Cessar-fogo não foi cumprido e os combates prosseguem no Leste da Ucrânia
Putin coloca tropas russas em "estado de alerta" e diz que tem que haver um compromisso político para o Leste da Ucrânia.
“Já tinhamos ouvido tiros ontem, voltámos a ouvi-los a partir das quatro da manhã. Não há cessar-fogo”, disse à AFP Lila Ivanovna, que está em Andriivka, uma vila próxima de Slaviansk, um dos bastiões dos separatistas pró-Rússia.
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“Já tinhamos ouvido tiros ontem, voltámos a ouvi-los a partir das quatro da manhã. Não há cessar-fogo”, disse à AFP Lila Ivanovna, que está em Andriivka, uma vila próxima de Slaviansk, um dos bastiões dos separatistas pró-Rússia.
A artilharia ucraniana está posicionada numa colina junto de Slaviansk. Na sexta-feira, o Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, anunciou que as forças governamentais iriam cessar os ataques, um primeiro passo para a aplicação de um plano de paz. Mas este plano foi rejeitado pelos separatistas, que, em conformidade, não reconheceram o cessar-fogo. Poroshenko deixara claro que se as forças governamentais fossem atacadas responderiam, pelo que o conflito nunca parou no Leste da Ucrânia.
Perto das 22h de sexta-feira, três soldados foram feridos num ataque dos separatistas junto de Donetsk, outro bastião rebelde. No segundo ataque, os separatistas tentaram conquistar um posto de controlo, mas sem sucesso. O Ministério da Defesa Ucaniano fez saber que houve mais dois ataques contra uma unidade de mísseis de Andriivka.
Enquanto no terreno tudo permanece igual – apenas o número de baixas vai aumentado; mortos são 356 desde o início dos combates, em Abril –, noutras frentes deste conflito assiste-se a uma repetição de cenário.
O Governo de Moscovo anunciou que, mais uma vez, irá deslocar um forte contingente para junto da fronteira com a Ucrânia no quadro de “manobras militares” que vai realizar na região. O chefe do Estado-Maior do Exército russo, Valeri Guerasimov, disse que este exercício militar vai envolver 65 mil homens – de bases nos Urales e na Sibéria ocidental –, 180 aviões, cerca de 60 helicópteros e 5500 unidades de equipamento militar.
Em Maio, uma movimentação de tropas justificada também com a realização de exercícios militares por Moscovo deu origem a uma guerra de palavras entre os russos e a NATO – o tom tornou-se tão belicista que os analistas escreveram que não se assistia a nada assim desde a Guerra Fria. Houve desmentidos por parte da Rússia, divulgação de imagens de satélite por parte da NATO e o Presidente russo, Vladimir Putin, acabaria por anunciar o fim das manobras militares e o regresso das tropas aos quartéis de origem.
Agora, e a acompanhar este anunciado movimento de homens e armas, o Presidente russo ordenou que todas as forças militares da Região Centro da Rússia entrassem em “estado de alerta”. O anúncio destas novas “manobras” já motivou um primeiro comentário por parte do Governo americano, que fez saber que não permitirá que tropas russas entrem em território ucraniano. Mas o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, em declarações citadas pela agência RIA-Novosti, como que as justificou: serão uma resposta à opção do Governo de Kiev, que “continua a aumentar a sua capacidade militar” no Leste da Ucrânia.
A Rússia – tal como os separatistas – considerou que o plano de paz de Poroshenko não é sério. Falando aos jornalistas na Arábia Saudita, Lavrov disse que o plano de Poroshenko “não tem o mais essencial: uma oferta de diálogo”. O Presidente da Ucrânia rejeitou qualquer negociação com representantes do Leste ligados à revolta armada, chamando-lhes “pessoas com sangue nas mãos”. Anunciou o cessar-fogo para criar tempo para os separatistas entregarem as armas.
Horas depois, foi o próprio Putin quem fez comentários idênticos. Disse - através de um comunicado do Kremlin - que o plano de paz de Poroshenko não deve ter "um carácter de ultimato" e que será "irrealista" se não abrir um caminho de diálogo.
"O plano proposto, se não for seguido de uma abertura de diálogo, não será viável ou realista. A possibilidade que é oferecida com o fim da operação militar deve ser aproveitada para se iniciar um diálogo construtivo para se encontrar um compromisso político entre as partes beligerantes no Leste da Ucrânia".