Metro do Porto abre nova frente de crispação entre autarcas e o Governo
Municípios do Grande Porto criticam dualidade de critérios no financiamento de obras em Lisboa e no Norte. E querem dizê-lo, cara a cara, a Sérgio Monteiro
Este escreveu esta semana ao conselho metropolitano, admitindo não haver fundos comunitários para a expansão do metro do Porto, o que leva os autarcas, independentes, do PS, ou do PSD, a acusá-lo de tratar de forma discriminatória o Norte, quando se prevêem verbas europeias para investimentos no Metro de Lisboa.
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Este escreveu esta semana ao conselho metropolitano, admitindo não haver fundos comunitários para a expansão do metro do Porto, o que leva os autarcas, independentes, do PS, ou do PSD, a acusá-lo de tratar de forma discriminatória o Norte, quando se prevêem verbas europeias para investimentos no Metro de Lisboa.
Os autarcas presentes no conselho metropolitano desta sexta-feira aprovaram, por unanimidade, um voto de pesar pela morte, no domingo passado, do gestor que conseguiu pôr de pé o projecto do metro. Manuel Oliveira Marques foi administrador executivo da Metro do Porto, passando por vários ministros e guerras que, em alguns momentos, pareceram pôr em causa a maior obra de transportes que nos primeiros anos da década de 2000 se realizava na Europa. Desejosos de verem ser retomado um projecto que revolucionou a mobilidade na região, os presidentes de câmara ficaram desencantados com a resposta de Sérgio Monteiro.
Coube a um autarca do PSD, a descrição mais contundente. A resposta do governante aos anseios dos autarcas foi “maliciosa”, avisou o presidente da Câmara da Maia, Bragança Fernandes. O tom de crítica foi unânime entre sociais-democratas, socialistas e independentes, mas curiosamente foi o autarca de Santo Tirso, Joaquim Couto, do PS, a pedir ponderação na linguagem da carta que há de seguir para Lisboa, insistindo nas posições da área metropolitana e pedindo ao secretário de Estado que se desloque ao Porto. Aí, o socialista Eduardo Vítor Rodrigues, de Gaia, e o independente Guilherme Pinto, prometem não poupar nas críticas. Acusado de ser “algo truculento”, Guilherme Pinto, aliás, pediu a Joaquim Couto que não confundisse “firmeza com falta de elegância”.
Estilos à parte, parece firme a posição da AMP contra a indisponibilidade de fundos europeus para a expansão do metro. A melhoria da mobilidade, a redução do CO2 e a consequente melhoria das metas ambientais exigiriam que fossem canalizados fundos da área do ambiente para este empreendimento, assinalou Guilherme Pinto, secundado, neste argumento pelos autarcas de Gaia e de Gondomar (Marco Martins).
O presidente do conselho metropolitano, Hermínio Loureiro, do PSD, tomou boa nota e sintetizou o clima vigente como de “insatisfação”. Expressão algo branda quando se percebe que, uma das maiores fontes de irritação é a inclusão de investimentos no Metro de Lisboa nos planos para o sector.
Instados a recorrer a externalidades (taxas com operações urbanísticas em redor das linhas, por exemplo), para financiar o metro, os presidentes de câmara questionam por que têm de ser as autarquias a pagar este investimento, no Norte, quando em Lisboa as verbas saem do erário público. “Os argumentos de racionalidade económica não se podem aplicar só a esta região”, frisou Eduardo Vítor Rodrigues. Gaia espera há muito por uma segunda linha do metro, tida como das que poderia ter maior procura. E, argumentou Hermínio Loureiro, os bons resultados obtidos na exploração da rede actual podiam ser potenciados com alguns investimentos em áreas de forte procura.
"Nós não queremos um país a duas velocidades. Nem queremos que haja uma estratégia para o sistema de transportes em Lisboa e outra para o Porto. Defendemos um espírito de equidade, de igualdade de tratamento", alertou Hermínio Loureiro. O presidente do conselho metropolitano não quer romper o diálogo com a tutela do sector, mas pretende convencer o Governo a mudar de posição, de modo a que o próximo concessionário da Metro do Porto, que terá de começar a ser escolhido, por concurso, até ao final do ano, saiba com o que contar em termos de possível expansão da rede.
Solução para o Coliseu “muito bem encaminhada”
Noutro dos pontos da reunião desta sexta-feira, o presidente do Conselho Metropolitano do Porto considerou que está tudo muito bem encaminhado para que se consiga uma solução duradoura de financiamento para o Coliseu do Porto. Hermínio Loureiro esteve reunido em Lisboa, há duas semanas, com o presidente da Câmara do Porto e o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, e esta sexta-feira explicou aos autarcas que, não tendo saído do encontro destes três fundadores da Associação dos Amigos do Coliseu uma solução definida para os prejuízos que aquela entidade teve em 2013, lhe pareceu que se vai encontrar forma de garantir que se faça a gestão da sala “sem sobressaltos”.
À boleia desta intervenção, Guilherme Pinto, de Matosinhos, pediu que fosse feita uma lista dos equipamentos que, nos vários concelhos, possam ser considerados de importância metropolitana, para que se desenvolva uma estratégia de gestão conjunta dos mesmos. A proposta foi aceite e a lista será levada á próxima reunião da área metropolitana.