Subway Riders: 25 anos de vida, zero ensaios

Os Subway Riders foram criando culto pelos concertos”. São banda sem rede inspirada na no-wave e no noise nova-iorquino, animada por um humor provocatório. O ano passado saíram definitivamente da toca. No sábado apresentam-se na ZDB.

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O ano passado começámos a vê-los em vários cartazes de concertos. Subway Riders aqui, Subway Riders ali, Subway Riders com álbum a sair que será apresentado algures. Algures, não. Este sábado, 28 de Junho, a banda estará na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, com a primeira parte a cargo do garage-rock alimentado a delírios e terror sci-fi dos Dirty Coal Train (22h, bilhetes a 6€).

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O ano passado começámos a vê-los em vários cartazes de concertos. Subway Riders aqui, Subway Riders ali, Subway Riders com álbum a sair que será apresentado algures. Algures, não. Este sábado, 28 de Junho, a banda estará na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, com a primeira parte a cargo do garage-rock alimentado a delírios e terror sci-fi dos Dirty Coal Train (22h, bilhetes a 6€).

A banda foi criada por Carlos Dias em 1989. Victor Torpedo tinha uma banda, os Objectos Perdidos, da qual Carlos já saíra. “Vamos fazer umas coisas. Vamos ser só nós dois e uma caixa de ritmos”, disparou um dia. Fizeram um ensaio e decidiram arranjar um baterista (a caixa de ritmos não funcionava). O nome chegou através do filme preferido de Carlos Dias, Subway Riders, precisamente, obra de 1981 de Amos Poe, com o saxofonista John Lurie. Faz sentido. O rock’n’roll, o punk e o rockabilly faziam o seu caminho na cena coimbrã, mas Carlos estava virado para a no-wave e para o noise nova-iorquinos. Não músico, preparou a guitarra com “duas cordas de violão e quatro cordas Mi” (“a guitarra é mágica, toca por si”). Sem pachorra para as dores de cabeça que a gestão de uma banda implica (“o baterista psicopata, como são quase todos, o guitarrista que quer tocar mais alto que toda a gente”), impôs como regra que não haveria ensaios. Porque só queria a diversão e a energia do palco e porque, dessa forma, partiriam à descoberta em tempo real, sem rede e sem anestesia.

Até 2000, foram um anti-power trio. Carlos Dias, Victor Torpedo e Antoine Pimentel, substituído dois anos depois da fundação por Paulo Furtado. Durante esse período os seus concertos feitos happening, amálgama de sons onde se ouve algo dos Velvet Underground ou dos Residents, com uma atitude provocatória, pelo humor e pela fuga ao guião pré-estabelecido para um concerto, foram-se tornando um caso de culto. Como diz Pedro Calhau (ex-baixista dos Bunnyranch que é agora o saxofonista, trompetista e ocasionalmente vocalista), “para o bem e para o mal, ninguém esquece um concerto nosso”. Tanto geram aquele entusiasmo de sorriso estampado “não-percebo-o-que-se-passa-mas-gosto-muito” quanto incredulidade ou ódio visceral (garantem-nos ter um grupo de “odiadores” que os segue em todos os concertos).

Com a ida de Victor Torpedo para Londres, onde fundaria os Parkinsons, a banda entrou num hiato (“ele é o único que me consegue compreender musicalmente”, diz Carlos). Nove anos depois, ressurgiram. Tinham deixado como legado uma edição criada segundo o conceito “como roubar pessoas com edições discográficas” – o humor e o nonsense é-lhes intrínseco. “Tinha a capa toda bonita, a ficha técnica toda certinha, mas lá dentro a música era do Mark Kozelek ou do Pirilampo Mágico. Nunca mais esqueci uma pequena notícia no Blitz que nos apresentava ‘é o projecto de Coimbra tal e tal’ e depois lia-se ‘e a música contém um longo sampler de Jon Secada’”.

Nesta segunda vida, regressaram em formato quinteto: Carlos Dias, Victor Torpedo, Pedro Calhau, Pedro Chau, baixista dos Parkinsons, na bateria, e Augusto Cardoso nas teclas. Os fundamentos da banda não mudaram. “Quando convidei o Calhau para tocar bateria teve o desplante de perguntar quando era o ensaio. O Victor disse logo: ‘Ainda vai ser despedido antes do primeiro concerto’”. Continuam sem ensaiar, continuam a ser uma banda que sobe a palco para surpreender o público e a si mesma. A sequência de concertos vai dando alguma forma às canções e o objectivo, ver toda a gente a dançar, feliz, vai sendo alcançado – “fomos a Barcelos recentemente e era só pessoal do crust punk a dançar o nosso afro beat”.

E concertos a acumularem-se, lógica comunitária mantendo-se inalterada – a banda tem formação alargada flutuante e, na ZDB, estarão Bruno Simões, performer e homem do theremin, e João Pedro Viegas, no saxofone -, multiplicam-se também as edições. Esta noite, será lançado o vinil com uma gravação nos estúdios da RUC, em 1999. Sairá depois um single, posteriormente um novo álbum em cassete. E não parará por aqui. “Depois de 24 anos sem editar nada, a não ser um álbum falso, estamos a inundar”, diz Carlos.

Portanto, agora há concertos com regularidade e há discos a sair. Os Subway Riders saíram definitivamente da toca. O André, esse, manter-se-á o elemento mais misterioso de um colectivo misterioso. Quem é o André? É o baixista. Em 25 anos, os seus colegas de banda não o deixaram tocar num único concerto.