Alcina nunca ganhou mais de 2300 euros por mês: “Privo-me de muitas coisas”

Não é caso para ir para a fila da sopa dos pobres, mas a vida nas grandes cidades suíças é difícil mesmo para quem ganha acima dos padrões europeus.

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A democracia directa influencia muita da legislação suíça Reuters

“Estou em Genebra há um ano, sempre trabalhei na hotelaria de luxo, e o meu salário bruto nunca ultrapassou os 3400 francos brutos (2800 líquidos, o equivalente a 2300 euros). Privo-me de muitas coisas, não me alimento como devia”, explica Alcina Esteves de Almeida, uma portuguesa de 52 anos, divorciada, que vive sozinha num estúdio com uma renda de 1200 francos nos subúrbios de Genebra.

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“Estou em Genebra há um ano, sempre trabalhei na hotelaria de luxo, e o meu salário bruto nunca ultrapassou os 3400 francos brutos (2800 líquidos, o equivalente a 2300 euros). Privo-me de muitas coisas, não me alimento como devia”, explica Alcina Esteves de Almeida, uma portuguesa de 52 anos, divorciada, que vive sozinha num estúdio com uma renda de 1200 francos nos subúrbios de Genebra.

Para além do aluguer, Alcina tem que pagar 400 francos de seguro de saúde, os impostos, o telefone, o passe social (70 francos)…

“Quando tinha 18 anos vim para Genebra e trabalhei aqui durante dez anos na hotelaria: os salários nessa época não eram tão altos mas a vida era menos cara”, recorda a portuguesa.

Como Alcina Esteves de Almeida, um assalariado em casa dez, ou seja mais de 300 mil pessoas, ganha menos de 4000 francos brutos por mês. As contribuições sociais na Suíça podem calcular-se à volta dos 15%, segundo os sindicatos.

A iniciativa dos sindicatos que exige um salário mínimo de 22 francos (18 euros) brutos por hora – o que corresponde a um salário mensal de 4000 francos por 42 horas semanais – é combatida pela direita, o Parlamento e o governo, que a consideram um perigo para o emprego.

Os opositores – que deverão vencer o referendo segundo as sondagens – denunciam também um custo de vida diferente através do país, e sublinham que existem contratos colectivos de trabalho (CCT) por ramos profissionais, o que permite estabelecer um salário mínimo diferenciado.

Um falso argumento segundo os sindicatos. “As convenções colectivas cobrem mais ou menos 50% de trabalhadores”, explica o sindicalista Umberto Bandiera. O que significa que o copo está meio vazio, argumentam os sindicatos, sublinhando que muitos sectores escapam aos CCT, como o comércio a retalho, de vestuário, os call centers, a restauração e a hotelaria. Sectores onde as mulheres estão muito presentes e sofrem mais com a ausência de um salário mínimo, constata Françoise Messant-Laurent, professora de sociologia de trabalho na Universidade de Lausanne.

É o caso de “Emma”, uma italiana de 30 anos que prefere manter-se no anonimato, que trabalhou três meses como assistente administrativa numa sociedade ligada à relojoaria em Genebra por 3600 francos. Viver com o seu namorado foi a solução encontrada para pagar a renda de 2600 francos e a creche da filha.

Todos o dizem, a habitação pesa demasiado no orçamento. Em Genebra, por exemplo, por um T2 (dois quartos e uma sala), a renda média chegava quase aos 1500 francos no final de 2013, segundo as estatísticas oficiais. Na lista de despesas, seguem-se os impostos, muito elevados na Suíça, as facturas da luz, telefone e gás, os transportes, a alimentação. E os pequenos prazeres – um bilhete de cinema (19 francos) – não são para toda a gente.

“Quando eu vou ao supermercado, gasto cerca de 100 francos por semana”, diz Emma

Para “Mario”, um italiano de 25 anos que também não se quer identificar, o futuro é sombrio: trabalhou durante três anos como piloto de aviação numa empresa de Genebra por 2000 francos brutos. “Morava na região de Genebra com dois colegas, a dez minutos do aeroporto, cada um de nós pagava 700 francos por mês. Ao fim do mês não restava quase nada”. Impossível poupar e fazer projectos para o futuro.

Claro que nem Alcina, Emma ou Mário consideram estar numa situação que os leve à sopa dos pobres e os três reconhecem que é melhor trabalhar por um salário inferior a 4000 francos do que estar no desemprego.

Giuliana Mion, camareira num hotel de luxo de Genebra, acredita que as coisas vão melhorar pouco a pouco. Esta venezuelana de 31 anos, na Suíça há dois anos, vive com o marido, que está a estudar, a irmã e os seus pais. O seu salário: 3400 francos brutos (3000 líquidos). “Não vou ao cinema, não saio para me divertir. Vamos fazer as compras a França porque lá a carne é mais barata”, conta. Mas, diz a sorrir, “não passo fome e nós encontramos maneiras de fazer os nossos programas: ir ao lago, fazer um pic-nic”. Agnes Pedrero/AFP