Trazer Silicon Valley para cá do Atlântico

Podemos estar perante um conjunto de condições ideais para o surgimento de startups no Velho Continente.

Isto leva-nos a questionar várias situações, algumas tão simples como imaginar as razões para não existir um equivalente europeu do Twitter. Ou por que será que todos os negócios relevantes de startups – como a recente compra da WhatsApp pelo Facebook por 19 mil milhões de dólares (cerca de 14 mil milhões de euros) – só acontecem nos Estados Unidos? Um recente fórum da Allianz, em Berlim, analisou estas questões e procurou refletir sobre como a Europa se pode tornar num local mais atrativo para novas empresas.

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Isto leva-nos a questionar várias situações, algumas tão simples como imaginar as razões para não existir um equivalente europeu do Twitter. Ou por que será que todos os negócios relevantes de startups – como a recente compra da WhatsApp pelo Facebook por 19 mil milhões de dólares (cerca de 14 mil milhões de euros) – só acontecem nos Estados Unidos? Um recente fórum da Allianz, em Berlim, analisou estas questões e procurou refletir sobre como a Europa se pode tornar num local mais atrativo para novas empresas.

A crise económica na Europa tem elevado o desemprego jovem. Mas, apesar dos problemas que isso representa, não deixa de ser uma oportunidade de se aproveitar essa população de uma forma inovadora. No fundo, podemos estar perante um conjunto de condições ideais para o surgimento de startups no Velho Continente: essas gerações mais novas, ainda que com expectativas frustradas pela falta de emprego, são, no entanto, altamente qualificadas, o que as torna capazes de criar startups de sucesso. Por outro lado, já começam a existir diversos locais e eventos propícios ao florescimento de um ambiente empreendedor.

Em Portugal, por exemplo, existem incubadoras e aceleradores um pouco por todo o país, onde jovens e menos jovens empreendedores podem dar forma aos seus projetos e apresentá-los a potenciais investidores. Claro que nem todos vão atingir o sucesso dos fundadores de tecnológicas como a Google, Facebook ou Skype. Podem, isso sim, fomentar a criação de novas empresas e, com isso, promover a criação de novos postos de trabalho, estimulando dessa forma o crescimento da economia.

Os empreendedores portugueses necessitam, e muitos casos recentes mostram que essa já é uma realidade, de ser muito claros nos seus objetivos, percebendo onde estão as suas oportunidades de negócio. As startups nacionais, devido à reduzida dimensão do país e com um mercado global lá fora à espera de ser conquistado, precisam de ser direcionadas para o exterior praticamente desde o início. Os aceleradores fornecem-lhes as ferramentas que, muitas vezes, lhes faltam para poderem dar o salto, mantendo-se, no entanto, a funcionar cá dentro. Isso está, também, a verificar-se noutros pequenos países europeus, especialmente nos países do Leste da Europa, com casos notáveis na Estónia ou na Hungria, por exemplo.

Uma das questões fundamentais para ajudar ao florescimento das startups passa, claramente, pela simplificação da legislação, para uma rápida e eficaz constituição de novas empresas. Eliminando barreiras burocráticas à constituição de empresas, facilita-se a iniciativa e o empreendedorismo. A nossa figura da “empresa online” é, aliás, um bom exemplo disso. Mas, para além da legislação, quais são os fatores críticos para fomentar o crescimento de startups na Europa?

O principal obstáculo, sendo a conclusão do fórum de Berlim, continua a ser a falta de financiamento. Apesar de o capital de investimento europeu ter aumentado nos últimos anos, o investimento em startups no Velho Continente ainda é muito pequeno, comparado com Silicon Valley e o resto dos Estados Unidos.

Esta situação, por agora, deve-se bastante à falta de retorno financeiro. Na Europa, o retorno deste tipo de investimento é de 1,27%, desde os anos 80, comparado com os 3 a 4% observados nos Estados Unidos nos últimos anos. Isto para não falar dos astronómicos 40% registados nos Estados Unidos, só nos anos 90! Assim, os investidores europeus tendem a não investir em startups por não existir nenhuma razão para apostar nesse tipo de ativos, quando existem outros com maior capacidade de crescimento. Ainda assim, a proliferação de ecossistemas empreendedores na Europa tem revelado uma interajuda e uma rede de networking que não devem ser subestimados, uma vez que é consensual existir espaço para crescimento.

A Europa está a mudar, também ao nível das mentalidades, e isso vai ser, claramente, o desafio fundamental para assistirmos a uma verdadeira cultura de startups no Velho Continente. Temos, também nós, de saber aproveitar essas oportunidades para o futuro.

Director de Pessoas e Serviços Jurídicos da Allianz Portugal