Manaus é uma das grandes “fábricas” do Brasil, para bem e para o mal
Todos os televisores e boa parte dos smartphones e motos produzidos no país saem da zona franca de Manaus. Há muitas queixas sobre as condições de trabalho.
Outras dezenas de trabalhadores, muitos deles jovens, entram em autocarros da empresa, para regressarem a casa. Esta troca de turno dá uma ideia da dimensão da fábrica da Samsung. É uma das maiores do pólo industrial de Manaus, empregando 7000 trabalhadores, e a segunda maior da marca sul-coreana em todo o mundo.
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Outras dezenas de trabalhadores, muitos deles jovens, entram em autocarros da empresa, para regressarem a casa. Esta troca de turno dá uma ideia da dimensão da fábrica da Samsung. É uma das maiores do pólo industrial de Manaus, empregando 7000 trabalhadores, e a segunda maior da marca sul-coreana em todo o mundo.
Após uma revista, os repórteres do PÚBLICO entraram até à zona administrativa da fábrica, onde dezenas de funcionários trabalhavam afincadamente à frente de computadores. Mas, logo a seguir, a assessora de imprensa informou que não era possível visitar a fábrica. O segredo rodeia a produção nesta unidade da Samsung, embora se saiba que daqui saem televisores, smartphones e câmaras fotográficas, até porque tem havido denúncias sobre as condições de trabalho nesta fábrica.
O Ministério Público brasileiro está a investigar queixas que vão desde insultos aos funcionários até jornadas excessivas. Em 2013, alguns trabalhadores queixaram-se de ficarem dez horas de pé, de verificarem 2000 telemóveis por dia e de embalarem 2700 aparelhos por dia. Tudo questões a que a Samsung não responde.
A Samsung é uma das cerca de 600 fábricas do pólo industrial de Manaus. A cidade onde hoje Portugal defronta dos Estados Unidos é actualmente algo que tem pouco a ver com a ideia que se poderia ter de uma cidade no meio da Amazónia. Cresceu muito, tendo até o sexto PIB mais elevado do Brasil, segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, relativos a 2011.
Muita dessa pujança económica vem da zona franca, onde, além da Samsung, estão instaladas marcas como a Nokia, LG, Pioneer, Panasonic, Honda e Yamaha. A zona franca emprega directamente cerca de 120 mil pessoas e, se juntarmos os trabalhadores indirectos, o número sobe para 600 mil pessoas (quase um terço da população de Manaus).
Criada em 1957 e colocada em prática dez anos depois, os incentivos fiscais da zona franca estão em vigor até 2023 e a Presidente Dilma Rousseff já propôs a extensão até 2073, debaixo da desconfiança da União Europeia, que se queixa de a zona franca prejudicar as exportações para o Brasil.
A Suframa, entidade que gere a zona franca, destaca a importância do pólo industrial no emprego da região e também nas receitas para o Estado do Amazonas. A facturação das empresas atingiu os 83.280 milhões de reais (27 mil milhões de euros) em 2013 — a gestora não revela qual é o volume de impostos pago, afirmando apenas que os benefícios são quase todos reduções de taxas e não isenções.
O sector electrotécnico é o mais importante, representando quase 35% da facturação, seguido pelo sector das motos (16,70%) e pelo químico (12,26%). Os números da produção são impressionantes: no ano passado, foram produzidos 14 milhões de televisores na zona franca, 145 milhões de CD’s e DVD’s, 23 milhões de telemóveis, 10 milhões de relógios, 4 milhões de microondas, 2,3 milhões de máquinas fotográficas digitais e 1,6 milhões de motos. Todos os telemóveis e rádios produzidos no Brasil saem daqui, acontecendo o mesmo com quase todas as motas.
“A cidade cresceu exponencialmente. Tem emprego, mas com salários medíocres”, critica o escritor Milton Hatoum, desiludido com a forma como a sua cidade evoluiu. Há algo, no entanto, em que os críticos e os defensores da zona franca coincidem, usando praticamente as mesmas palavras: a zona franca salvou a floresta, porque oferece uma alternativa económica que não passa pelo corte de árvores.