Polícia francesa evacua campos de imigrantes em Calais
Autoridades justificam operação pelo surto de sarna, activistas pediram ao Governo que encontrasse uma solução alternativa à expulsão e destruição dos acampamentos.
À chegada das forças de segurança e dos autocarros, descreve a AFP, a maioria dos imigrantes já tinha deixado as suas tendas ou saído debaixo das lonas com que se cobrem, rodeados de activistas que vaiavam os agentes da polícia antimotim. Imigrantes, activistas e jornalistas agruparam-se à beira da estrada, junto ao campo conhecido como “dos sírios”, onde vivem ainda muitos afegãos, num total de 400 pessoas.
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À chegada das forças de segurança e dos autocarros, descreve a AFP, a maioria dos imigrantes já tinha deixado as suas tendas ou saído debaixo das lonas com que se cobrem, rodeados de activistas que vaiavam os agentes da polícia antimotim. Imigrantes, activistas e jornalistas agruparam-se à beira da estrada, junto ao campo conhecido como “dos sírios”, onde vivem ainda muitos afegãos, num total de 400 pessoas.
O número de pessoas a viver nestes acampamentos improvisados tem crescido muito nos últimos meses e semanas, daí os alertas sucessivos de ONG e grupos de defesa dos direitos humanos. O objectivo da operação, afirmam as autoridades, é combater a "epidemia de sarna". “É um carnaval”, diz à AFP Cécile Bossy, dos Médicos do Mundo. “Eles nem sequer trouxeram os duches que deveriam estar aqui durante a evacuação”, explica, lamentando uma operação “nada profissional”.
Para além do campo “dos sírios”, situado à entrada do porto de Calais, o desmantelamento desta quarta-feira inclui ainda o acampamento “dos africanos”, junto a um canal, e um terceiro, situado numa praça das redondezas.
"Isto é triste, e não muda nada", disse à Reuters Jalal, um iraquiano de 20 anos. "Vou mudar a minha tenda para outro lugar mas daqui não saio. O que é que eu posso fazer. Vou tentar de novo atravessar. Não cheguei até aqui para desistir."
O presidente de Pas-de-Calais, Denis Robin, um dos departamentos em que a cidade está dividida, assegurou aos jornalistas presentes que o desmantelamento será “acompanhado de apoio e do realojamento dos imigrantes mais frágeis”.
Mas, na véspera, na carta enviada ao primeiro-ministro francês, Manuel Valls, várias associações avisavam que “nenhuma solução alternativa de abrigo” tinha sido proposta, antecipando várias consequências para esta expulsão: “errância das pessoas na cidade, controlos policiais diários, violência, desespero e tomada de riscos crescentes para tentar a passagem em direcção ao Reino Unido”.
Na última sexta-feira, um imigrante morreu esmagado pelo carro debaixo do qual tentava esconder-se para tentar chegar ao Reino Unido. Desde o início do ano, pelo menos seis outros imigrantes morreram a tentar a passagem.
Em 2002, o Governo francês encerrou o principal centro da Cruz Vermelha perto de Calais; desde então, no seu lugar, nasceram campos improvisados, sem quaisquer condições com uma população cada vez maior.
Em Pas-de-Calais, no noroeste da França, a Frente Nacional conseguiu 34% dos votos nas eleições europeias de domingo - um dos melhores resultados do partido de extrema-direita que há muito defende uma redução dramática da imigração e se opõe a Schengen, o acordo de abertura de fronteiras e livre circulação de pessoas dentro da União Europeia.