Hamburgo, estação central

Os únicos alemães que convivem com os imigrantes nestes lugares relegados são os bêbados e os loucos, abandonados ao seu exílio interior

Foto
Antoon Kuper/Flickr

Em cidades alemãs como Essen, Bremen ou Hamburgo, as estações centrais de comboios funcionam como um enorme espaço público de imigrantes pobres, em geral africanos e asiáticos. São por isso lugares animados, com intenso movimento que se junta ao tráfego habitual das partidas e chegadas. Mas estes imigrantes muito pouco usufruem da ferrovia, porque os preços das viagens são caros e nada de particularmente animador os esperaria no destino. Não deixa de ser paradoxal, e ao mesmo tempo um sinal agudo das desigualdades nestas cidades centrais europeias, que o modelo da hiper-mobilidade conviva lado a lado com os “prisioneiros” das praças da estação.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Em cidades alemãs como Essen, Bremen ou Hamburgo, as estações centrais de comboios funcionam como um enorme espaço público de imigrantes pobres, em geral africanos e asiáticos. São por isso lugares animados, com intenso movimento que se junta ao tráfego habitual das partidas e chegadas. Mas estes imigrantes muito pouco usufruem da ferrovia, porque os preços das viagens são caros e nada de particularmente animador os esperaria no destino. Não deixa de ser paradoxal, e ao mesmo tempo um sinal agudo das desigualdades nestas cidades centrais europeias, que o modelo da hiper-mobilidade conviva lado a lado com os “prisioneiros” das praças da estação.

Alguns tentam a sua sorte vendendo bugigangas, ou água, ou droga ou álcool, aos viajantes apressados. Outros, simplesmente esperam, isolados. Muitos tagarelam em voz alta, junto ao fast food de onde exala o aroma gasto da cozinha, porque conhecem o empregado ou então encostados às portas das lojas de comunicação que anunciam internet barata e cartões de telefone para o Senegal, o Togo, a Malásia ou a índia. Por vezes, particularmente aos Domingos à tarde ou ao início da noite, improvisam um batuque e bailam. Em cidades de indumentária provinciana, como Bremen ou Essen, as estações podem então ser o lugar mais divertido para ver o tempo passar. Há algo de esquecimento na irresistível festa que os junta num torpor ritmado, uma evocação a um mesmo tempo melancólica e alegre da terá de ninguém onde habitam.

No microcosmo da estação central, a Europa segrega. Os alemães “de gema” e outros europeus deslocam-se nos tempos livres para os bares da moda do centro gentrificado. Os únicos alemães que convivem com os imigrantes nestes lugares relegados são os bêbados e os loucos, abandonados ao seu exílio interior.

Madrugada fora, desconhecendo o caminho de regresso a casa, as suas vozes altas e animadas vencem o eco das ruas amargas e desertas, erguendo-se na noite como estrelas para forasteiros da mesma condição.