As plantas dominaram o exame do 4.º ano
Cerca de 110 mil alunos do 4.º ano fizeram esta segunda-feira a prova nacional de Português, com menos surpresas do que no ano passado, quando a prova foi reintroduzida no 1.º ciclo.
Antes de se separar dos alunos, já estes estavam de caneta preta numa mão e o cartão de cidadão na outra, o professor Sérgio Silva lembrou-os de que as indicações não estariam na prova por acaso, pelo que seria necessário lê-las “com muita atenção” antes de responder a qualquer pergunta. À saída, depois de o seu grupinho se ter juntado à sua volta a contar que o tema da composição era “muito fácil”, “um diálogo entre o pássaro e o girassol”, perguntou: “… E descreveram as personagens?” À volta soltaram-se vários “ups”, de brevíssima preocupação, antes da corrida aos baloiços.
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Antes de se separar dos alunos, já estes estavam de caneta preta numa mão e o cartão de cidadão na outra, o professor Sérgio Silva lembrou-os de que as indicações não estariam na prova por acaso, pelo que seria necessário lê-las “com muita atenção” antes de responder a qualquer pergunta. À saída, depois de o seu grupinho se ter juntado à sua volta a contar que o tema da composição era “muito fácil”, “um diálogo entre o pássaro e o girassol”, perguntou: “… E descreveram as personagens?” À volta soltaram-se vários “ups”, de brevíssima preocupação, antes da corrida aos baloiços.
Sérgio Silva ainda não tivera acesso ao enunciado, mas, de facto, a descrição das personagens era uma das instruções expressas, como reparou Luís, que fez sorrir o professor quando contou que descreveu o pássaro como “uma andorinha de muitas cores, com garras afiadas” e o girassol com uma planta “de caule e folhas brilhantes e cor-de-rosa”. “Pediam magia no texto?”, perguntou. Tal como previra – e alertara, no intervalo – o tema da composição pedida na segunda parte da prova estava relacionado com o texto narrativo da primeira, (“Uma semente de Girassol”, de Teresa Saavedra) e este com o texto informativo, sobre a sobrevivência da espécie e as técnicas de dispersão das sementes, da revista Quero Saber.
Um teste "bem construído, equilibrado e menos exigente do que de 2013 relativamente a conhecimentos prévios exigidos aos alunos", avaliou Filomena Viegas, da Associação de Professores de Português. E, de acordo com os professores da escola de Poiares, com um modelo muito semelhante ao do ano passado e já treinado nas aulas, um factor importante para fazer baixar o nível de ansiedade neste segundo ano de exames finais do 1.º ciclo. “Há um ano não se fazia ideia de que tipo de perguntas ia sair e não havia material das editoras para treino, agora foi mais fácil”, comparou uma professora do Centro Educativo de Santo André, onde se concentraram os alunos do concelho.
Confinados a uma sala enquanto as perto de 50 crianças do agrupamento faziam o exame, os quatro docentes do 1.º ciclo chegaram a perguntar-se quem estaria mais nervoso – se eles ou os alunos. Quando estes saíram para o intervalo – a maior parte aos 60 minutos, dispensando o período de tolerância de 20 – esperava-os uma verdadeira prova oral dos curiosos e inquietos professores.
Alguns dos garotos descreveram de forma serena e paciente a primeira parte do teste, dizendo de que tratavam o texto informativo e o narrativo; outros tentaram despachar os professores disparando uma torrente de informação: “Na gramática saíram a prefixação e a sufixação, os pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos, os verbos, os tipos de frases e agora posso ir comer, professora?”
Aquela professora não desistiu:
– Que verbos?
– Pôr, no pretérito imperfeito do indicativo.
– E o que é que respondeste?
– “Punham”.
No grupinho, há quem deixe escapar um “ah” de espanto: "Não era “puseram”!?"
No Centro Educativo de Santo André não foi preciso mandar crianças para casa para que os do 4.º ano fizessem exame. Os alunos do 1.º, 2.º e 3.º anos foram até aos bombeiros ou à biblioteca, durante a manhã. Os do 6.º ano, que também fazem exame nesta segunda-feira, estavam na escola EB, 2,3 e Secundária, não muito longe. Naquele concelho não há falta de escolas, mas de alunos. Primeiro fecharam as escolas dispersas e construíram-se os três centros educativos. Agora são esses que correm o risco de fechar portas. No de Arrifana, inaugurado há cerca de cinco anos, já só estão dois professores, um a dar aulas ao 1.º e 2.º anos, outro ao 3.º e 4.º.
Não foi assim em todo o país. Outros agrupamentos tiveram de interromper as actividades lectivas para garantir espaços, silêncio e a disponibilidade de professores vigilantes. Uma medida que os representantes dos directores consideraram inevitável, mas que indignou os dirigentes das confederações das associações de pais.