Pingue-pongue de insultos, o desporto favorito da campanha das europeias
Cabeça de lista do PS classifica Portas como “mestre de ilusionismo” que tira “um coelho da cartola” quando se sente em dificuldades. Isto depois da polémica do “vírus socialista”.
A troca de bolas correu sem grande velocidade, com algumas das jogadas de Seguro a baterem na rede e a voltarem para trás. Pelo meio, o líder socialista ia lançando as suas tiradas: “Não estou habitado a jogar com bolas laranja”. O jogo terminou com um ponto a favor de Seguro, que durante o embate nunca fez um “puxanço” (bater a bola com força para fora da mesa, de forma a impedir a resposta do adversário).
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A troca de bolas correu sem grande velocidade, com algumas das jogadas de Seguro a baterem na rede e a voltarem para trás. Pelo meio, o líder socialista ia lançando as suas tiradas: “Não estou habitado a jogar com bolas laranja”. O jogo terminou com um ponto a favor de Seguro, que durante o embate nunca fez um “puxanço” (bater a bola com força para fora da mesa, de forma a impedir a resposta do adversário).
É uma evidência que o estilo político de Seguro não é de fazer “puxanços”. Essa característica sobra a outros socialistas, nomeadamente ao histórico Manuel Alegre, que segunda-feira à noite puxou bem o braço atrás para deixar Paulo Rangel fora de jogo. Indignado por o candidato da direita ter falado, pouco antes, do “vírus socialista”, denunciou o “insulto” e acusou Rangel de não ter “memória histórica”. E foi então que fez um “puxanço” que foi parar à Alemanha. Uma Alemanha longínqua. “Há umas dezenas de anos, na Europa houve um partido que disse que os judeus eram um vírus que era preciso exterminar. O PS não é um vírus, é um grande partido da democracia e da tolerância”, denunciou.
Rangel não gostou. E, ao jeito do pingue-pingue, devolveu a acusação de “insulto”. Numa visita a uma fábrica exportadora de bacalhau, na Gafanha da Nazaré, o número um da Aliança Portugal mostrou-se indignado, repudiou as declarações e exigiu um pedido de desculpas aos socialistas. “Isto ultrapassou todos os limites”, afirmou, questionado pelos jornalistas, considerando que, “em qualquer outro país da Europa”, isto teria destaque em todos os media. “Vindo de quem vem, exige-se, da parte do PS, de Assis e de Seguro, um pedido de desculpas”, reclamou.
Confrontado, Francisco Assis decidiu que o jogo de pingue-pongue tinha de passar a ser jogado aos pares. E colocou-se ao lado de Alegre. Acusou Rangel de não conhecer a “história política europeia” e das “conotações” que a expressão “vírus” tinham. “Estamos a poucos dias do final desta campanha eleitoral. Acho que o dr. Paulo Rangel, muito francamente, deve ter juízo, porque ele passou esta campanha eleitoral a desferir permanentes ataques, em termos absolutamente inadmissíveis, ao PS”, respondeu já terça-feira ao fim da tarde.
A “glorificação” de Sócrates
Paulo Portas juntou-se de manhã a Paulo Rangel e a Nuno Melo na campanha para deixar a mesma mensagem que tem sido sublinhada pelos candidatos da Aliança Portugal. Um forte apelo ao voto lançado aos eleitores do PSD, do CDS e até do PS contra a “glorificação” do ex-primeiro-ministro socialista. “Usem o direito democrático à indignação. O que é que isto quer dizer? No domingo, saiam de casa, vão votar serenamente e travem esta glorificação de Sócrates”, afirmou o vice-primeiro-ministro, no final de uma visita à fábrica de transformação de bacalhau, em Gafanha da Nazaré, Aveiro.
Lembrando que Sócrates vai participar no último dia da campanha do PS, Portas quis vincar o significado dessa imagem na cabeça dos eleitores. “Eu apelo aos eleitores para pensarem bem quando virem José Sócrates — o homem que chamou a troika, o homem que assinou o memorando, o homem que nos levou ao precipício financeiro e que nos custou toda esta austeridade —, na próxima sexta-feira, ser levado em ombros pelo PS. Pensem bem”, frisou. Dirigindo-se também ao “eleitorado socialista que é gente decente”, Portas sublinhou que o PS não fez a revisão crítica do passado: “Uma coisa era chegar aos portugueses e dizer: ‘Nós reflectimos, sabemos que cometemos erros e comprometemo-nos a não repetir os mesmos erros’. Mas para isso Seguro não podia trazer Sócrates na campanha”.
Assis também não se ficou com o insulto ao seu ex-secretário-geral. Para o cabeça de lista do PS, o centrista estava a “fugir ao debate” da forma que era habitual. “O dr. Paulo Portas é o maior mestre de ilusionismo da política portuguesa. Quando está confrontado com dificuldades, procura tirar um coelho da cartola. Neste caso, o coelho que está mais à disposição não está em grandes condições e, por isso, vem com estas considerações”, afirmou.
Merkel no debate
Mais tarde, ao contra-ataque, Francisco Assis afirmou-se convicto de que o SPD não vai colaborar no “retrocesso ao projecto europeu” que representaria a escolha do presidente da Comissão Europeia (CE) pelo Governo alemão. Confrontado com notícias (ver pág. 11) de que Angela Merkel estaria a negociar uma solução “consensual” com os sociais-democratas (o SPD alemão integra o grupo do PS no Parlamento Europeu) para a CE, o candidato português mostrou convencido que o SPD “não estará disponível” para essa negociação.
Lembrando que o PPE também tem um candidato em campanha pela Europa — Jean-Claude Juncker, que ainda no passado fim-de-semana esteve em Portugal com Passos Coelho, Paulo Portas e ao lado dos candidatos da coligação —, Assis concluiu que a afirmação de Merkel revelava a “grande divisão no interior da direita europeia” e era mais um argumento para a “mudança” necessária na Comissão. Assis advertiu mesmo que, caso o compromisso assumido não fosse concretizado — que o presidente da CE seja o candidato do grupo europeu com mais representantes no Parlamento Europeu —, as consequências seriam “danosas” para as instituições europeias na sua relação com as pessoas.
Já Paulo Rangel considera “normal que os governos europeus “preparem cenários” para a composição da nova Comissão Europeia. Mas não acredita que a Merkel já tenha o candidato escolhido. “Não quer dizer que a chanceler esteja a negociar nas costas dos governos”, afirmou.
Mas, à noite, Marcelo Rebelo de Sousa veio dizer coisa diferente. Num jantar com apoiantes em Coimbra, o ex-líder do PSD salientou a importância de eleger Juncker, ex-primeiro-ministro do Luxemburgo: “Precisamos na Europa de alguém com experiência de Governo, que saiba a situação dos países pequenos e amigo dos portugueses. Essa é a razão fundamental: votar em Juncker, na Aliança Portugal, estamos aqui a fazer uma escolha fundamental para a Europa”, afirmou.