, continuo a defender que as primárias são essenciais, mas importa não serem usadas como algo descartável e que as possa erradamente conotar com as politiquices do costume. Para que se possa interiorizar e perceber o seu potencial, primeiro precisávamos de as ensaiar a outro nível e escala, de as fazer com calma e preparação, tal como haver uma forte componente informativa e formativa em todo o processo.