O Chile quis tudo mas não ganhou nada
No apuramento para o Mundial 1990, a selecção chilena jogou contra o Brasil. A perder por 1-0, a partida ficou marcada por um dos episódios mais estranhos da história do futebol.
Quem estava na baliza chilena, nesse dia, era Roberto Rojas, mais conhecido por “Condor”. A primeira parte do jogo ficou marcada por um Brasil dominador, que apontou um golo a quatro minutos do fim dos 45’. Perder não era opção para o Chile, uma vez que nem se chegaram a classificar para o Mundial de 1986, e este jogo era o “tudo ou nada” para a selecção chilena.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Quem estava na baliza chilena, nesse dia, era Roberto Rojas, mais conhecido por “Condor”. A primeira parte do jogo ficou marcada por um Brasil dominador, que apontou um golo a quatro minutos do fim dos 45’. Perder não era opção para o Chile, uma vez que nem se chegaram a classificar para o Mundial de 1986, e este jogo era o “tudo ou nada” para a selecção chilena.
Foi já na segunda parte que o “incidente” aconteceu. Roberto Rojas magoou-se devido a um very-light que foi atirado para o relvado. Ou, pelo menos, tudo levou a crer que assim era. Com o rosto a sangrar, Rojas foi de imediato socorrido e os seus colegas de equipa resolveram abandonar o relvado e dar o encontro por terminado. Os chilenos estavam à espera que um novo jogo fosse marcado e que o Brasil não ficasse apurado, depois da partida “traumatizante” que a selecção de Orlando Aravena (seleccionador do Chile, na altura) teve.
Se tal acontecesse, a selecção brasileira teria o Mundial de 1990 longe do seu horizonte e até Ricardo Gomes - capitão do Brasil nesse jogo – sentiu esse receio. “Estava aterrorizado. Pensei imediatamente que poderia perder a chance de nos qualificarmos para o Campeonato do Mundo”, declarou à CNN.
O episódio de Rojas a lesionar-se com o very-light não foi filmado, mas um fotógrafo que captou o momento tirou todas as dúvidas existentes em redor deste acontecimento: a verdade é que este sinalizador caiu no relvado a mais de um metro de distância do guarda-redes.
E o mistério foi desvendado: Rojas, antes do início do jogo, guardou uma lâmina de um bisturi na sua luva esquerda e quando o very-light caiu no relvado, o guarda-redes viu o momento perfeito para se cortar no rosto e fingir que tinha sido atingido pelo sinalizador. O incidente foi investigado pela FIFA e a selecção chilena pagou caro por engendrar tal artimanha: foi expulsa das eliminatórias do Mundial de 1990, o presidente da federação chilena, o seleccionador Aravena e o médio Astengo (por ter conhecimento do que iria ser feito durante o jogo) ficaram suspensos do mundo do futebol por alguns anos. Já o guarda-redes Rojas teve um desfecho mais dramático: viu a sua carreira de jogador terminar aos 32 anos.
Em entrevista para o jornal chileno La Tercera, Rojas afirmou que foi o “culpado” por tudo o que aconteceu à selecção chilena. Também explicou que levou a lâmina dentro das luvas para a utilizar, caso o resultado do jogo fosse negativo para o Chile.
Hoje, é quase impossível sonhar que um caso deste calibre possa acontecer, devido às tecnologias que estão ao nosso dispor e que captam todos os momentos dentro dos relvados. Mas há 25 anos foi possível e deixou a selecção do Chile manchada até hoje. Os chilenos só voltaram a entrar num Mundial em 1998. Nesse ano, e liderados por Ivan Zamorano, o Chile ressuscitou e conseguiu classificar-se para os oitavos-de-final, mais uma vez num jogo contra o Brasil. Mas, desta vez, não houve armadilha nenhuma e o Chile saiu a perder com quatro golos sofridos.
Hoje, Chile e Brasil encontram-se novamente, em solo brasileiro, tal como em 1989, sem lâminas, sem very lights. Texto editado por Jorge Miguel Matias