Cavaco sente-se mal e interrompe discurso num 10 de Junho marcado por protestos

Presidente teve de receber assistência médica mas retornou e concluiu o discurso, com protestos ao fundo.

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O Presidente da República teve que interromper o discurso que fazia na Guarda quando a sua voz começou a sumir-se e sentiu-se indisposto. Foi imediatamente retirado pelos seguranças, pelo Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas e os ajudantes de campo do Exército e da Marinha para as traseiras da tribuna de honra.

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O Presidente da República teve que interromper o discurso que fazia na Guarda quando a sua voz começou a sumir-se e sentiu-se indisposto. Foi imediatamente retirado pelos seguranças, pelo Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas e os ajudantes de campo do Exército e da Marinha para as traseiras da tribuna de honra.

Depois de levado em braços, foi deitado no chão e recebeu assistência de bombeiros, médicos do INEM e da sua equipa médica pessoal.  "O senhor Presidente da República sentiu uma reacção vagal [a expressão usada para descrever um desmaio ou princípio de desmaio], da qual recuperou rapidamente, nunca tendo perdido a consciência e sempre manifestou intenção de concluir o seu discurso", declarou depois à Lusa o major-general médico José Duarte, da Força Aérea, que assistiu o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva.

Os seguranças impediram qualquer aproximação e mandaram mesmo apagar as fotografias a alguns fotógrafos que estavam mais perto no local onde o Presidente foi assistido.

O discurso de Cavaco Silva, que durava há cerca de sete a oito minutos, estava a ser acompanhado quase desde o seu início por gritos de "Governo para a rua" vindos de uma zona do público em frente à tribuna principal. Mesmo depois de o Presidente da República se ter sentido mal, os manifestantes continuaram a gritar palavras de ordem.

Alguns minutos depois, ainda Cavaco Silva estava a receber assistência, os seguranças mandaram toda a comunicação social que estava do lado direito da tribuna principal – e por isso mais perto do Presidente – deslocar-se para o lado mais longe, depois de duas tribunas de convidados, sem qualquer acesso visual à zona. Jornalistas e fotógrafos só foram autorizados a regressar ao local quando o chefe de Estado já tinha recomeçado o discurso.

Às 10h52, o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas anunciou que o Presidente da República estava  recuperado da indisposição e iria retomar a cerimónia.
 
O CEMGFA deixou um pedido claro: "Pedia a todos aqueles que estão a perturbar esta cerimónia militar que tenham respeito por Portugal e pelas Forças Armadas". Ouviram-se aplausos entre a assistência, mas mesmo assim os manifestantes não se calaram. Elementos da PSP com cães tinham sido entretanto deslocados para junto dos manifestantes.

Não foi a primeira vez que Cavaco Silva desmaiou em cerimónias de Estado. Em 1995, quando o actual Presidente da República se despedia do cargo de primeiro-ministro e passava a “pasta” ao socialista António Guterres, Cavaco desfaleceu na cerimónia na Sala dos Embaixadores do Palácio da Ajuda e foi amparado pelas pessoas que o rodeavam.

O Presidente da República voltou a discursar às 11h, desta vez com uma voz ainda mais forte. Ouviram-se palmas quando Cavaco Silva apareceu junto à tribuna. Mas os manifestantes mantiveram o ruído de fundo dos protestos e nos braços levantados continuavam a mostrar cachecóis onde se lia "Governo para a rua", o que mostra que o protesto foi cuidadosamente preparado. Cavaco Silva concluiu o discurso cerca das 11h05.

Empurrões no final
No final do discurso de Cavaco Silva verificaram-se alguns empurrões entre os manifestantes e elementos de forças de segurança. Do lado dos manifestantes, Francisco Almeida, da União de Sindicatos de Viseu, declarou aos jornalistas que algumas das pessoas do seu grupo de cerca de duas centenas – que, durante o discurso presidencial, não pararam de gritar palavras de ordem contra o Governo, pedindo a sua demissão – foram identificadas pelas autoridades.

O dirigente sindical da CGTP disse ter sido ele próprio identificado por um agente das forças de segurança à paisana, que faria parte de um sector do público que, a determinada altura, aclamou Cavaco e se insurgiu contra os manifestantes, por estarem a perturbar o discurso do Presidente da República.

Francisco Almeida alega que esse era um pequeno grupo do público, com agentes de segurança “infiltrados” que tentaram provocar os manifestantes e fazê-los entrar em desacatos. O dirigente sindical e militante do PCP disse, contudo, que a “experiência” dos manifestantes em situações deste tipo levou-os a não responder às provocações.

Francisco Almeida afirmou que os manifestantes fizeram de facto barulho durante o discurso de Cavaco, mas vincou que não foi a sua intervenção que impediu que as palavras do Presidente da República fossem escutadas pelo público, problema que imputou a uma alegada anomalia da aparelhagem sonora. “Não funcionou. Penso que ninguém ouviu, a não ser as pessoas que estivessem mesmo junto do Presidente”.

Questionado por um repórter da RTP sobre o que tinha sentido ao assistir à indisposição de Cavaco Silva, Francisco Almeida respondeu que não desejava nada de mal a qualquer ser humano, que fazia votos de que Cavaco Silva já se tivesse restabelecido em termos de saúde, mas sublinhou que as manifestações só existem se forem vistas e escutadas e que o Dia de Portugal era a ocasião de afirmar que o país tinha que mudar de rumo e que o Governo tinha de ser demitido.