Francisco foi à Calábria chamar “excomungados” aos mafiosos
Papa visitou região controlada pela poderosa 'Ndrangheta
A mensagem era para ser ouvida em toda a Itália, mas em particular pela 'Ndrangheta, a temida máfia calabresa, já que foi enviada este sábado a partir de uma missa celebrada em Cassano, no final de uma visita de nove horas à Clábria. Os analistas consideram que este foi o ataque mais forte do Vaticano contra o crime organizado dos últimos anos. Antes, em 1993, o Papa João Paulo II tinha criticado fortemente a máfia siciliana.
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A mensagem era para ser ouvida em toda a Itália, mas em particular pela 'Ndrangheta, a temida máfia calabresa, já que foi enviada este sábado a partir de uma missa celebrada em Cassano, no final de uma visita de nove horas à Clábria. Os analistas consideram que este foi o ataque mais forte do Vaticano contra o crime organizado dos últimos anos. Antes, em 1993, o Papa João Paulo II tinha criticado fortemente a máfia siciliana.
Horas antes, Francisco já tinha denunciado o sofrimento das crianças que são vítimas da máfia. “Jamais uma criança deve ser submetida a tais sofrimentos”, disse Francisco no interior do centro de detenção de Castrovillari, perto de Cassano allo Jonio, falando directamente ao pai e às duas avós do pequeno Nicola (“Coco”) Campolongo, que foi morto aos três anos, vítima de um ajuste de contas de mafiosos que deixou a Itália profundamente comovida e indignada.
O corpo de “Coco” foi encontrado carbonizado juntamente com o do avô no interior de um carro incendiado. O menino tinha sido entregue aos cuidados do avô, depois dos seus pais terem sido condenados a penas de prisão por tráfico de droga, actividade ilícita a que Giuseppe Iannicelli (o avô) também se dedicava.
Durante uma cerimónia carregada de emoção, frente a um grupo de 200 homens e mulheres que estão presos, que fez questão de cumprimentar um a um, Francisco disse: “Eu também, eu cometo falhas e devo fazer penitência.” Muitos na assistência tinham lágrimas nos olhos, refere a reportagem da AFP.
“Queria exprimir a proximidade do Papa e da Igreja a todos os homens e mulheres que se encontram na prisão, em todas as partes do mundo”, acrescentou o pontífice que, em Buenos Aires, quando era bispo, visitou várias prisões e, em Roma, lavou e beijou os pés de jovens detidos, pouco depois da sua eleição em 2013.
Francisco centrou a sua mensagem na reinserção na sociedade, para que a detenção não seja apenas “um instrumento de punição e de retaliação social”. O Papa convidou os detidos a “reencontrarem Deus” na prisão. Deus é “um mestre de reinserção, que pega na nossa mão e nos acompanha na comunidade social”, garantiu.
Em Cassano, onde foi recebido em festa por uma multidão, Francisco também visitou um hospital onde estão internados doentes terminais, antes de se encontrar com padres da região na catedral. A estes, Francisco pediu para não serem apenas “empregados” da Igreja, mas sim “canais abertos e generosos” para as suas congregações.
A 'Ndrangheta calabresa, que controla parte do tráfico de cocaína que vem da América do Sul, é uma das mais ricas e diversificadas máfias, com negócios no norte de Itália e na Europa.
Herdeiros de uma velha cultura de omertà (honra), o conluio entre membros do clero e as máfias ainda é uma realidade no sul de Itália, mesmo que os papas e a Igreja tenham claramente condenado esta promiscuidade e que as associações católicas se desdobrem em iniciativas contra o crime organizado.
Esta visita à Calábria é a quarta que o Papa faz em Itália, fora da diocese de Roma. O ano passado foi a Cagliari (Sardenha), onde denunciou o desemprego dos jovens, a Assis (Umbria), onde celebrou São Franciso de Assis, e à ilha de Lampedusa, onde pregou contra “a mundialização da indiferença” e apelou ao respeito pelos direitos dos imigrantes que chegam à Europa. Em Cassano, Francisco quis denunciar a desigualdade entre a máfia que prospera graças ao crime e à violência impiedosa e uma população que está entre as mais pobres de Itália.