Eu ainda acredito no amor (para onde foi?)

Eu continuo a acreditar na força do amor. Se calhar, estou iludida, pois vivo ainda o meu primeiro amor e espero que ele seja para a vida

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Rita Salomé Esteves

Eu acredito no amor. Considero-me uma dessas cabeças no ar, que ainda acreditam que haja amores que durem a vida toda. Eu acredito que o primeiro amor possa ser um amor para a vida.

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Eu acredito no amor. Considero-me uma dessas cabeças no ar, que ainda acreditam que haja amores que durem a vida toda. Eu acredito que o primeiro amor possa ser um amor para a vida.

Não é de hoje, nem é novo, que ouvimos sempre os mais adultos dizerem aos que, como eu, ainda sonham com o amor eterno, coisas como "isso não paga as contas". A verdade é essa: o amor não põe comida na mesa, não erradica a fome no mundo, não é a cura de todos os males. Mas então, o que é, afinal?

O amor pode não encher a barriga, mas aquece-a. Pode não pagar as contas, mas ajuda a ter força para levantar, pela manhã, e ir trabalhar para as pagar.

Chamem-me sonhadora, chamem-me iludida... Mas não permitam que vivamos, espalhando essa ideia de que mais vale um milhão na mão do que um amor no coração.

Não é mais fácil ganharmos o nosso milhão se tivermos, no final do dia, alguém a quem agarrar a mão? Alguém com quem partilhá-lo?

Eu acredito em “um amor e uma cabana”. Ainda vivo na ilusão de que há primeiros amores que duram para sempre. Pessoas que se aturam e se suportam e se apoiam por uma vida inteira. Ainda acredito que haja quem queira lutar por esta utopia.

Mas, de novo, me dizem que eu “sou muito novinha” e que “um dia mais tarde vais pensar de forma diferente”... "Quando tiveres a nossa idade"... Não é triste? Que, com a idade, deixemos de acreditar no amor? Não é triste, viver sabendo que precisamos de mais do que aquele abraço, aquele beijo na testa? Não é triste que prefiramos ganhar o euromilhões a encontrar o amor da nossa vida?

Já ninguém quer viver a "mediocridade" de um grande amor. Agora, querem-se grandes fortunas, grandes carros, grandes viagens. Não apreciamos o piquenique no parque, com aquela pessoa que nos faz sorrir mais, melhor...

Onde é que perdemos esta capacidade de amar? De elevar o amor acima do materialismo?

Se a nossa finalidade é viver bem, em conforto, não devíamos por o amor acima de tudo? O que mais nos faz viver bem?

Eu continuo a acreditar na força do amor. Se calhar, estou iludida, pois vivo ainda o meu primeiro amor e espero que ele seja para a vida. Posto isto, sei que vou ouvir muitas mais vezes que "um dia irás mudar de perspectiva... quando cresceres". E, se assim for, lamentar-me-ei por ter perdido a esperança no amor.

Por enquanto, de estômago vazio mas de coração cheio, eu assumo que acredito na força do amor, dos primeiros amores, de viver com o coração nas mãos. Não deixemos que isso se perca, no futuro.