O Próximo Futuro traz a América Latina a Lisboa
O programa de Verão do Próximo Futuro, da Gulbenkian, acontece no fim de Junho e início de Setembro
O Próximo Futuro da Gulbenkian quer que num mesmo programa de Verão possa haver lugar para as questões “polémicas” e simultaneamente para “uma dimensão mais lúdica”, escreve Isabel Mota, administradora da fundação, no texto de apresentação do programa.
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O Próximo Futuro da Gulbenkian quer que num mesmo programa de Verão possa haver lugar para as questões “polémicas” e simultaneamente para “uma dimensão mais lúdica”, escreve Isabel Mota, administradora da fundação, no texto de apresentação do programa.
Por isso, de 20 a 22 de Junho, a Gulbenkian acolhe os debates do Festival da Literatura e do Pensamento da América Latina, que vai reunir especialistas sul americanos e europeus para discutir o que é a identidade da América Latina, se ela existe ou não, e qual é o seu lugar hoje. Serão ao todo quatro debates com os temas O Estado das Artes, Política e Pensamento, Poesia na América Latina e Literatura na América Latina. Estes debates acontecem nos jardins da Gulbenkian, no Totem, o paralelepípedo concebido pelo atelier Subvert para o Próximo Futuro, e que quer materializar a ideia de América do Sul – ao reflectir nas suas paredes o exterior, os jardins da fundação, faz lembrar a floresta amazónica.
O lado lúdico do mês de Junho está no concerto dos Real Combo Lisbonense, no anfiteatro ao ar livre da Gulbenkian, no dia 21. A orquestra apresenta músicas de Carmen Miranda, a cantora que nasceu em Portugal mas cresceu desde pequena no Rio de Janeiro. A partir daí tornou-se conhecida em todo o mundo, tendo chegado mesmo a Hollywood, no final dos anos 1930.
A música brasileira voltará a estar em destaque mais tarde, a 13 de Setembro, no mesmo espaço, quando a brasileira Orquestra Pixinguinha na Pauta apresenta o concerto Outras Pautas – Pixinguinha em Concerto. Com regência de Pedro Aragão, os músicos tocam 15 temas que Pixinguinha, compositor brasileiro de choro, maxixe, valsa e polca, escreveu e orquestrou para o programa de música ao vivo O Pessoal da Velha Guarda, que se manteve na Rádio Tupi nos anos 40 e 50.
Em Setembro, nos dias 5 e 6, estreia-se a coreografia Puto Gallo Conquistador, da uruguaia Tamara Cubas. A co-produção da Fundação Calouste Gulbenkian com a coreografa quer questionar, no Palco do Grande Auditório da Gulbenkian, “a partir do imaginário colectivo, o passado e o processo colonial do Uruguai, onde a população indígena e a sua língua foram extintas”, lê-se no programa do Próximo Futuro.
Nos mesmo dias, acontece a estreia europeia de outro espectáculo de dança, no mesmo palco. É In-organic, coreografado e interpretado pela brasileira Marcela Levi em 2007 e que nesse ano foi considerado um dos dez melhores trabalhos de dança do ano pelo Jornal do Brasil e recebeu o Prémio Klaul Vianna de Dança, atribuído pela brasileira Funarte – Fundação Nacional de Artes. “Trabalho com 25 metros de colar de pérolas, uma cabeça de boi embalsamada, grampos de cabelo e um sinalizador de bicicletas”, escreve Marcela Levi no seu site sobre esta coreografia.
No âmbito do Próximo Futuro de Verão, a Gulbenkian traz em Setembro algumas encenações sul americanas a salas portuguesas – Otelo, a peça de Shakespeare dirigida por Jaime Lorca, Teresita Iacobelli, Christian Ortega e interpretada por actores e marionetas estará no Teatro Nacional D.Maria II, e no Teatro do Bairro apresentam-se Escuela, escrito e encenado pelo chileno Guillermo Calderón, La Reunión de Trinidad González e As Confissões de um Terrorista Albino, da companhia portuguesa de afrodescendentes Teatro GRIOT. Também a companhia do Teatro meridional, dirigida por Miguel Seabra, apresenta Pedro Páramo, a adaptação do romance com o mesmo nome do mexicano Juan Rulfo.
Há ainda dois filmes: Yvone Kane, exibido a 22 de Junho e Bijagós, a 15 de Setembro. O primeiro é uma co-produção da Gulbenkian com a Filmes do Tejo II, com interpretações de Beatriz Batarda e Gonçalo Waddington e realização de Margarida Cardoso. O segundo é um documentário português sobre o Arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau, onde uma comunidade isolada do resto do mundo acredita que “homens, natureza e espíritos formam um sistema colaborativo”, lê-se no programado Próximo Futuro.
Durante este programa, entre 20 de Junho e 7 de Setembro, está ainda patente na sala de exposições temporárias do edifício da Fundação Calouste Gulbenkian, a exposição Artistas Comprometidos? Talvez, comissariada por António Pinto Ribeiro e que reúne obras de artistas contemporâneos europeus, africanos e sul americanos.
O programa Próximo Futuro, iniciado pela Gulbenkian em 2009 quer prestar atenção e dar espaço à produção artística contemporânea das regiões africanas, europeias, da américa latina e caraíbas, que tem uma força crescente nos fluxos económicos e da população. “A importância das novas narrativas – que no caso dos países da América Latina e Caraíbas já começaram há mais tempo e que, no caso de África e alguns países do Oriente, são mais recentes – é fulcral para agir no próximo futuro”, escreve António Pinto Ribeiro, programador do Próximo Futuro no site deste programa.