Presidenciais na Colômbia são referendo às negociação com as FARC
Juan Manuel Santos, o actual titular, aposta na via negocial para a reconciliação. O seu principal opositor, Óscar Zuluaga, defende o retorno às políticas de combate militar.
A campanha de Santos esperaria que a esperança (ou probabilidade) da normalização da vida democrática na Colômbia depois de cinco décadas de insurreição armada fosse suficiente para lha garantir a vitória eleitoral, mas depois de uma campanha dura – e marcada por uma sucessão de escândalos –, o Presidente recandidato dificilmente conseguirá evitar uma segunda volta a 15 de Junho, em princípio contra o seu opositor “uribista”, o economista de direita Óscar Iván Zuluaga.
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A campanha de Santos esperaria que a esperança (ou probabilidade) da normalização da vida democrática na Colômbia depois de cinco décadas de insurreição armada fosse suficiente para lha garantir a vitória eleitoral, mas depois de uma campanha dura – e marcada por uma sucessão de escândalos –, o Presidente recandidato dificilmente conseguirá evitar uma segunda volta a 15 de Junho, em princípio contra o seu opositor “uribista”, o economista de direita Óscar Iván Zuluaga.
Os dois já estiveram do mesmo lado da barricada, tendo sido colegas no Governo do ainda poderoso e popular ex-Presidente conservador Álvaro Uribe. Mas entretanto derivaram no seu percurso político – e a bifurcação teve precisamente a ver com o dossier FARC: enquanto o liberal Santos aposta tudo na via negocial para a reconciliação, Zuluaga rejeita compromissos com os guerrilheiros e defende o retorno às políticas de combate militar à insurreição.
Santos e Zuluaga foram os grandes protagonistas da campanha, mas não são os únicos na corrida: desta vez, os colombianos têm no boletim de voto um leque alargado de concorrentes, representando projectos políticos bem distintos, desde o Polo Democrático de Clara López, mais à esquerda, passando pela Alianza Verde do centrista Enrique Peñalosa, até ao outro lado do espectro, com a candidatura de Marta Lucía Ramírez, do Partido Conservador.
Apesar da “diversidade”, não foram as diferentes propostas governativas que preencheram as manchetes nas últimas semanas de combate político, ou o confronto entre os candidatos – que não fizeram um único debate televisivo. Mais do que as promessas e as críticas habituais na campanha, na história desta eleição ficarão os “casos” que mancharam a reputação dos dois concorrentes favoritos: das alegações de pirataria informática e espionagem imputadas à campanha de Zuluaga, às acusações de corrupção e compra de votos com dinheiro do narcotráfico atiradas contra Santos.
Ambos negaram veementemente os factos relatados na imprensa. Óscar Iván Zuluaga referiu-se ao vídeo onde aparecia a comentar informação confidencial relativa às negociações do Governo com as FARC com o seu director de campanha para as redes sociais, Andrés Sepúlveda, como uma “manipulação” e uma “montagem”. Sepúlveda foi afastado da campanha, depois de ter sido detido e acusado pelo Ministério Público por suspeitas de intercepção de comunicações secretas e sabotagem do processo de paz.
Pelo seu lado, Juan Manuel Santos negou ter alimentado a sua campanha de 2010 com dinheiro do narcotráfico – ou ter voltado a recorrer aos “capos” da droga para suprir dívidas. O director político da campanha, Juan José Rendón, demitiu-se a uma semana da votação, depois de confirmar ter sido contactado pelos barões do narcotráfico para agir como intermediário num processo de rendição à justiça. Mas até agora não foi encontrado o rasto dos milhões de dólares dos traficantes nas contas da campanha de Santos.
Foi à custa dos escândalos que a campanha se tornou “competitiva” e até “dramática”, assinalaram vários analistas políticos, que há uns meses atrás previam uma corrida monótona e previsível: com a economia a crescer a um rimo de 4% em 2013, a inflação em baixa e a taxa de desemprego nos 9% e em queda, a reeleição de Juan Manuel Santos parecia facto consumado.
Assim, apesar do que ambos os lados rejeitam uma “guerra suja”, a eleição converteu-se numa espécie de referendo ao caminho a seguir com as FARC – apesar de as sondagens demonstrarem que a esmagadora maioria dos colombianos concorda que é “urgente” pôr fim ao conflito que já fez mais de 200 mil mortos, ainda existe uma grande incerteza sobre a melhor maneira de alcançar a paz.