Resultados das europeias dão alento à maioria e reforçam coligação pré-legislativas

CDS dá aliança pré-eleitoral como mais provável mas ainda não garantida

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A coligação pode estar para durar Daniel Rocha

Com a proximidade face ao PS e a elevada abstenção, sociais-democratas e centristas começam a acreditar que é possível vencer as legislativas de 2015. Pelo menos não as dão como perdidas. Como o voto de protesto não se concentrou no PS e se fragmentou em várias forças políticas, a maioria acredita que ainda pode recuperar desta derrota sofrida.

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Com a proximidade face ao PS e a elevada abstenção, sociais-democratas e centristas começam a acreditar que é possível vencer as legislativas de 2015. Pelo menos não as dão como perdidas. Como o voto de protesto não se concentrou no PS e se fragmentou em várias forças políticas, a maioria acredita que ainda pode recuperar desta derrota sofrida.

Esse foi o sentido da frase do líder do PSD e primeiro-ministro, logo na noite eleitoral de domingo. “Todas as possibilidades estão em aberto para as legislativas”, disse Passos Coelho, rejeitando a ideia de que duas derrotas eleitorais, em autárquicas e europeias, não significam que o Governo fique “em grandes dificuldades para as legislativas”. A mensagem foi reforçada logo ali pelo líder do CDS, Paulo Portas: “Perdemos duas eleições, mas o provérbio pode não ser definitivo. Pode haver duas e não haver três”.

Um dia depois já António Pires de Lima, ministro da Economia e braço direito de Paulo Portas, veio dar nota do espírito da coligação: “Há condições para PSD e CDS vencerem as legislativas”.

A elevada abstenção também contribuiu para reforçar a ideia de que é possível disputar com o PS em condições razoáveis de igualdade as próximas legislativas. É que a maioria viu nessa opção a inexistência de um clamor geral para penalizar o Governo.

Num novo ciclo que se abriu este domingo, a perspectiva de uma aliança pré-eleitoral foi reforçada. No CDS começa-se a acreditar que só juntos os dois partidos conseguem derrotar o PS, mas ninguém quer dar como garantido esse cenário, a um ano e meio de distância das próximas eleições.

O vice-presidente do CDS Diogo Feio (que deixa agora de ser eurodeputado) assumiu na noite de domingo que “a coligação seguirá o seu trabalho até ao fim desta legislatura” e que “há condições, condições objectivas que vão crescendo para que assim se apresente em futuras eleições legislativas”. Uma posição que o dirigente centrista assumiu como pessoal.

Paulo Portas sempre esteve mais reticente em assumir a renovação da coligação pré-legislativas, depois de ter acordado essa aliança para as europeias com Passos Coelho na sequência da crise política de Julho do ano passado. Já Passos Coelho disse ver essa aliança para as legislativas como “natural” e admitiu essa possibilidade na moção ao congresso do PSD, em Janeiro passado.

Os sociais-democratas dizem não ter nenhum problema em ir a votos numa coligação pré-eleitoral com o CDS. E há quem ache que essa solução vai acabar por vingar quando os centristas se aperceberem que valem menos sozinhos nas urnas do que realmente representam. Custos que estarão a pagar das “indefinições do passado”, nas palavras de uma fonte social-democrata.

A solução de uma aliança pré-eleitoral acabou por ser reforçada neste domingo, numa altura em que as relações entre Passos e Portas tinham azedado nas semanas anteriores. É que o primeiro-ministro admitiu, em entrevista ao Expresso, uma coligação governamental com o PS nas legislativas. E isso caiu mal no CDS.

Factores de risco
Não é só a distância de ano e meio das próximas eleições que faz o CDS ser mais prudente em assumir uma aliança pré-eleitoral. A coligação tem ainda pela frente uma decisão do Tribunal Constitucional, que pode obrigar a medidas alternativas, e prepara-se ainda para elaborar o Orçamento do Estado para 2015, considerado o verdadeiro teste de resistência entre os dois partidos. Em cima da mesa está a questão do desagravamento fiscal do IRS, que é muito sensível para Portas.  

Há ainda outros factores considerados de risco nas próximas legislativas, como a erosão dos partidos do arco da governabilidade que se tem verificado em de eleição para eleição. PSD, PS e CDS somam agora perto de 59% dos votos quando já contabilizaram pouco mais de 75% (em 2004).

Os dois partidos da maioria preparam-se esta semana para dissecar internamente os resultados eleitorais das europeias em que o PSD perdeu dois eurodeputados e o CDS ficou sem o segundo. O PSD reúne a comissão política, as distritais e o conselho nacional já nesta quarta-feira.

O CDS antecipa para terça-feira a comissão política nacional. Para já há uma voz, o ex-líder do partido José Ribeiro e Castro, que considera o resultado “muito mau, o pior da história” dos dois partidos. No entanto, o deputado disse não ver “nenhuma razão para haver crise política”.