Três campeões mundiais lutam por dois lugares

A Itália não pode nunca ser dada como não favorita e a Inglaterra muniu-se do melhor que há na Premier League. O Uruguai quer um novo Maracanazo, com um Suárez em brasa, e a Costa Rica não viajou para ser saco de pancada.

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Cesare Prandelli é o homem que vai tentar levar a Itália de novo ao título mundial Giuseppe Cacace/AFP

Não seria Mundial se a Itália não chegasse envolta de um misto de desânimo e admiração. Por um lado, a squadra azzurra revela dificuldades em operar uma renovação no seu conjunto, repetindo quatro campeões do Mundo em 2006, entre os quais os (ainda) influentes Gianluigi Buffon e Andrea Pirlo. Mas, por outro, não se pode simplesmente esquecer a capacidade notável dos italianos para se superarem nos grandes palcos. Especialmente quando pouco se espera deles.

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Não seria Mundial se a Itália não chegasse envolta de um misto de desânimo e admiração. Por um lado, a squadra azzurra revela dificuldades em operar uma renovação no seu conjunto, repetindo quatro campeões do Mundo em 2006, entre os quais os (ainda) influentes Gianluigi Buffon e Andrea Pirlo. Mas, por outro, não se pode simplesmente esquecer a capacidade notável dos italianos para se superarem nos grandes palcos. Especialmente quando pouco se espera deles.

Um inquérito recente, feito pelo jornal Corriere della Sera, reflecte perfeitamente esta ambivalência. O grupo mais numeroso de inquiridos (29,4%) prevê que a sua selecção não será capaz de ultrapassar a primeira fase, mas o segundo grupo (19,9%) antecipa uma Itália campeã do mundo.

Desde a surpreendente campanha no Mundial de Espanha, em 1982, a Itália tem alternado entre excelentes prestações, alcançando duas finais (1994 e 2006, vencendo) e uma meia-final (1990), e péssimas exibições, como há quatro anos em que ficou no último lugar do grupo.

Curiosamente, é na defesa que se localiza o elo mais fraco da selecção de Cesare Prandelli. Barzagli e Bonucci estão a anos-luz de nomes míticos como Nesta, Cannavaro, Baresi ou Scirea. O meio-campo assenta na experiência de Pirlo, Marchisio e De Rossi, que terão na frente o sempre imprevisível Mario Balotelli.

Tradicionalmente, é contra os adversários de topo que a selecção italiana se supera, o que torna o grupo D favorável à sua passagem aos oitavos-de-final.

Juventude busca afirmação
Poucas imagens poderão ser mais explicativas acerca do estado de espírito da selecção inglesa do que a do presidente da federação, Greg Dyke, a simular uma decapitação com os dedos, no momento em que ficou conhecido o grupo dos britânicos no Mundial.

De facto, a imprensa inglesa tem mostrado um grande cepticismo em relação às hipóteses da selecção dos “três leões” no Mundial do Brasil. E talvez seja precisamente pelas baixas expectativas que a equipa comandada por Roy Hodgson pode ter boas perspectivas.

O experiente técnico foi um espectador atento da Premier League esta época e a sua convocatória mostra isso mesmo. É uma Inglaterra rejuvenescida que vai tentar derrotar o estigma das fases finais – onde muito prometem e pouco confirmam. Apenas cinco jogadores têm experiência em Mundiais e só mesmo Steven Gerrard é que sabe o que é marcar na competição.

A boa época do Liverpool tem continuidade na selecção, com os avançados Raheem Sterling e Daniel Sturridge como os grandes trunfos dos ingleses. A grande incógnita é Wayne Rooney, que tarda em deixar a sua marca num Mundial.

Sem a pressão de outros tempos, a passagem aos oitavos-de-final seria um desfecho aceitável para os adeptos ingleses, conscientes da dificuldade imposta pelo sorteio.

Regresso a 1950?
A história não é cíclica, bem se sabe. Mas o Uruguai não se importaria nada de reverter esse aforismo, levantando a taça de campeão mundial no Maracanã, tal como já o fizera em 1950, no famoso Maracanazo.

Muito mudou desde então, é certo. “Era um Brasil diferente e o Uruguai tinha uma posição de poder que já não ocupa”, disse o seleccionador Óscar Tabarez. Mas mudou assim tanto?

A “posição de poder” ocupada hoje pelo Uruguai é a de um quarto lugar no Mundial 2010 e o título continental em 2011. Para além disso, a “celeste” esteve perto de afastar o Brasil na meia-final da Taça das Confederações no ano passado.

Tudo isto foi alcançado por um grupo que não será muito diferente no Brasil. Mais de metade dos escolhidos por Tabarez vão repetir a presença no Mundial e a equipa-tipo não deverá sofrer grandes alterações. Significa isto que se trata de jogadores quatro anos mais velhos, mas também quatro anos mais experientes.

Luis Suárez é incontestavelmente a grande figura, depois de se ter sagrado melhor marcador na Premier League. A seu lado estará Edinson Cavani, uma das estrelas da constelação milionária do PSG. Quem ainda segue para o Brasil é Diego Forlán, que apesar da idade poderá espreitar a titularidade, caso Suárez não recupere a condição física.

Os não campeões
A Costa Rica pode queixar-se da sorte madrasta no sorteio do Mundial. Sendo a única selecção sem um título mundial no seu grupo, os “ticos” assumiram automaticamente o rótulo de underdogs, mas considerá-los um “saco de pancada” pode revelar-se errado.

Na longa caminhada para o Brasil, os costa-ricenses foram os segundos melhores da CONCACAF, apenas atrás dos EUA. No conjunto orientado pelo colombiano Jorge Luis Pinto despontam o guarda-redes do Levante, Keylor Navas, um dos menos batidos na Liga espanhola, o lateral direito do Rosenborg, Cristian Gamboa, e o extremo do PSV, Bryan Ruiz.

A complicar as contas dos latino-americanos estão as ausências de duas das principais figuras: Álvaro Saborio, que fracturou um pé, e Bryan Oviedo, lateral esquerdo do Everton que partiu uma perna.

A passagem aos oitavos-de-final seria uma grande vitória para a Costa Rica, que assim repetiam o feito do Mundial de 1990. No entanto, num dos grupos mais difíceis da competição, a equipa das Américas poderá apenas almejar a ser um incómodo para os candidatos à qualificação.