Antónios: os Príncipes
Falhou António José Seguro na guerra contra os seus opositores, na medida em que devia ter ido, desde o início, ao confronto, com a agravante de perder alguns domínios, no entanto conseguindo manter o seu reino socialista
O Partido Socialista (PS) vive, actualmente, uma crise interna, resultado de uma luta de poderes que envolve duas faces: António José Seguro (AJS) e António Costa (AC). A política, como se sabe, na prática, deve pouco à ética, ou seja, é limpa na parte de fora dos cortinados e suja na parte interna. Faz parte. É como a nossa vida, gostamos de ser exemplos de rectidão, porém falhamos sempre em algo. Ora, como tal, nada melhor do que recorrer a Maquiavel para expor a situação de guerrilha e estratégia dentro do PS dos últimos tempos.
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O Partido Socialista (PS) vive, actualmente, uma crise interna, resultado de uma luta de poderes que envolve duas faces: António José Seguro (AJS) e António Costa (AC). A política, como se sabe, na prática, deve pouco à ética, ou seja, é limpa na parte de fora dos cortinados e suja na parte interna. Faz parte. É como a nossa vida, gostamos de ser exemplos de rectidão, porém falhamos sempre em algo. Ora, como tal, nada melhor do que recorrer a Maquiavel para expor a situação de guerrilha e estratégia dentro do PS dos últimos tempos.
“Dos principados mistos”. António Costa, emergido pela facção socrática do último governo do PS, almeja a conquistar pelas próprias armas (e dos outros também) o principado socialista. Para isso, dado que se encontra distante, deve tornar-se líder e defensor dos vizinhos mais fracos e procurar enfraquecer quem tem o poder. Depois da vitória com pouca margem de AJS nas europeias, AC aproveitou – ao contrário de que muitos dizem, não foi às escuras – e aglomerou para si quem estava fora das cadeiras de decisão com a actual liderança e atacou AJS.
“De que modo se devem governar as cidades ou principados que, antes de serem ocupados, viviam segundo as suas próprias leis”. António José Seguro, quando ocupou o cargo de secretário-geral, tinha 3 opções: destruir o que ficou, viver como príncipe conquistador, afirmando-se e, por fim, criar uma oligarquia que garantisse a sua fidelidade. Tentou fazer tudo ao mesmo tempo e isso pode ter sido um erro político.
“Do principado civil”. AJS, com a realização de eleição primárias a militantes e “simpatizantes”, tenta segurar o poder pela vontade popular. Como defende Maquiavel, não só do povo vive o poder, mas também dos poderosos. Basta a AC conquistar alguns dos últimos e a balança pode descair por completo para o seu lado – por exemplo, é importante saber de que lado está Jorge Coelho.
“De que modo se devem medir as forças de todos os principados “. Tendo em conta que AJS já perdeu as suas muralhas, ou seja, o ataque foi feito directamente no seu território, só lhe resta fortificar o seu núcleo duro de munições, abdicando do restante território. Assim, é legítima a barricada com os estatutos e a cartada da rejeição do Congresso – as leis e a força são as duas formas de combate. AJS escolheu a primeira.
“De como se devem evitar os aduladores”. Num ambiente tão quente como o se vive dentro do PS, tanto Seguro como Costa devem ter receio dos aduladores – personagens que aparecem sempre no clímax do poder em sinal de reverência com interesses meramente pessoais –, controlando-os numa espécie de relação paradoxal de afastamento/aproximação, e ouvir os mais sábios e experientes.
“Por que razão os príncipes de Itália perderam os seus estados”. Falhou AJS na guerra contra os seus opositores, na medida em que devia ter ido, desde o início, ao confronto, com a agravante de perder alguns domínios, no entanto conseguindo manter o seu reino socialista.