Ana Rita Ramos vai pintar a fachada de uma fábrica holandesa à distância

"Sem nada para fazer", a jovem designer portuguesa venceu um concurso internacional para o desenho da fachada de uma fábrica na Holanda

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Ana Rita Ramos começou o percurso académico pelo design de interiores, mas nos ciclos subsequentes começou a voltar-se para o design gráfico. Após entregar este ano a tese de doutoramento, viu-se com demasiado tempo livre e "sem nada para fazer", uma situação comum em profissionais da área.

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Ana Rita Ramos começou o percurso académico pelo design de interiores, mas nos ciclos subsequentes começou a voltar-se para o design gráfico. Após entregar este ano a tese de doutoramento, viu-se com demasiado tempo livre e "sem nada para fazer", uma situação comum em profissionais da área.

Foi nessa circunstância que soube de um concurso para ilustrar a fachada de uma fábrica de materiais de construção na Holanda. Ana Rita afirma que "pensava que este concurso estivesse mais voltado para arquitectos" e que "mais do que ter a ambição de vencer, pensei nisto como uma oportunidade de ampliar o meu portfolio de design gráfico".

A sua proposta, "There is a factory", acabou por arrecadar o prémio de 1500 euros, destacando o júri o "estilo clássico mas intemporal" do desenho e a "atitude aberta" que a empresa quer fazer passar ao exterior.

Ana Rita explica que a investigação "de campo" foi feita através do Street View do Google. "Apercebi-me que a fábrica ficava perto da fronteira com a Alemanha, e que vista de alguns ângulos estava emoldurada por arvoredo", lembra. A partir daí, decidiu que seria interessante fazer do desenho uma espécie de postal turístico da Holanda com "uma certa qualidade imaginária".

Arquitectura viral

Esta intervenção não se encontra demasiado distante do tema de doutoramento de Ana Rita: a Arquitectura Viral como forma de reabilitação. E o que é a arquitectura viral? Em conversa ao P3, Ana Rita Ramos defende "injecções de contemporaneidade" em edifícios envelhecidos como o melhor caminho para lhes dar vida nova, ao invés da normal "tabula rasa" descaracterizante. "Divisões como os antigos quartos de criados já não servem a sua função original", continua a designer, "é preciso traduzir estas pré-existências para usos correntes". Assim, com este projecto a designer procurava transformar a fachada da fábrica numa espécie de bilhete de identidade da marca.

Apesar do projecto premiado se tratar de uma obra à superfície de um edifício, Ana Rita Ramos defende um novo tipo de relacionamento entre arquitectos e designers de interior: "Os arquitectos menosprezam os designers de interior, tratam-nos quase como decoradores... quando na verdade julgo que trabalhando juntos se poderiam expandir os limites da acção da arquitectura a partir do interior". A designer fala numa "arquitectura do habitar" como uma forma menos superficial de pensar em espaços interiores.

Texto editado por Luís Octávio Costa