Presidenciais na Ucrânia são decisivas, mas vão manter o país dividido

Sondagens apontam para a vitória de Petro Poroshenko. Iulia Timoshenko tem poucas hipóteses de forçar a realização de uma segunda volta.

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O Governo interino de Kiev pôs nas ruas 55.000 polícias KACPER PEMPEL/REUTERS

É já um lugar-comum dizer-se que as eleições presidenciais na Ucrânia são determinantes para o futuro do país, mas é pouco provável que algo mude nos próximos dias como se se tratasse de um passe de mágica – principalmente se o candidato mais bem posicionado, Petro Poroshenko, não obtiver os votos necessários para vencer à primeira volta.

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É já um lugar-comum dizer-se que as eleições presidenciais na Ucrânia são determinantes para o futuro do país, mas é pouco provável que algo mude nos próximos dias como se se tratasse de um passe de mágica – principalmente se o candidato mais bem posicionado, Petro Poroshenko, não obtiver os votos necessários para vencer à primeira volta.

O "rei do chocolate", como é conhecido, por ter feito fortuna com doçarias que inundam os mercados europeu, asiático e norte-americano, chega muito perto dos 50% nas intenções de voto, anos-luz à frente de uma das suas principais rivais, Iulia Timoshenko.

Nos últimos dias da campanha eleitoral – que passou ao lado das regiões de Donetsk e Lugansk, onde já não há dúvidas de que os separatistas pró-russos vão conseguir reduzir as eleições a nada mais do que uma simples palavra –, os apoiantes de Petro Poroshenko têm dramatizado o discurso: ou a Ucrânia sai deste fim-de-semana com o primeiro Presidente da República eleito após a deposição de Viktor Ianukovich, ou as três semanas de espera até à segunda volta vão ser o combustível de que os separatistas precisam para se entrincheirarem definitivamente no Leste do país.

A palavra de ordem seria "ou Poroshenko ou o caos", se a Ucrânia não vivesse já mergulhada no caos. Em vez disso, os cartazes do único oligarca que os manifestantes da Praça da Independência toleram prometem "Viver de uma forma nova!"

Olhando para as sondagens e para a generalidade dos media ucranianos, a vitória de Petro Poroshenko à primeira volta é quase um dado adquirido, mas uma sondagem conduzida em Abril por quatro institutos do país revela que há mais falta de alternativas nos boletins de voto do que entusiasmo à volta da sua figura – apenas 4,4% dos inquiridos consideram que o "rei do chocolate" é um homem honesto, e 39% reconhecem nele qualidades como "esperteza" e "boas maneiras", segundo o jornal Kiev Post.

O menor dos males
Não há fonte de informação que descreva Poroshenko como algo mais do que o menor dos males na lista de 18 candidatos às eleições deste domingo. Mas, na situação em que a Ucrânia se encontra, até o menor dos males pode ser suficiente para fazer o país respirar um pouco melhor nos próximos tempos.

Há quem veja no aparente distanciamento da Rússia em relação às milícias separatistas do Leste das regiões de Donetsk e Lugansk um sinal de que Petro Poroshenko é o homem certo na hora certa, com um discurso mais aceitável para todas as partes do que o da sua principal rival, Iulia Timoshenko – defende a aproximação à União Europeia, mas não fala de integração imediata; promete esmagar a revolta no Leste, mas não demoniza Vladimir Putin; quer reforçar a estratégia de defesa com países vizinhos como a Polónia, mas deixou cair a ideia de entrada na NATO.

Apesar de ter sido um dos primeiros alvos do Kremlin no braço-de-ferro sobre a Europa que começou no ano passado – com a suspensão da sua fábrica em Lipetsk, na Rússia, e o congelamento das suas contas bancárias em Moscovo –, Poroshenko é quase tudo o que Vladimir Putin quer: não se chama Iulia Timoshenko, tem boas ligações entre a elite política russa, é amigo do embaixador russo na Ucrânia, e é um cristão ortodoxo, salientava a revista alemão Der Spiegel na sexta-feira.

Agora que o Presidente russo já decidiu que irá "respeitar" o resultados das eleições de domingo, o principal problema é saber até que ponto as milícias separatistas pró-russas estão dispostas a ir para manter a votação o mais longe possível das regiões de Donetsk e Lugansk.

O Governo interino de Kiev pôs 55.000 polícias e 20.000 voluntários nas ruas, para assegurarem que o escrutínio decorra da melhor forma possível, e que os cerca de 1000 observadores internacionais da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa tenham condições para fazerem o seu trabalho.

Votar no Leste
Se há poucas dúvidas de que tudo vai correr bem em 85% do território, também há receios de que tudo pode correr mal no Leste e no Sudeste, onde vários milhões de eleitores terão muitas dificuldades para votar – a poucos dias das eleições, em Bilovodsk, junto à fronteira com a Rússia, nem metade das secções de voto tinha recebido boletins; em toda a região, estima-se que só será possível votar em um décimo dos locais. A pergunta é feita por várias organizações independentes: que legitimidade terá um acto eleitoral em que uma parte importante do país, em princípio, não poderá votar?

Nem a entrada em cena de Rinat Akhmetov, o homem mais rico da Ucrânia, parece ter mudado absolutamente nada na dinâmica do Leste, apesar dos apelos que lançou aos cerca de 300.000 trabalhadores da sua Metinvest para se manifestarem contra os separatistas pró-russos.

Mesmo depois de alguns protestos nas fábricas e nas ruas de Donetsk, e de três comunicações ao país em que acusou os separatistas de estarem a "aterrorizar" a população, Akhmetov não conseguiu mudar o problema de fundo: muitos dos habitantes do Leste estão fartos da violência, mas não estão necessariamente contra os pró-russos.

"Noventa e nove por cento dos trabalhadores estão contra as autoridades de Kiev", disse ao jornal Financial Times o dirigente sindical Vladimir Sadovoi. Dos seis mil trabalhadores da fábrica Enakievo, nos arredores de Donetsk, "apenas umas poucas centenas" aderiram aos protestos incitados pelo seu chefe, o multimilionário Rinat Ahmetov.

À primeira ou à segunda volta, mesmo o menor de todos os males – Petro Poroshenko – será insuficiente para unir todos os pontos cardeais do país; uma hipotética vitória de Iulia Timoshenko à segunda volta, por exemplo, provocaria ainda mais divisões, segundo uma recente sondagem do Pew Research Center, com sede em Washington, nos EUA.

Se é verdade que a maioria quer uma Ucrânia unida (93% na parte ocidental, 70% no Leste e 58% entre os russófonos), também é verdade que nenhum dos nomes incluídos nos boletins de voto das eleições de hoje é visto como o ideal para garantir esse desejo – se na região ocidental, mais próxima da União Europeia, a popularidade de Petro Poroshenko chega aos 80%, os valores dão um trambolhão para os 37% no Leste e caem ainda mais, para os 28%, entre os falantes de língua russa.

Timoshenko, a antiga primeira-ministra que cativou o Ocidente com a sua longa trança durante a Revolução Laranja, entre 2004 e 2005, parece ter sido definitivamente remetida para o fundo do baú da política – a nível nacional, de acordo com o estudo do Pew Research Center, 64% dos inquiridos querem vê-la bem longe do futuro da Ucrânia.