Cartas à Directora
Antifascista precoce
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Antifascista precoce
Todos os anos, com o aproximar do 10 de Junho, entristeço por não ser agraciado com uma comenda. Confesso, que por uma questão de modéstia, nunca divulguei o meu passado antifascista. Comecei aos doze anos em plena campanha presidencial entre Américo Tomás e Humberto Delgado. Deram-me a missão de colar, com cuspo, uns pequenos selos já com cola com a foto do General Sem Medo nos olhos dos cartazes do Almirante afecto ao regime fascista espalhados pela cidade do Porto. Do Liceu Alexandre Herculano até casa, esgotava a saliva e os selos. Mais espigadote e acompanhado duns amigos, em certas datas e ao fim da tarde, lá íamos para a baixa. Rua Sá da Bandeira, Praça da Liberdade e Av. dos Aliados, desafiar a polícia de choque armada de espingarda para darem umas coronhadas a quem não se afastasse. Tudo isto à mistura dumas correrias à frente dos carros com canhões de água com azul metileno que nos estragava a fatiota. Não sei se a Pide era conhecedora destas minhas façanhas, o certo é que quando chegou a hora de ser mobilizado para o Ultramar, calhou-me o local para onde enviavam alguns deportados políticos, a longínqua Ilha de Timor. A viagem de ida durou cerca de 50 dias, três companhias (mais de seiscentos militares) enfiados nos porões do navio cargueiro “Índia”, sem muda de roupa da cama, os pratos e talheres lavados com água do mar por falta de água potável. Hoje, exige-se, e muito bem, condições condignas para transporte de animais. Por mera coincidência, na mesma altura, Mário Soares seria deportado para S. Tomé mas teve mais sorte pois fez uma viagem de algumas horas de avião, guardado por três agentes e conseguiu trabalhar como advogado dos exploradores/fascistas da CUF, anos mais tarde presos e saneados. Mas foi em Timor, que pratiquei a missão mais arriscada como antifascista. Um dia vejo a atravessar a rua um agente da Pide que era mesmo em frente ao café em que parávamos. Por instinto e com a adrenalina a subir e sabendo a mesa habitual que ele ocupava, fiz uso do meu vasto conhecimento em envenenamentos aprendidos nos filmes dos Bórgia e não hesito: despejo o saleiro no açucareiro provocando-lhe um ataque de fúria, impropérios ao proprietário, empregados e pela certa uma subida da tensão arterial. Não sei se haverá muitos antifascistas com este currículo (...). Pelo exposto, mereço ou não uma condecoração? Comendador Morais, que tal?
Jorge Morais, Porto
10 de Junho
Foram há pouco homenageados em Dunquerque, por vários chefes de Estado, os soldados, marinheiros e aviadores que deram a vida, e aqueles que a arriscaram mas sobreviveram, salvando o Mundo da praga de Hitler.
Portugal também já teve época de homenagear o soldado desconhecido, que perdeu a vida ao serviço da Pátria. Agora marca a diferença: em tempo de desemprego e de fome, merecem homenagem – solene – não os portugueses que mais estão sofrendo para saldar erros alheios, onde se incluem os sobreviventes de guerra e aqueles que juraram dar a vida se necessário for ao serviço do seu País, mas sim os que se distinguiram pelo lucro, os que mais ganham ou ganharam.
No Dia de Portugal, o PR vai condecorar Zeinal Bava, Horta Osório e, a título póstumo, António Borges.
Nos 2 próximos 10 de Junho outros provavelmente se seguirão. Não ficava bem serem esquecidos Belmiro de Azevedo, Salvador Caetano, Soares dos Santos, Mexia, Ulrich, etc.
António José de Matos Nunes da Silva, Oeiras
O PÚBLICO ERROU
No texto “Recta final para os exames: o que devem os alunos comer?”, publicado segunda-feira, Alexandra Bento é identificada como presidente da Associação Portuguesa dos Nutricionistas, cargo que já não ocupa. Actualmente, é bastonária da Ordem dos Nutricionistas. À visada e à actual presidente Célia Craveiro, as nossas desculpas.