Perder a democracia para a valorizar?
É tal o consenso pela democracia que, apesar das críticas ao sistema vigente, o que esmagadoramente se propõe e reclama é a sua melhoria e não o seu fim
Somos esmagadoramente democratas. Muito poucos defendem modelos e sistemas políticos contrários ao espírito da democracia e da liberdade, o que não é de estranhar pois suspeito que a nossa sociedade implodiria sem elas. Não sabemos, hoje em dia, viver sem ser em democracia e sem liberdade, e nem sequer conseguimos conceber viver de outro modo, mesmo que nunca tenhamos pensado nisso. A democracia é tão esmagadora que mesmo os movimentos e partidos dos extremos da esquerda e da direita, que em condições de coerência com a sua origem ideológica a deveriam repudiar, nela se inserem e a ela se adaptam, nem que seja omitindo reais ou potenciais intenções antidemocráticas.
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Somos esmagadoramente democratas. Muito poucos defendem modelos e sistemas políticos contrários ao espírito da democracia e da liberdade, o que não é de estranhar pois suspeito que a nossa sociedade implodiria sem elas. Não sabemos, hoje em dia, viver sem ser em democracia e sem liberdade, e nem sequer conseguimos conceber viver de outro modo, mesmo que nunca tenhamos pensado nisso. A democracia é tão esmagadora que mesmo os movimentos e partidos dos extremos da esquerda e da direita, que em condições de coerência com a sua origem ideológica a deveriam repudiar, nela se inserem e a ela se adaptam, nem que seja omitindo reais ou potenciais intenções antidemocráticas.
É tal o consenso pela democracia que, apesar das críticas ao sistema vigente, o que esmagadoramente se propõe e reclama é a sua melhoria e não o seu fim. No entanto será que depois na prática fazemos o necessário para a salvaguardar? Bem, se calhar não, os níveis de abstenção que o digam. Mas, tendo em conta o que vai acontecendo pela Europa, para além da preocupação com o nível de participação democrática dos cidadãos, ergue-se o espectro do extremismo nacionalista com traços de fascismo e outras tendências antidemocráticas. Surge um potencial atentado à democracia.
Isto levanta um problema paradoxal, algo que Descartes já tentou resolver quando disse a famosa frase: penso, logo existo. Ou seja, seguindo esse princípio, adaptado aqui ao particular, será que a Democracia pode admitir no seu seio os movimentos antidemocráticos, colocando-se em causa? Pode a democracia duvidar de si própria, duvidando da sua própria força e razão de ser? Se calhar não, se calhar ter-se-ia de se afirmar: sou democrata, logo não admito a antidemocracia. Isto não parece nada democrático, mas se calhar este é um paradoxo inevitável e imperativo de resolver para garantir a existência da própria democracia. Se assim não for podemos arriscar aquele sentimento de valorização que só se obtém com a perda. Quem nunca valorizou algo ou alguém só depois de os perder? Espero que isso nunca aconteça para a democracia.