Filme dos últimos dias de uma batalha anunciada

Há muito tempo que Seguro e Costa travam uma batalha mais ou menos surda no PS. Nesta terça-feira foi declarada a guerra.

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Jorge Moreira da Silva considerou "irrealistas" as propostas do PSAntónio José Seguro quer união em torno de um "Governo credível"Pedro Mota Soares diz que PS é responsável por fim de negociações Nuno Ferreira Santos

Domingo

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Domingo

Pouco depois das 22h, num hotel de Lisboa, António José Seguro diz que o PS teve uma "grande vitória" nas europeias, e os partidos de direita PSD e CDS-PP tiveram uma derrota, afirmando ainda que o Governo “chegou ao fim”. "O PS teve hoje uma grande vitória. Uma grande vitória eleitoral", disse Seguro, lembrando que "esta é a segunda vitória consecutiva do PS", depois das autárquicas de 2013.

António Costa não estava presente na sala em que o PS festejou a vitória eleitoral.

Cerca de uma hora depois, na RTP, o ex-primeiro-ministro socialista José Sócrates considerou que a vitória do PS nas europeias é pouco expressiva, mas não justifica discutir a liderança de Seguro. "Não me parece. Como é que se discute um líder que ganha? Não faz parte do que é normal em política", defendeu José Sócrates, admitindo que a vitória do PS "não é muito expressiva", uma vez que não se situou acima dos 40%.

Na TVI24, o ex-ministro socialista Augusto Santos Silva considerou que “falta muito trabalho ao PS para ganhar as eleições legislativas”, afirmando que o partido “tem de olhar com cuidado para a pulverização de votos à esquerda”. “O PS lidera hoje a alternativa política em Portugal, esta nova vitória só reforça essa liderança, mas ainda é preciso muito trabalho. O PS tem de olhar com cuidado para a pulverização de votos à esquerda”, afirmou.

Já perto das 24h, no programa Quadratura do Círculo, na SIC Notícias, António Costa considerou que todos os socialistas devem estar alegres com a vitória nas europeias, mas também preocupados, porque nas legislativas não podem voltar a ter "uma vitória que sabe a pouco". "O PS ganhou, todos socialistas devem estar alegres com esta vitória, mas preocupados com o que é necessário fazer para que a próxima vitória não saiba a pouco", afirmou.

Logo após a saída dos resultados eleitorais, Carlos César recorreu à rede social Facebook para fazer a sua leitura. Embora reconhecendo não ser “politicamente negligenciável a vitória do PS”, o socialista viu nos pouco mais de 30% que os eleitores deram a Seguro que estes “têm dúvidas muito significativas sobre se lhe devem confiar para o futuro o exclusivo de execução desse novo rumo”. O principal partido, rematou, tinha de “melhorar para ser capaz de interpretar mais intensamente a esperança que falta a tantos portugueses”. Num post seguinte, depois de relatar um telefonema de um “apparatchik de serviço”, César insistiu na leitura de que a “vitória foi modesta”.
 
Segunda-feira

O antigo líder do PS Eduardo Ferro Rodrigues afirmou, em entrevista à TSF, que o resultado do PS soube a pouco, “não foi suficientemente impressionante”, mas desaconselhou a discussão da liderança de António José Seguro. “Não é aconselhável”, disse.

Vários membros da direcção socialista aparecem nas televisões e em público a lamentar que se esteja a desvalorizar a vitória do PS.

António José Seguro, em entrevista à TVI, afirma que não vai medir o tamanho da vitória socialista e deixa claro que não há razão para questionar a vitória do PS.

Pelas 20h, uma sondagem feita pela Intercampus para a TVI nas vésperas das eleições europeias tendo em vista as eleições legislativas dá uma escassa margem de quatro décimas de diferença entre o PS e o PSD. E mostra que PSD e CDS juntos valem mais dois pontos percentuais do que o PS. Num universo de 4004 entrevistas telefónicas, o PS obteve um resultado de 29,1% das intenções de voto, muito perto dos 28,7% alcançados pelo PSD. Como o CDS vale, nesta sondagem, 2,4%, pode concluir-se que os dois partidos da actual maioria voltariam a valer mais do que o PS, podendo teoricamente voltar a formar governo.

Terça-feira

Nas páginas do DN, o ex-Presidente da República Mário Soares admite que o resultado do PS nas eleições europeias representou "uma vitória de Pirro", que "não deveria ter sido aclamada com o entusiasmo com que o seu líder o fez". Mário Soares analisa os resultados das eleições para o Parlamento Europeu, que deram a vitória ao PS com cerca de quatro pontos de vantagem sobre a aliança PSD/CDS-PP, e defende que o Presidente da República, Cavaco Silva, deve demitir o Governo. Depois de recordar que os portugueses responderam ao apelo ao voto de Cavaco Silva com a "maior abstenção de sempre", Soares adverte que o PS não deve exorbitar o resultado de domingo, chegando  a colocar entre aspas a palavra "vitória".

Cerca das 12h, no Parlamento, a presidente do PS, Maria de Belém, afirmou respeitar todas as opiniões, mas frisou que, "se alguém tem dúvidas, o Partido Socialista ganhou as europeias e considerou "pouco inteligente" desvalorizar a vitória. "[O dr. Mário Soares] é uma pessoa que o PS respeita imenso, é um fundador do Partido Socialista, um fundador da democracia portuguesa, é um democrata ao qual todos nós devemos o restabelecimento das liberdades democráticas em Portugal e portanto terá sempre toda a liberdade para fazer a avaliação que faz. Está no seu direito, já fez muitas outras e é nosso dever respeitar essas opiniões como respeitamos todas as pessoas", declarou.

Pouco depois das 12h30, António Costa anunciava que está disponível para avançar para a liderança do PS. “Estou disponível para tudo e falarei amanhã [quarta-feira] com o secretário-geral. Estou disponível, não quero que haja qualquer tabu, qualquer equívoco, eu estou disponível para assumir as minhas responsabilidades”, disse.

De imediato começam a surgir reacções ora de apoio a Seguro, ora de apoio a Costa de membros de federações, distritais e de vários militantes do partido que revelam um PS dividido.

Pouco antes das 18h, Francisco Assis, cabeça de lista nas eleições europeias e ex-candidato a líder do PS, afirma no Porto que está ao lado da direcção do partido."Espero que não haja uma crise política, mas se acontecer, António José Seguro já disse que se recandidatará e terá o meu apoio, porque merece", afirmou.

Pelas 18h, o secretário nacional António Galamba diz ao PÚBLICO que a actual liderança não vai avançar para a convocação de um congresso extraordinário. “Quem quer que se realize um congresso extraordinário vai ter de cumprir as regras que estão nos Estatutos”, disse o dirigente, próximo de António José Seguro.

Às 19 horas a TVI revela uma declaração de Seguro, em que este diz que deve ser Costa a procurar os meios para ir a eleições.