Açores admite erros do projectista russo do Atlântida
Responsáveis do armador público açoriano chegaram a pensar nas Baamas como destino para rentabilizar o ferry no Inverno.
“Tinha algumas reticências que o estudo prévio fosse feito na Rússia, nada tenho contra os russos, mas é complicado o projectista estar a milhares de quilómetros dos estaleiros de Viana e com uma equipa de que não atendia os telefonemas”, disse o responsável com a tutela da Atlânticoline. As dificuldades de comunicação com São Petersburgo, onde estava sediado o projectista, foram uma das queixas dos ENVC, relatou.
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“Tinha algumas reticências que o estudo prévio fosse feito na Rússia, nada tenho contra os russos, mas é complicado o projectista estar a milhares de quilómetros dos estaleiros de Viana e com uma equipa de que não atendia os telefonemas”, disse o responsável com a tutela da Atlânticoline. As dificuldades de comunicação com São Petersburgo, onde estava sediado o projectista, foram uma das queixas dos ENVC, relatou.
“É possível que a equipa da Petrobalt em 2003 estivesse a funcionar melhor que em 2006 (data do projecto do Atlântida)”, admitiu: “É verdade que os estaleiros se queixavam amargamente da Petrobalt.” O antigo governante recordou que foi a SCMA Consultores Marítimos que recomendou os russos à Atlânticoline para o anteprojecto. A escolha daquela empresa de consultadoria deveu-se ao facto de prestar serviços de fretamento de navios nos Açores. Contudo, o facto de, posteriormente, o projecto ter sido desenvolvido na Rússia, depois dos estaleiros de Viana terem ficado com a construção dos ferries Atlântida e Anticiclone foi decisão dos ENVC.
“A escolha da Petrobalt foi errada para os estaleiros de Viana do Castelo, para nós não foi problemática”, destacou. “Eles (ENVC) escolheram o projectista mais barato em 900 mil euros, e o mais barato sai caro”, afirmou Duarte Ponte: “Isto teve o desfecho que teve por os ENVC não terem uma equipa de projecto capaz a seu lado.” A este propósito recordou que os galegos dos Astilleros Barreras de Vigo ou os holandeses da Damen estavam bem mais perto do que os técnicos de São Petersburgo.
“Penso que a Petrobalt não estava a par de toda a legislação nacional a que estávamos obrigados”, admitiu o ex-secretário regional da Economia. A este propósito, precisou que os documentos de construção do Atlântida não foram entregues a tempo ao IPTM (Instituto Portuário de Transportes Marítimos) pelos estaleiros que então referiram atrasos na chegada da documentação da Rússia.
O desempenho dos ENVC foi várias vezes posto em causa. “Tinha uma excelente ideia dos estaleiros, que tinham construído dois porta-contentores para os Açores e O Lobo Marinho (ferry que faz a ligação entre o Funchal e Porto Santo, na Madeira)”, disse. A experiência do Atlântida levou-o a outras considerações: “O estaleiro de Viana gostava de construir navios, se possível sem prazo e sem limite de velocidade mínima”.
Referiu que, em 2008, quando abandonou o executivo regional, falou com o presidente do conselho de administração dos ENVC que lhe garantiu que o navio ia cumprir a velocidade de 19 nós, como constava do contrato. “Disse-lhe que para nós a velocidade era fundamental, que se podia brincar com tudo menos com a velocidade.”
Por fim, admitiu que o Atlântida, dadas as condições duras do mar no arquipélago dos Açores durante o Inverno, teria naquela época uma dupla utilização. “No Inverno estávamos a pensar em fazer festas nas diversas ilhas, levarmos médicos para campanhas de rastreio e alguns pequenos cruzeiros à volta de algumas ilhas.” A possibilidade do ferry ser deslocado para outras zonas foi contemplada: “Havia várias ideias, na Atlânticoline havia pessoas que defendiam que o navio podia ir para as Baamas.”