Rock in Rio encerrou em estilo com Justin Timberlake
No último dia de Rock in Rio, 80 mil pessoas vibraram com um espectáculo distinto do cantor norte-americano.
O americano não é banha da cobra. Mas também não tem mundos novos para dar ao mundo. É alguém que interage com os valores clássicos do entretenimento americano, seja como cantor ou actor, fazendo-o com presteza e classe, o que não é pouco.
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O americano não é banha da cobra. Mas também não tem mundos novos para dar ao mundo. É alguém que interage com os valores clássicos do entretenimento americano, seja como cantor ou actor, fazendo-o com presteza e classe, o que não é pouco.
Assistir a um concerto seu é ver-nos passar, de uma só vez, pelos olhos e ouvidos, Michael Jackson, Prince, Marvin Gaye ou Frank Sinatra, num encadeamento do passado soul, funk ou swing, com o apelo contemporâneo de algum hip-hop e R&B pelo meio, embora nunca consiga deixar de ser ele, a ex-celebridade juvenil que se tornou num performer de apelo multigeracional.
Hoje é uma das figuras mais poderosas do entretenimento americano, e, por extensão, do mundo, e essa áurea é credibilizada pela gestão cuidada dos espectáculos: nem muito viscosos, para não chocar as mães, nem muito antiquados, para não afastar as filhas. Nem muitos efeitos de imagem, para não parecer que é apenas representação, nem demasiada sobriedade, porque existe uma multidão à frente que tem de ver alguma coisa lá ao longe.
Mas a concepção minuciosa só funciona porque em cima do palco está uma pequena massa de bailarinos, cantores de apoio e experimentados músicos — daqueles, modelares, que percebem da poda — e ele próprio, dançando, cantando, interagindo com o público, sempre cumprindo um figurino a régua e esquadro.
O público, esse, rendeu-se-lhe desde o primeiro momento. Começou com Pusher lover girl, mas foi quando puxou do falsete a sério, e dos movimentos pélvicos, em My love, Like I love you ou Tko, incitando a multidão à festa, que a Bela Vista se alvoroçou. Num registo um pouco mais baladeiro (Holy grail, Cry me a river e, principalmente, What goes around… comes around), vem ao de cima a expressividade vocal, enquanto em Take back the night é a secção de metais que brilha, interagindo simultaneamente com ele e com a assistência.
Sendo ele uma espécie de evidência viva da memória do entretenimento americano, não poderiam faltar algumas homenagens, sendo os visados Michael Jackson, com Shake your body, e Elvis Presley, empunhando uma guitarra, retirando-lhe alguns acordes blues e lançando-se a Heartbreak hotel.
Para o final, alguns dos melhores números, com a excelente Suit & tie, a sensualidade lasciva da memorável SexyBack e Mirrors. Na despedida, agradeceu calorosamente, com as habituais juras de fidelidade ("Portugal, também vos amo. Vocês são lindos!", lançou, às tantas), mas parecendo genuinamente emocionado. E o público rendeu-lhe uma merecida ovação. Já depois de a cortina ter caído, ouviu-se My way.
Não parece acaso. Frank Sinatra, também ele um ídolo juvenil da música que se tornou também actor e produziu uma série de discos que se tornaram clássicos, para além de ser também um homem de negócios, personifica tudo aquilo que Justin Timberlake também quer ser. E que, de alguma forma, já é.
O resto do dia e noite no festival parece ter sido apenas uma espécie de aquecimento para a chegada de Justin Timberlake, com o palco principal a receber Kika, João Pedro Pais (com Jorge Palma), o rapper americano Mac Miller e a inglesa Jessie J. Os dois últimos prestaram vassalagem a Timberlake, perguntando várias vezes à assistência se estava ansiosa pela chegada do americano.
Eles próprios também estavam, tendo nós assistido ao concerto do americano perto dos dois. Antes, em palco, tinham sido os dois eficazes, conseguindo motivar o público, embora o rapper Mac Miller não tenha feito esquecer que a presença dos veteranos Chic (cancelados há semanas) teria realmente feito sentido em antecipação ao cantor americano.
Já Jessie J foi voluntariosa, colocando energia e sensualidade no seu desempenho, com o público a retribuir-lhe calor, mas a maior parte das vezes a sua música é uma junção pouco conseguida de R&B, pop e dança, não chegando a formar um todo consistente.
No palco secundário, ao final da tarde, os generosos Linda Martini já haviam desfiado o seu rock cru e dinâmico, mas aquele público não era propriamente o seu, e os ingleses Bombay Bycicle Club foram apenas simpáticos. O dia era mesmo de Justin Timberlake.