Suárez, o vampiro do Uruguai que tirou sangue à selecção inglesa
Avançado do Liverpool é criticado em Inglaterra porque já mordeu adversários e foi suspenso e multado por insultos racistas. Mas afirma que os dois golos que marcou contra a selecção inglesa serviram para calar os críticos.
Não era para menos – Suárez, o temível avançado do Liverpool, acabara de marcar os dois golos da vitória sobre a selecção inglesa no estádio Arena Corinthians, em São Paulo, mas na sua cabeça passava um filme ainda mais electrizante. E, mais uma vez, não era para menos – Suárez acabara de calar todos os ingleses que já o tinham atirado para o canto dos derrotados, com críticas à sua condição física e ao seu polémico comportamento em campo, que oscila entre a genialidade, a simulação, a violência e as provocações racistas.
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Não era para menos – Suárez, o temível avançado do Liverpool, acabara de marcar os dois golos da vitória sobre a selecção inglesa no estádio Arena Corinthians, em São Paulo, mas na sua cabeça passava um filme ainda mais electrizante. E, mais uma vez, não era para menos – Suárez acabara de calar todos os ingleses que já o tinham atirado para o canto dos derrotados, com críticas à sua condição física e ao seu polémico comportamento em campo, que oscila entre a genialidade, a simulação, a violência e as provocações racistas.
No final do jogo contra a selecção inglesa, Luis Suárez não conseguiu esconder que ansiava por este momento de vingança, a que ele chamou sonho: "Sonhei com isto. Estou a apreciar este momento, por tudo o que sofri, por todas as críticas de que fui alvo."
Era muito mais do que um jogo, como se percebeu pelas palavras que se seguiram: "Antes do jogo, muitas pessoas em Inglaterra riram-se da minha atitude nos últimos anos. É um momento muito bom para mim. Quero saber o que é que eles pensam agora."
A mensagem era dirigida a muitos adeptos de futebol ingleses, excepção feita aos seus fiéis seguidores do Liverpool, que já lhe perdoaram muitas excentricidades. Mas os outros já responderam, através das redes sociais, e muitos chegaram a fazer piadas sobre uma possível expulsão do uruguaio de Inglaterra.
Racismo, mordidelas e mergulhos
Suárez chegou ao Mundial 2014 com o rótulo de herói em Liverpool, ao fim de uma época em que o seu clube esteve perto de quebrar um jejum de 24 anos sem ganhar o campeonato inglês.
Apesar de ter terminado atrás do Manchester City, o avançado uruguaio marcou 31 golos em 33 jogos, foi considerado o melhor jogador da liga inglesa e dividiu a Bota de Ouro com Cristiano Ronaldo.
Mas a sua relação com os adeptos e com os jornalistas de desporto ingleses tem sido atribulada desde que pôs os pés em solo britânico, na época de 2010-2011, proveniente dos holandeses do Ajax.
De tempos a tempos, o futebol revela ao mundo personalidades complexas, que desejam mais do que trabalhar muito durante a semana para conquistar a confiança do "mister", mas o caso de Luís Suárez é ainda mais difícil de analisar.
Se muito do que faz em campo pode ser encarado como um saudável desafio às figuras de autoridade, a sua carreira ficará para sempre manchada pelo episódio em que despejou uma dose de racismo em cima do defesa Patrice Evra, do Manchester United. Quase três anos depois do caso, Suárez continua a afirmar que não é racista, mas a verdade é que foi suspenso por oito jogos e multado em 40.000 libras (50.000 euros) por ter feito "referência à origem étnica e/ou à cor e/ou à raça de Patrice Evra", como escreveu a federação inglesa de futebol no seu relatório final. Mal regressou à competição, o uruguaio deixou Evra de mão estendida antes do início de um novo jogo entre o Liverpool e o Manchester United, o que não ajudou a melhorar a sua reputação.
O avançado uruguaio pode negar as acusações de racismo – só ele sabe o que lhe vai na cabeça –, mas é mais difícil negar que tem uma certa inclinação para morder adversários. Aos 27 anos de idade, Luis Suárez já foi filmado a morder dois deles: o médio holandês Otman Bakkal, no ombro (sete jogos de suspensão); e o sérvio Branislav Ivanovic, no braço (dez jogos de suspensão). Uma fixação que lhe valeu alcunhas como "Hannibal Lecter", "vampiro" ou "zombie".
Outra das acusações que lhe fazem em Inglaterra é aquela que só os ingleses acreditam ser exclusiva de cidadãos de outros países – a de que não perde uma oportunidade para se atirar ao chão mal sente um toque de um adversário. É verdade, e também há imagens que o comprovam, mas Luis Suárez aproveita para provocar ainda mais os seus adversários quando é acusado de "mergulhar".
Em Setembro de 2012, num escaldante dérbi Everton-Liverpool, o uruguaio vingou-se do então treinador da equipa adversária, David Moyes, após marcar um dos golos da sua equipa. Depois de uma semana em que Moyes não se cansou de o acusar de se atirar ao chão, o uruguaio foi a correr até ao banco do treinador para festejar, lançando-se para o chão em grande estilo.
Apesar de todas as polémicas, a exibição do avançado uruguaio contra a Inglaterra, na quinta-feira, deu razão ao antigo internacional inglês Michael Owen, que se desfizera em elogios num texto escrito para o The Telegraph horas antes, e que se revelou premonitório: "Não faz sentido tentar perceber como é que se pode travar um jogador como este. Se ele jogar como costuma jogar, Suárez vai produzir pelo menos um momento de habilidade extraordinária, tal como aconteceu em praticamente todos os jogos em que o vi jogar nos últimos dois anos."
Para infelicidade dos ingleses, Suárez produziu não um, mas dois momentos de habilidade extraordinária, e deixou a selecção inglesa mais perto do avião que a vai levar de regresso a casa.