24 horas em Santiago

O que nos leva à capital da Galiza é o património histórico e arquitectónico, a língua e a gastronomia, os encontros nas pracetas, os trejeitos sorridentes e bem-postos

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Paulo Ricca

Se Santiago de Compostela fosse um filme não seria “O Cavalo de Turim”, do húngaro Béla Tarr, que retrata a miserabilidade da existência de um camponês, da sua filha e de um cavalo doente. Estamos em Turim, 1889. Os dias repetem-se, um após o outro, assim como a alimentação: uma batata bem quente, descascada com as mãos e o sopro, num silêncio aflitivo de quem suporta estar vivo.

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Se Santiago de Compostela fosse um filme não seria “O Cavalo de Turim”, do húngaro Béla Tarr, que retrata a miserabilidade da existência de um camponês, da sua filha e de um cavalo doente. Estamos em Turim, 1889. Os dias repetem-se, um após o outro, assim como a alimentação: uma batata bem quente, descascada com as mãos e o sopro, num silêncio aflitivo de quem suporta estar vivo.

Estamos em Santiago, 2014. Não há monotonia, não há dias iguais – e a única batata que pode calhar-nos em sorte é a da tortilha. O que nos leva à capital da Galiza – e a Espanha de um modo geral – é o património histórico e arquitectónico, a língua e a gastronomia, os encontros nas pracetas, os trejeitos sorridentes e bem-postos.

Onde ir

Escusado será falar da Catedral (o ritual do bota-fumeiro é bonito mesmo para os descrentes), do Centro Galego de Arte Contemporânea (obra do arquitecto Álvaro Siza) ou dos famosos concertos na Sala Capitol, um clássico sempre em expansão. Entre as novidades está a loja M!randa — cultura para levar, inaugurada há pouco mais de um ano, e onde se pode comprar música, filmes e livros (desde crítica a ensaios, passando pelos de música e de cinema).

Onde comer

Ao final da tarde, todos os caminhos vão dar aos pequenos largos e ruelas do centro. Janta-se tarde, mas sai-se cedo, bem a tempo de “tapear” e beber “cañas”, enquanto conversamos e ouvimos conversas alheias — os espanhóis falam sempre muito alto.

A Casa Marcelo, no casco histórico, é um restaurante imperdível. Não só pelo conceito, que funde comida galega e japonesa, como pelo próprio ambiente informal — é provável que te sentes numa mesa vermelha corrida ao lado de perfeitos desconhecidos. Obrigatório: alcachofras fritas com gema de ovo, dim sum de mão de porco e gambas e favas guisadas com amêijoas. Se ainda restar espaço, o “crumble” de maçã ou o “queso cremosito del País” — quem é que resiste a este nome? — são boas escolhas.

Mas há outras opções, como os restaurantes Celme do Caracol (grande variedade de tapas) ou o Tragaluz (mais sofisticado). Como se precisássemos de desculpas para comer crepes, a Creperia St. Jacques, com produtos artesanais franceses, é um dos novos espaços na cidade. Experimenta o La Grazel, uma especialidade da casa, com chocolate caseiro, chantilly e amêndoas torradas.

Onde dormir

A partir de uma antiga e abandonada fábrica de papel do século XVIII, surgiu A Quinta da Auga (quatro estrelas), um hotel ecológico de luxo a escassos quilómetros de Santiago. Recentemente eleito um dos 25 melhores hotéis de Espanha pelo Traveller’s Awards 2014, iniciativa promovida pelo TripAdvisor, a Quinta da Auga (a convite de quem viajei) é um hotel instalado entre o silêncio do bosque e o murmúrio da água – que corre até debaixo dos nossos pés na sala do pequeno-almoço. Além do mais, tem um SPA completo, com terapias ocidentais e orientais. Mas, talvez para isso, as 24 horas não sejam suficientes.