Vitória tangencial impede PS de pedir legislativas
O PS ganhou mas apenas por um eurodeputado. A surpresa da noite foi Marinho e Pinto, bem como a subida da CDU. O BE elegeu só Marisa Matias, numas eleições em que a abstenção foi recorde.
Os socialistas elegeram oito eurodeputados, contra os sete de há cinco anos, e a coligação Aliança Portugal, que reúne o PSD e o CDS, desceu de dez para sete parlamentares em Bruxelas. Numa eleição em que a abstenção atingiu percentagens inéditas (66,09%) e que ficou marcada pela surpresa da eleição de Marinho e Pinto e de José Inácio Antunes Faria pelo Movimento Partido da Terra, assim como pelo facto de a CDU ter subido de dois para três eurodeputados (João Ferreira, Inês Zuber, e Miguel Viegas) e o BE eleger apenas Marisa Matias.
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Os socialistas elegeram oito eurodeputados, contra os sete de há cinco anos, e a coligação Aliança Portugal, que reúne o PSD e o CDS, desceu de dez para sete parlamentares em Bruxelas. Numa eleição em que a abstenção atingiu percentagens inéditas (66,09%) e que ficou marcada pela surpresa da eleição de Marinho e Pinto e de José Inácio Antunes Faria pelo Movimento Partido da Terra, assim como pelo facto de a CDU ter subido de dois para três eurodeputados (João Ferreira, Inês Zuber, e Miguel Viegas) e o BE eleger apenas Marisa Matias.
Sofrendo o desgaste de estar no Governo há quase três anos e nessa condição serem responsáveis pela política de austeridade que resulta do programa de intervenção acordado entre o Estado português, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, o PSD e o CDS viram fugir-lhes os votos e três cadeiras em Estrasburgo. Atingiram os 27,70% de votos expressos, ficando em segundo lugar, com uma diferença percentual escassa de menos de quatro pontos percentuais em relação ao PS.
Coligação perde três
Não se confirmou, assim, a derrota estrondosa da maioria governamental que chegou a ser esperada, mesmo por alguns dirigentes do PSD e do CDS. A perda de três eleitos em relação há cinco anos pode até ser relativizada pelo facto de a representação portuguesa em Estrasburgo ter baixado de 22 para 21 eurodeputados.
O líder da coligação, presidente do PSD e primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, não deixou de assumir a derrota eleitoral, mas foi definitivo na leitura nacional que dela fez. E recusou quaisquer consequências das europeias sobre a política nacional, assegurando mesmo a estabilidade do Governo. A seu lado, o presidente do CDS, Paulo Portas, subscreveu a leitura de que a maioria governamental não era abalada por esta derrota eleitoral.
Desta forma, embora seja um derrotado nesta eleição e não o ganhador da noite, como foi há cinco anos, o cabeça-de-lista Paulo Rangel não sofreu um resultado humilhante, antes teve uma derrota honrosa e contraria assim as piores expectativas.
Os centristas são, por seu lado, as principais vítimas na coligação desta noite eleitoral, elegendo apenas Nuno Melo para o Parlamento Europeu. O segundo nome do CDS, Ana Clara Birrento, a oitava candidata da lista da coligação Aliança Portugal, ficou à porta do hemiciclo de onde se sentam os representantes dos 28 Estados-membros.
PS ganha um
Mas se a derrota da coligação não é estrondosa, a vitória do PS também não é esmagadora. Com uma percentagem de 31,45%, os socialistas elegem oito eurodeputados. Mas não conseguem o nono eleito, que chegou a ser admitido pelas sondagens. O PS não consegue assim fazer regressar ao Parlamento Europeu, o dirigente histórico do guterrismo, Manuel dos Santos, que assim não acompanhará o regresso a Estrasburgo do cabeça-de-lista socialista, Francisco Assis.
A imagem de partido ganhador foi assumido neste domingo pelo líder socialista, António José Seguro, que não hesitou em rentabilizar de imediato o seu resultado eleitoral europeu para o plano da política nacional.
Sem nunca mencionar de forma explícita a ideia da antecipação das legislativas, nem pedir a queda do Governo, Seguro assumiu estar “preparado para Governar Portugal” e garantiu que a legitimidade eleitoral do actual Governo estava posta em causa.
Mas o entusiasmo de vencedor não foi contagiante a todo o PS. Comentando a noite eleitoral na SIC, António Costa mostrou o seu desagrado com os resultados e foi explícito a dizer: “Que a próxima vitória não saiba a pouco”.
Ganhador também é o resultado da CDU, que ao atingir os 12,68% elegeu João Ferreira, Inês Zuber e Miguel Viegas. O entusiasmo ganhador do PCP levou mesmo o cabeça-de-lista João Ferreira a defender cedo na noite eleitoral a ideia de que as próximas legislativas devem ser antecipadas. Uma tese que seria mais tarde reafirmada por Jerónimo de Sousa.
À esquerda o resultado positivo da CDU não se estendeu ao BE. O Bloco tinha eleito três deputados há cinco anos, Miguel Portas, Marisa Matias e Rui Tavares. Agora com apenas 4,56 %, o Bloco apenas consegue reconduzir a Estrasburgo e Bruxelas Marisa Matias, reflectindo assim a erosão eleitoral provocada pela mudança de liderança partidária.
Já Rui Tavares deixará Bruxelas, uma vez que o seu partido, o Livre, não conseguiu eleger nenhum representante, tendo ficado pelos 2,18%.
Surpresa Marinho
A surpresa da noite eleitoral foi o resultado do Movimento Partido da Terra, que atingiu 7,15% e elegeu dois eurodeputados: Marinho e Pinto e José Inácio Antunes Faria. Candidatando-se como independente, encabeçando a lista do MPT para estas europeias, Marinho e Pinto assumiu-se como a principal candidatura anti-sistema partidário tradicional e beneficiou assim com o descontentamento do eleitorado.
O sucesso da estratégia eleitoral de Marinho e Pinto é a versão de sucesso de uma candidatura com um perfil populista de rentabilizar com o desgaste da relação entre os eleitores e o sistema partidário. E tudo indica que tenha capitalizado parte do descontentamento com as políticas de austeridade que têm sido praticadas em Portugal.
A estreia de Marinho e Pinto na política como eurodeputado cria agora a expectativa do que poderá ser o percurso do MPT a nível nacional em eleições legislativas. O que somado à erosão eleitoral sofrida pelo Bloco cria a expectativa sobre uma transformação do perfil da Assembleia da República.
Confirmando as piores expectativas, a abstenção atingiu níveis inéditos em Portugal, ficando nos 66,09%. Foram assim ultrapassados todos os índices de abstenção da história eleitoral portuguesa.
Mesmo sendo expectável que a abstenção seria elevada, já que é sempre em eleições europeias que são atingidos os maiores níveis, o que é facto é que foi ultrapassada de forma expressiva os piores índices de outros anos, como 64,46%, em 1994, e 63,22%, em 2009.