O engenheiro português que trocou a Google pelo empreendedorismo social
O SPEAK é uma "escola de línguas e culturas" que nasceu para promover a integração das comunidades estrangeiras.
Decidiu-se pela segunda opção e assim, depois de 21 meses entre Dublin e Silicon Valley, num dia de Março, voltou a casa com o objectivo de dirigir o SPEAK, um projecto que nasceu para pôr em contacto comunidades que, vivendo lado a lado, vivem também de costas voltadas devido à barreira linguística. Esta “escola de línguas e culturas” surgiu em Leiria para facilitar a integração das comunidades estrangeiras e "promover a diversidade". Hoje é um negócio social em processo de expansão. Já está também nas Caldas da Rainha e o objectivo é que chegue a Lisboa, Almada, Aveiro e Coimbra em Setembro.
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Decidiu-se pela segunda opção e assim, depois de 21 meses entre Dublin e Silicon Valley, num dia de Março, voltou a casa com o objectivo de dirigir o SPEAK, um projecto que nasceu para pôr em contacto comunidades que, vivendo lado a lado, vivem também de costas voltadas devido à barreira linguística. Esta “escola de línguas e culturas” surgiu em Leiria para facilitar a integração das comunidades estrangeiras e "promover a diversidade". Hoje é um negócio social em processo de expansão. Já está também nas Caldas da Rainha e o objectivo é que chegue a Lisboa, Almada, Aveiro e Coimbra em Setembro.
O modelo tem duas dimensões, explica Hugo. No SPEAK Social colaboram apenas voluntários que ensinam a sua língua e cultura e que tem um preço simbólico; o SPEAK Pro são “cursos de línguas de baixo custo” com formadores remunerados e a salvaguarda de uma margem que permite financiar o projecto, que neste momento ocupa outras duas pessoas a tempo inteiro (Ricardo Figueiredo, coordenador do SPEAK Leiria, e Ana Neto, coordenadora pedagógica), tem prestadores de serviços (os professores do SPEAK Pro) e “magníficos voluntários” em áreas como o web design e design gráfico, marketing e formação de professores voluntários. E as realidades por vezes cruzam-se: “Em Leiria temos um casal de líbios que dá árabe no Social e francês no Pro”.
Nada disto teria sido possível sem a Fundação EDP, sublinha. “Foram fundamentais”. A ideia original foi partilhada numa formação do Instituto de Empreendedorismo Social (IES) e “o Gustavo Brito, do Social Lab da Fundação EDP, gostou do que ouviu e sugeriu que repensássemos o que estávamos a fazer de forma mais profissional”. O SPEAK começou a dar os primeiros passos em Junho de 2012 com o apoio do Social Lab e o projecto-piloto arrancou em Setembro desse ano. Testado o modelo, lançou-se o SPEAK Leiria e depois avançou-se para as Caldas (apenas na versão social).
Com a escola de Leiria em vias de atingir o equilíbrio financeiro (previsto para Julho), o SPEAK está numa terceira ronda de investimento para ganhar dimensão. No arranque do piloto (que custou 7500 euros) contou com o apoio da Gulbenkian e na segunda fase de investimento (32.500 euros) entraram em acção as fundações Luso-Americana e Aga Khan e a Santa Casa da Misericórdia. Nesta terceira fase, já é certo o apoio da Fundação EDP, mas poderá haver mais investidores. O processo negocial ainda decorre e Hugo não quer divulgar montantes, mas garante que “os objectivos serão sempre pequeninos e apenas ao longo do período necessário para garantir o equilíbrio de cada projecto [cerca de dois anos]”.
Quem criou o SPEAK com o objectivo de partilhar conhecimento também deu por si a aprender. “Descobrimos que as pessoas quando têm a oportunidade de ensinar a sua cultura ficam mais entusiasmadas, as coisas correm melhor do que se estiverem apenas no papel de alunos”, diz Hugo. Ucranianos, brasileiros, sírios, polacos, chineses, russos, portugueses… Todos saem a ganhar com a experiência. Os portugueses “ficaram mais sensibilizados para a diversidade” e nas outras comunidades cresceu “o sentimento de pertença”. O modelo social será agora replicado, mas além de Leiria, só Coimbra e Lisboa terão a versão Pro. Hugo Aguiar faz questão de frisar que é um “projecto sem ambição de roubar quota de mercado a ninguém”, que só quer “promover a diversidade cultural e linguística”.
A expansão será “o verdadeiro teste à capacidade de o modelo SPEAK fazer a diferença”, reconhece. Será o passo maior que as pernas? “Sabemos que é ambicioso e que embora estejamos a trabalhar a fundo para desenvolver as ferramentas e o conceito podemos chegar ao fim e estar apenas em três ou quatro cidades”. Mas isso também não lhe tira o sono. “Tenho algum receio, mas também tenho muita adrenalina”, diz quem acha que o insucesso “ainda é sobrevalorizado” em Portugal.