Museu Mauritshuis de Haia reabre mais célebre do que quando fechou

Quando encerrou para obras, em 2012, o museu Mauritshuis, em Haia, recebia 200 mil visitantes por ano. Reabre dia 27 e espera agora atrair multidões. A "culpa" é dos best-sellers centrados na Rapariga de Vermeer e no Pintassilgo de Fabritius.

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Frequentado por admiradores da idade de ouro da pintura flamenga, a dos mestres seiscentistas Rembrandt, Vermeer e companhia, o Mauritshuis foi inaugurado em 1822 para mostrar as colecções dos gabinetes de pinturas e raridades da coroa holandesa. Privatizado em 1995, a fundação que agora o gere decidiu expandi-lo e, enquanto a casa sofria obras, emprestou uma centena de peças para exposições em Itália, nos Estados Unidos e no Japão. Foram vistas por mais de dois milhões de pessoas, e tudo indica que os principais responsáveis por esta súbita celebridade são, por assim dizer, uma rapariga e um pintassilgo.

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Frequentado por admiradores da idade de ouro da pintura flamenga, a dos mestres seiscentistas Rembrandt, Vermeer e companhia, o Mauritshuis foi inaugurado em 1822 para mostrar as colecções dos gabinetes de pinturas e raridades da coroa holandesa. Privatizado em 1995, a fundação que agora o gere decidiu expandi-lo e, enquanto a casa sofria obras, emprestou uma centena de peças para exposições em Itália, nos Estados Unidos e no Japão. Foram vistas por mais de dois milhões de pessoas, e tudo indica que os principais responsáveis por esta súbita celebridade são, por assim dizer, uma rapariga e um pintassilgo.

Os americanos e japoneses que fizeram bicha para admirar as obras da colecção do Mauritshuis não eram necessariamente fervorosos admiradores da arte flamenga, ainda que obras-primas como A Lição de Anatomia do Dr. Tulp, que Rembrandt pintou com apenas 26 anos, ou a Vista de Delft, de Vermeer, atraiam naturalmente muitos visitantes onde quer que sejam mostradas. Mas Carol Vogel, que noticiou a próxima reabertura do Mauritshuis para o jornal New York Times, está convencida de que boa parte dos americanos que correram a ir ver as jóias da colecção de pintura do museu holandês estavam sobretudo interessados em duas telas: a Rapariga Com Brinco de Pérola, de Johannes Vermeer, que é hoje uma das mais famosas obras-primas da arte mundial, e um pequeno óleo bastante menos conhecido: Het puttertjte (O pintassilgo), que Carel Fabritius (1622-1654), discípulo de Rembrandt e mestre de Vermeer, pintou no último ano da sua curta vida.

Julga-se que Vermeer tenha realizado a sua Rapariga Com Brinco de Pérola, à qual já chamaram a Mona Lisa holandesa, por volta de 1665, cerca de dez anos após a morte de Fabritius. Mas para lá das afinidades próprias de duas obras produzidas num mesmo contexto histórico e artístico, e de terem ambas dimensões relativamente modestas (a rapariga de Vermeer mede 44,5 por 39 cm e o pintassilgo de Fabritius é ainda menor: cerca de 33 por 22,5 cm), as duas pinturas não têm muito em comum.

E se o fascínio pela Rapariga Com Brinco de Pérola, há muito considerada uma das obras-primas de Vermeer, não surpreende, o recente e inusitado interesse despertado pelo Pintassilgo de Fabritius é bastante mais estranho, tanto mais que, das poucas pinturas do artista que chegaram até nós, nunca foi sequer das mais conhecidas ou apreciadas. O pintor morreu na violentíssima explosão do paiol de Delft, que destruiu também o seu atelier e a maior parte das suas criações.  

Mas as duas pinturas têm isto em comum: ambas deram pretexto a dois romances de sucesso, um deles já adaptado ao cinema com não menos êxito. Tracy Chevalier publicou em 1999 um romance histórico centrado na tela de Vermeer, no qual a musa do pintor é uma ficcionada servente chamada Griet, que Scarlett Johansson depois interpretará no filme Rapariga Com Brinco de Pérola, de Peter Webber.   

Já a pintura de Fabritius está no epicentro da intrincada intriga do romance The Goldfinch, de Donna Tartt, que depois de dois best-sellers, A História Secreta (1992) e O Pequeno Amigo (2002) – ambos publicados em Portugal pela D. Quixote –, esteve 11 anos a escrever este seu terceiro livro. Theo, o protagonista, é um adolescente que vê a sua mãe morrer, vítima de um atentado terrorista no Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque, onde esta o levara a ver uma exposição de obras-primas da pintura holandesa. Num momento de pânico – e por razões que não vêm ao caso –, Theo rouba O Pintassilgo de Fabritius, que era a pintura favorita da sua mãe.  

A autora do artigo do New York Times acha que o enorme sucesso de vendas do livro de Tartt transformou a pintura de Fabritius na grande atracção desta digressão de obras do Mauritshuis, justificando que O Pintassilgo fosse mais procurado pelos visitantes do que telas de mestres tão célebres como Rembrandt ou Rubens, Frans Hals ou Jan Steen. E os responsáveis do museu de Haia parecem partilhar a sua convicção, uma vez que já mudaram o seu Fabritius (o único que possuem) da parede lateral de uma escadaria, onde sempre estivera, para um lugar de honra na sala Jan Steen, onde passará a figurar isolado, num generoso espaço entre duas janelas.

Chamado Mauritshuis por ter sido efectivamente a casa (huis) de Johan Murits, príncipe de Nassau-Siegen, o museu está instalado num edifício que data da primeira metade do século XVII, mas que foi integralmente reconstruído, após um incêndio, no início do século XVIII. Comprado pelo Estado em 1820, o edifício é ainda hoje património público, mas o museu, dirigido por Emilie Gordenker, é hoje administrado por uma fundação privada.

A intervenção que sofreu nestes últimos anos destinou-se a expandir o museu, ligando-o, através de uma nova zona subterrânea, a um edifício fronteiro, em estilo art deco, que passa agora a integrar o Mauritshuis. Uma obra que custou cerca de 30 milhões de euros e que pouco alterou a casa original, embora a tenha dotado de alguns novos espaços, incluindo um auditório, um café e uma loja.