Foi em Agosto de 2009, no auge da crise financeira, que o preço do leite à produção atingiu o seu nível mais baixo, situando-se nos 0,274 euros por quilo. Um ano mais tarde, a cotação à saída da exploração aumentou para o nível de 0,29/0,31 euros por quilo, mantendo-se nesta base de oscilação ao longo de praticamente três anos.

Foi em Agosto de 2009, no auge da crise financeira, que o preço do leite à produção atingiu o seu nível mais baixo, situando-se nos 0,274 euros por quilo. Um ano mais tarde, a cotação à saída da exploração aumentou para o nível de 0,29/0,31 euros por quilo, mantendo-se nesta base de oscilação ao longo de praticamente três anos.

Uma diminuição da produção a nível global, com um aumento do consumo, especialmente centrado nos mercados emergentes, puxaram os preços para cima e o sector português acompanhou a onda. Mas os tempos mais próximos apontam para novo recuo no valor pago à produção.

Foi apenas no decurso do ano passado que o valor pago ao produtor entrou num ritmo sustentável de crescimento, atingindo os 0,377 euros por quilo em Dezembro de 2013, um registo historicamente elevado num sector que é muito dependente dos ciclos económicos e também dos efeitos sazonais que são influenciados pelas condições climatéricas e pela qualidade/abundância de pastagens.

Os factores que conduziram a um aumento generalizado da cotação foram uma diminuição sensível da oferta de leite a nível global, que não podia deixar de ter impactos em Portugal. “Verificou-se, ao mesmo tempo, um aumento do consumo de leite e de produtos derivados, nomeadamente nos países emergentes, que foi consequência de um quadro de recuperação da economia mundial”, adianta Fernando Cardoso.

A FAO, organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, afirma que a recuperação da produção foi particularmente sensível já no final do ano passado, com crescimentos da ordem de 1% para os Estados Unidos e a União Europeia e de mais de 4,5% nos caso da Nova Zelândia, um dos maiores produtores mundiais.

Os reflexos no preço destes incrementos produtivos não foram desde logo sentidos porque um dos maiores consumidores a nível mundial, a China, viu a sua produção cair de uma forma significativa, cerca de 5,7% em 2013, por comparação com o que saíra das explorações em 2012 e teve, por isso, que reforçar as compras no exterior, pressionando o nível de cotações numa escala global.

Mas esta brisa de sucesso para as explorações portuguesas não é sol para durar para todo o sempre. Fernando Cardoso afirma que “os níveis de produção continuam a recuperar em toda a Europa e, especialmente, no centro do Continente, o que tem implicações na formação do preço ao produtor”. “Para as entregas de Maio, o valor de referência está já abaixo entre 2 cêntimos e 2,5 cêntimos dos valores que vigoraram nos últimos meses”, acrescentou o responsável da Fenalac.

Os dados mais recentes do SIMA, Sistema de Informação dos Mercados Agrícolas, que funciona no âmbito do Ministério da Agricultura, mostram que a cotação do quilo de leite à produção (produtores individuais com sistema de ordenha mecanizada própria) estabilizaram em 0,372 euros, entre Janeiro de Março.

Fernando Cardoso recusa-se a especular sobre se esta tendência de queda irá manter-se por muito tempo ou se constitui, apenas, um fenómeno passageiro. “Antes, os ciclos de produção e preços eram muito mais previsíveis e muito mais situáveis no tempo. Estavam, geralmente, associados a questões mais sazonais, entre as quais as condições climatéricas e a disponibilização de pastagens. Agora, esses ciclos são muito mais imprevisíveis e mais longos”, sustenta o responsável sectorial.

A FAO, num relatório recente, alertava que a Nova Zelândia, maior exportador mundial, enfrenta neste momento uma quebra sensível de produção, cujos impactos ao nível dos preços estão ainda por medir.

À saída da fábrica

O Ministério da Agricultura disponibiliza, igualmente, dados sobre os preços do leite embalado, à saída das fábricas e a série estatística evidencia um cenário de clara estabilidade. Trata-se, no entanto, de valores que não traduzem a realidade do relacionamento entre as unidades de embalamento e os seus clientes.

Os dados avançados pelo SIMA referem-se aos preços de tabela a que cada unidade está vinculada. Mas raramente o preço de tabela é aquele que é praticado na comercialização do produto. O valor final depende da negociação entre produtor e distribuidor e, naturalmente, do peso negocial do cliente – que está sempre associado ao seu potencial de compras.

Mesmo assim, reflectindo a evolução do preço pago ao produtor, o chamado preço de tabela aumentou de forma substancial no início do terceiro trimestre do ano passado para 141% do valor base de referência, que é o de 2000 (ver gráfico). Tinha-se mantido estável, em torno dos 120%, desde o início do ano 2009. Este movimento estará, naturalmente, ligado ao aumento registado no período relativamente ao preço que estava a ser pago às explorações leiteira.