Presidente do Quénia diz que ataques não são da responsabilidade da Al-Shabaab

Milícia islâmica da Somália reivindicou novo ataque na costa, mas o Presidente Kenyatta recusa a autoria.

Foto
A presença de soldados na região não impediu novo ataque Simon Maina/AFP

“Esta foi uma operação de violência étnica contra uma comunidade queniana, não foi um ataque terrorista do Al-Shabaab”, garantiu o Presidente, referindo-se às milícias islamistas da Somália, que no entanto assumiram a responsabilidade pela acção.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“Esta foi uma operação de violência étnica contra uma comunidade queniana, não foi um ataque terrorista do Al-Shabaab”, garantiu o Presidente, referindo-se às milícias islamistas da Somália, que no entanto assumiram a responsabilidade pela acção.

O atentado desta terça-feira foi a poucos quilómetros da cidade onde, no domingo, meia centena de pessoas também foram mortas num raide violento. As autoridades locais adiantam que os atacantes, aparentemente do mesmo grupo que no domingo à noite entrou em Mpeketoni, na costa do Índico, chegaram à aldeia vizinha de Poromoko às primeiras horas desta terça-feira. Incendiaram várias casas e, tal como no primeiro ataque, dispararam apenas contra homens – segundo várias testemunhas citadas pelas agências internacionais, foram atingidos indivíduos que não sabiam falar somali ou recitar passagens do Corão.

Mas, numa comunicação ao país, Kenyatta referiu-se aos dois ataques consecutivos como uma operação “bem orquestrada”, “cuidadosamente planeada” e com “motivações políticas”. Sem entrar em detalhes, nomear suspeitos ou apresentar quaisquer provas, o Presidente acusou os seus inimigos políticos internos de estarem a promover a instabilidade naquela que é a maior economia da África oriental. “Toda a informação que temos indica o envolvimento de redes políticas locais no planeamento e execução deste crime hediondo”, referiu.

Um porta-voz das Al-Shabaab reivindicou o ataque num telefonema para um jornalista da AFP, afirmando que os seus homens mataram “20 pessoas, sobretudo polícias e guardas-florestais quenianos”. “Depois de cumprirem a sua missão regressaram tranquilamente à base”, acrescentou Abdulaziz Abu Musab, sem explicar se atravessaram a fronteira de regresso à Somália ou permanecem no Quénia.

Além das vítimas mortais, a Cruz Vermelha do Quénia confirmou a existência de 50 desaparecidos: segundo a BBC, pelo menos 12 mulheres foram raptadas durante a incursão dos militantes em Mpeketoni.

O facto de as milícias terem conseguido atacar um alvo tão próximo de Mpeketoni é um novo embaraço para o Governo queniano, acusado de não ter enviado reforços militares suficientes para a região, onde a violência ameaça provocar também tensões entre as comunidades cristãs e muçulmanas que ali coabitam.

Para travar as críticas, o Presidente Uhuru Kenyatta enviou o ministro do Interior à zona para assumir pessoalmente a condução das operações – na sua comunicação, Kenyatta informou que vários oficiais da polícia da região que alegadamente teriam recebido informação sobre o ataque “foram suspensos e serão acusados e julgados imediatamente”.

As Al-Shabaab, grupo ligado à Al-Qaeda e que integra nas suas forças muitos jihadistas estrangeiros, prometeram vingar-se depois de, em 2011, o Quénia ter enviado tropas para os combater na Somália, em retaliação por uma vaga de sequestros e ataques. No comunicado em que reivindicam o ataque de domingo, o grupo justifica também a acção com o que dizem ser a “repressão brutal do Governo queniano contra os muçulmanos”.

Nairobi assegura que vai continuar a combater os extremistas islâmicos no país vizinho, mas os ataques mostram que poderá de ter pagar um preço elevado: Mpeketoni e Poromoko situam-se na costa do Índico, onde se concentra boa parte da indústria turística do país e nos últimos meses vários países desaconselharam os seus cidadãos a visitar a região, alegando razões de segurança.

O aviso é feito também pelos jihadistas somalis, afirmando que o Quénia é a partir de agora “uma zona de guerra” e os turistas que insistam em visitar o país ficam “por sua conta e risco”.

A ilha de Lamu, uma das mais populares estâncias do Quénia, dista cerca de 30 quilómetros das localidades atacadas pelo Al-Shabaab nos dois últimos dias. Mas nem Mpeketoni nem Poromoko são pontos turísticos: vários especialistas notavam uma mudança nas tácticas do Al-Shabaab, que aparentemente deixou de procurar atingir turistas ou mulheres e crianças.

Apesar de a economia queniana depender fortemente do turismo, que é responsável por receitas anuais na ordem dos mil milhões de dólares, o número de visitantes estrangeiros tem vindo a cair por causa dos receios com a segurança. A tendência acentuou-se em 2013, por causa da instabilidade provocada pelas eleições e o massacre de 67 pessoas que se divertiam no moderno centro comercial Westgate de Nairobi.

No mês passado, um alerta aos viajantes, emitido pelo Governo do Reino Unido, levou um conhecido operador turístico britânico a repatriar 500 turistas que se encontravam de férias em Mombassa, a segunda maior cidade do país e um dos principais destinos de voos charter.