Vaticano afasta do sacerdócio ex-embaixador papal por pedofilia

Antigo núncio na República Dominicana foi condenado pela Congregação para a Doutrina da Fé. Ficará numa situação semelhante à de prisão domiciliária, à espera do processo penal.

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O caso de Wesolowski será o primeiro de afastamento por abusos sexuais GABRIEL BOUYS/AFP

Jozef Wesolowski, 65 anos, antigo núncio na República Dominicana, função equivalente à de embaixador, foi condenado pela Congregação para a Doutrina da Fé à “perda do estado clerical”. Tinha sido chamado em Agosto do ano passado ao Vaticano, na sequência de denúncias de abuso sexual de rapazes feitas pela imprensa dominicana.

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Jozef Wesolowski, 65 anos, antigo núncio na República Dominicana, função equivalente à de embaixador, foi condenado pela Congregação para a Doutrina da Fé à “perda do estado clerical”. Tinha sido chamado em Agosto do ano passado ao Vaticano, na sequência de denúncias de abuso sexual de rapazes feitas pela imprensa dominicana.

A agência de informação religiosa I-media, citada pela AFP, indica que já outros bispos resignaram devido a acusações semelhantes, mas que este será o primeiro afastamento de um "embaixador papal" por estas razões. Núncio na República Dominicana desde Janeiro de 2008, Wesolowski foi ordenado padre e bispo pelo também polaco Papa João Paulo II.

“O julgamento em primeira instância do processo canónico contra o ex-núncio apostólico na República Dominicana foi concluído recentemente pela Congregação para a Doutrina da Fé com a condenação ao afastamento da função clerical”, informa um comunicado do Vaticano.

Jozef Wesolowski tem dois meses para recorrer da condenação. Para além do procedimento canónico deverá, na qualidade de cidadão do Vaticano, quando a sentença religiosa se tornar definitiva, enfrentar um processo penal que o pode levar à prisão.

O julgamento criminal é possível devido a alterações feitas no ano passado ao Código Penal da Santa Sé. Essa reforma permite que cidadãos do Vaticano e que trabalhem para ele, em Roma ou noutro qualquer lugar, respondam, qualquer que seja a sua função, à justiça do Estado católico.

Enquanto esperou a decisão divulgada nesta sexta-feira, o ex-núncio beneficiou de uma relativa liberdade de movimentos. Agora deverá ficar numa situação semelhante à de prisão domiciliária.

Teste à mudança

O comunicado diz que “todas as medidas adequadas à gravidade do caso serão doravante adoptadas”. O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, citado pela AFP, foi mais concreto: “Serão tomadas medidas para que resida numa localização precisa, limitada, sem liberdade de movimentos porque é uma pessoa considerada culpada de um grave delito e a aguardar outro processo judicial”.

A AFP diz que a Santa Sé recusou em Janeiro extraditar Wesolowski para a Polónia, invocando a sua condição de cidadão do Vaticano. A Reuters apurou que se for considerado culpado no processo criminal, o ex-embaixador papal pode ser extraditado para a República Dominicana. O organismo das Nações Unidas contra a tortura tinha apelado ao Vaticano para investigar o caso do arcebispo.

O Papa Francisco tem advogado “tolerância zero” para quem na Igreja abuse de crianças e comparou os abusos sexuais a “missas satânicas”. O caso de Jozef Wesolowski era considerado um teste à sua real vontade de ir além das palavras na condenação da pedofilia.

A revelação de milhares de casos de abusos sexuais de menores por sacerdotes, muitos deles remontando às décadas de 60 e 70 do século passado, abalou nos últimos anos o mundo católico. A Igreja anunciou ter afastado na última década mais de 800 padres e aplicado penas de “oração e penitência” a mais de 2500.