Empresa de golfe de empreendimento de luxo de Óbidos declarada insolvente
Problemas financeiros agravam situação do Golfe Bom Sucesso, um projecto que apontava para 150 milhões de euros de investimento. Construção de hotel de cinco estrelas parada há seis meses.
No entanto, os 20 trabalhadores afectos a esta empresa continuam activos e a própria operação de golfe – no qual está ancorado o projecto – mantêm-se em funcionamento. Maria de Meireles, administradora do empreendimento, disse ao PÚBLICO que este tem assegurado a prática daquele desporto, no que foi confirmado por um dos trabalhadores da empresa, que, no entanto, estranha como é que, sendo insolvente, esta se mantém em actividade.
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No entanto, os 20 trabalhadores afectos a esta empresa continuam activos e a própria operação de golfe – no qual está ancorado o projecto – mantêm-se em funcionamento. Maria de Meireles, administradora do empreendimento, disse ao PÚBLICO que este tem assegurado a prática daquele desporto, no que foi confirmado por um dos trabalhadores da empresa, que, no entanto, estranha como é que, sendo insolvente, esta se mantém em actividade.
A mesma responsável não quis prestar mais declarações e limitou-se a repetir várias vezes que a parte imobiliária e turística do resort continuam a funcionar.
Os trabalhadores dizem que têm dois meses de salários em atraso e que estes se têm processado com pagamentos dispersos de 150 a 200 euros, o que releva as dificuldade de tesouraria da empresa de golfe. Têm ainda a haver o subsídio de Natal e os subsídios de refeição desde há cinco meses.
Tendo o BES como principal financiador, e um elemento designado pelo banco no conselho de administração, o Bom Sucesso – Design Resort, Leisure & Golf tem tido dificuldade em afirmar-se num contexto de crise, depois de um período de grande euforia aquando do seu lançamento há 14 anos. Na altura deu nas vistas a originalidade do projecto: um complexo que chamou a si arquitectos de renome nacional e mundial para desenharem os conjuntos residenciais espalhados em torno do campo de golfe.
Em 2006, Paulo Graça Moura, então administrador do empreendimento, dizia que esta era “indiscutivelmente o melhor resort da Europa” graças ao seu conceito assente na arquitectura contemporânea, e que este foi “avidamente absorvido” pelos mercados internacionais pois 95% dos compradores de lotes eram estrangeiros, provenientes sobretudo de Inglaterra, Irlanda, Dinamarca, Holanda e Espanha. As moradias mais baratas, que chegaram a valer 500 mil euros estão, porém, hoje a metade desse valor.
Anunciado como um investimento de 150 milhões de euros, o complexo iniciou uma segunda fase nesse ano com a construção de 241 moradias assinadas por arquitectos conceituados. As autoridades acarinharam-no: foi considerado PIN (Projecto de Interesse Nacional) e a Direcção-geral do Turismo atribuiu-lhe a classificação de cinco estrelas.
Igualmente de cinco estrelas deveria ser o hotel Hilton que começou a ser construído em 2010 e que, segundo o site do próprio resort, “tem data de abertura prevista para 2013”. Contudo, as obras estão paradas há seis meses. Além da recessão, também a não concretização do projecto de abertura ao tráfego civil do aeroporto de Monte Real, contribuiu para pôr em causa a sua viabilidade.
Desenhado pelo arquitecto Souto Moura, o Hotel Hilton Bom Sucesso Óbidos está orçado em 27 milhões de euros, dos quais 13,6 milhões financiados por fundos comunitários.
O Bom Sucesso é um dos maiores resorts da zona sul da lagoa de Óbidos, mas não é o único. O primeiro a ser construído foi o Praia d'El Rey, que possui o Marriott (o único cinco estrelas da costa Oeste) e está também ancorado na prática do golfe. Por já estar em fase mais adiantada, resistiu melhor à crise do imobiliário. Em projecto tem uma segunda fase, num terreno contíguo, à beira mar, designado Falésia del Rey.
Já outros dois resorts - o Royal Óbidos e as Quintas de Óbidos - tiveram que rever a sua calendarização devido à crise. O primeiro já tem prática de golfe e está a construir um hotel boutique e o segundo tem também golfe e turismo equestre. A componente imobiliária é que sofreu o maior revés.
Também na região Oeste, mas no concelho de Torres Vedras, o resort Campo Real chegou mesmo a ser declarado insolvente, mas acabou por ter um final feliz. Ancorado igualmente no golfe, no turismo residencial e num hotel de cinco estrelas, os trabalhadores tiveram ali um papel decisivo quando, há quatro anos, insistiram em manter a funcionar a unidade hoteleira e o golfe, apesar dos salários em atraso.
A solução encontrada passou pela venda daquele activo, então tóxico, do BCP à Discovery, um fundo do próprio BCP que, por sua vez, cedeu a exploração do hotel e do golfe a uma cadeia norte-americana de prestígio - a Dolce.
Apesar de explorada pela Dolce, o hotel continua a pertencer à Discovery, enquanto o golfe, curiosamente, é propriedade dos contribuintes portugueses, pois pertence à Turismo de Portugal Fundos.
Já a parte imobiliária foi resolvida com os proprietários a organizarem-se em torno de um condomínio. No seu conjunto, o Campo Real conseguiu resistir à crise.