Dentro do movimento nacionalista hindu onde Narendra Modi se estreou

Com um dos seus membros na chefia do Governo, o Rashtriya Swayamsevak Sangh permite-se sonhar mais alto. “Queremos pessoas que subscrevam a filosofia nacionalista do RSS em todas as esferas da sociedade”.

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Todas as manhãs, Vellaichamy Pandiarajan reúne rapazes no parque do bairro para marchas de estilo militar, lutas com varas de bambu e jogos de luta na lama. Depois, dirige as orações para que, como hindus, tenham a força necessária para conduzir a sua nação à supremacia mundial.

Pandiarajan, com 24 anos, é um pracharak, ou activista, numa gigantesca organização nacionalista hindu obscura chamada Rashtriya Swayamsevak Sangh. O RSS está na mira agora por causa de um dos seus filhos mais famosos: Narendra Modi, o novo primeiro-ministro da Índia.

A campanha eleitoral de Modi foi focada no crescimento económico, não na religião. Mas a sua vitória fez nascer o receio de que o RSS exerça uma indevida influência na sua governação, potencialmente hostilizando os muçulmanos e outras minorias religiosas neste país maioritariamente hindu, mas oficialmente secular, de 1200 milhões de habitantes.

Os objectivos do RSS incluem a construção de um templo hindu no local disputado de Ayodhya, acabar com o estatuto especial da província de Caxemira, de maioria muçulmana, e criar uma lei civil comum que substitua as leis religiosas que dizem respeito ao casamento, heranças e divórcio.

Essas ideias tiveram o seu lugar no manifesto eleitoral do partido de Modi, o Bharatiya Janata Party, ou BJP, que pela primeira vez vai governar com maioria no Parlamento.

Os membros da RSS estão excitadíssimos por ter um dos seus no pináculo da política indiana, mas as suas ambições não se ficam por aqui.

“Queremos pessoas que subscrevam a filosofia nacionalista do RSS em todos os cargos, todos os departamentos do Governo, todas as indústrias, todas as esferas da sociedade”, diz Pandiarajan, licenciado em Software, magro, com uma voz suave e sorriso sempre pronto.

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Vellaichamy Pandiarajan dá instrução a um grupo de jovens em Tirumangalam Rama Lakshmi/Washington Post

O Rashtriya Swayamsevak Sangh, ou Corpo Nacional de Voluntários, foi formado em 1925 durante o combate pela independência indiana. O seu objectivo declarado era unir os hindus e restaurar o orgulho nacional depois de séculos de invasões muçulmanas e governação estrangeira. Ainda hoje, alguns dos seus adeptos acreditam que a partição do país em 1947, que criou o Paquistão, de maioria muçulmana, foi um erro.

Ao longo dos anos, a retórica dos seus membros fez eclodir tensões com as minorias e por vezes instigou à violência. Por duas vezes, o RSS foi banido, por breves períodos, incluindo em 1948, quando um nacionalista hindu assassinou o líder da luta pela independência, Mahatma Gandhi, devido ao seu apoio à criação do Paquistão. O RSS negou qualquer ligação ao assassino.

O RSS tem agora cerca de quatro milhões de membros. Para além disso, tem 39 grupos filiados, incluindo organizações religiosas, sociais, estudantis, laborais e de consumidores.

Modi aderiu ao grupo infantil do RSS na sua aldeia no estado ocidental de Gujarat, seguindo exercícios matinais como os de Pandiarajan. Em 1971, tornou-se pracharak. Comprometem-se em seguir um estilo de vida austero — não recebendo qualquer salário e cortando os laços familiares — e dedicam-se a espalhar a ideologia RSS.

Dezasseis anos mais tarde, Modi juntou-se ao BJP, que é um ramo político do RSS. Foi nomeado chefe do governo do Gujarat em 2001. No ano seguinte, os motins hindo-muçulmanos deixavam mais de mil mortos, a maioria muçulmanos; os críticos acusam Modi de não ter detido a violência com a rapidez necessária.

O Partido do Congresso (do centro), que durante décadas dominou a política indiana, tem vindo repetidamente a acusar o RSS de pôr em risco a frágil paz religiosa da Índia. Mas as próprias políticas do Congresso de apelar às minorias com benefícios como facilidades no acesso a crédito e bolsas de estudo enfureceu a crescente classe média indiana.

“É preciso alguém que fale também em nome dos interesses dos hindus”, diz Gaurav Yadav, um estudante de contabilidade de 27 anos e voluntário da RSS em Nova Deli.

Alguns receiam que as propostas do nacionalismo hindu sejam agora bem recebidas pelo Governo Modi, especialmente depois de os seus principais ministros terem sido recentemente vistos em reuniões com líderes do RSS.

O RSS e os seus afiliados “podem exercer pressão no Governo, ainda que por enquanto estas questões não sejam a prioridade imediata de Modi porque ele sabe que os seus eleitores esperam outras coisas de si — como o regresso do crescimento económico”, diz Christophe Jaffrelot, professor convidado da Universidade de Princeton, autor de um livro sobre o RSS.

Alguns grupos hindus ligados ao RSS afirmam que esperam que Modi aplique de forma rigorosa a lei contra as conversões religiosas por parte de grupos missionários cristãos e a lei contra a matança de vacas, que são veneradas pelos hindus. A aplicação de tais medidas tem sido ligeira.

Jaffrelot afirma que o Governo Modi vai “dar à Índia um espaço público muito mais hinduizado em termos de símbolos e discurso”. Mas muitos no BJP afirmam que os receios são infundados.

“O Governo vai focar-se na recuperação económica porque ela encerra em si a solução para os problemas de divisões sociais”, declara Nalin Kohli, um porta-voz do BJP.

A vida de Pandiarajan dá uma ideia do que foi a experiência de Modi enquanto pracharak, ou activista do RSS. Um dia depois de Modi tomar posse como primeiro-ministro, Pandiarajan estava em exercícios no terreno com adolescentes em Tirumangalam, uma pequena cidade no estado de Tamil Nadu, no Sul, preparando as comemorações do Dia do Reino Hindu, quando um líder hindu do século XVII derrotou os mongóis.

“É uma pena que os nossos livros de história sejam escritos como se nós fôssemos incivilizados antes de os colonizadores britânicos cá terem chegado”, diz Padiarajan.

Vive num quarto alugado cuja única mobília é uma cadeira de plástico e uma ventoinha. Dorme no chão. Reza a um mapa da Índia ao qual foi colada a imagem de uma divindade vestida de sari montada num leão, apresentada como a Mãe Índia.

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Um grupo de profissionais de IT num treino em Nova Deli Rama Lakshmi/Washington Post

Ele diz aos jovens voluntários que recusem as tradições ocidentais. No vosso aniversário, toquem nos pés dos vossos pais em vez de cortar um bolo, recomenda. “A nossa função é criar um movimento popular”, declara Pandiarajan. “O meu trabalho não está terminado só porque temos um pracharak ao leme.”

É verdade que o RSS tem milhares de activistas tradicionais como Pandiarajan, mas o grupo também está a mudar com os tempos. Tornou menos rígida a farda de calções de caqui, meias altas e camisa branca, e oferece horários flexíveis para os exercícios matinais.

Os membros do RSS costumavam evitar publicidade. Mas agora encontram-se com jornalistas e o grupo publicita o seu trabalho de assistência humanitária durante cheias e sismos.

Num encontro matinal recente de profissionais maioritariamente da área de IT, não havia varas de bambu e os membros faziam exercícios em calças de treino ou calções desportivos. Discutiam o número crescente de likes na página de fãs do RSS no Facebook e ofereciam-se para desenvolver uma aplicação para iPhone para a oração do RSS.

Depois, planearam as suas actividades, como o pedido para que os hindus doem as suas córneas depois de morrer.

Bharat Gupta, de 24 anos, é um profissional de IT e um novo voluntário do RSS. Diz que o grupo não é tão extremista como pensava inicialmente. “Há muitas ideias erradas sobre o RSS. Ou são baseadas na ignorânia ou em propaganda política”, afirma.

O RSS, aproveitando a “onda Modi”, tem crescido consistentemente. Em Outubro passado, duas mil pessoas aderiram ao grupo. Em Abril, houve 4800 novos membros.

Num recente encontro de adeptos, em Nova Deli, Rajiv Tuli, um dos seus membros, disse aos participantes: “Hoje, podemos odiar o RSS, podemos adorar o RSS, mas não podemos ignorar o RSS.”

Exclusivo PÚBLICO / Washington Post     

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Pandiarajan apela aos jovens que recusem todas as influências ocidentais Rama Lakshmi/Washington Post