Com Medeiros/Lucas no Taina Fest veremos Quixotes avançarem mar dentro

Pedro Lucas, criador dos O Experimentar na M'Incomoda, e o cantor Carlos Medeiros apresentam novo projecto este sábado no Taina Fest, em Lisboa, onde também veremos concertos de Nicotine's Orchestra, Jibóia da Mãe ou Alek Rein

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O duo começou há alguns meses a preparar nos Açores um álbum que será gravado no Outuno e que será editado no início de 2015 DR

Ouvimo-los nos últimos tempos nos O Experimentar na M’Incomoda, esse encontro fascinante de música tradicional açoriana com a contemporaneidade musical que o Ípsilon, lançado o segundo álbum, O Sagrado e o Profano, destacou como uma das melhores edições de 2012 (Lucas é o mentor do projecto, Medeiros colaborador e fonte de inspiração).

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Ouvimo-los nos últimos tempos nos O Experimentar na M’Incomoda, esse encontro fascinante de música tradicional açoriana com a contemporaneidade musical que o Ípsilon, lançado o segundo álbum, O Sagrado e o Profano, destacou como uma das melhores edições de 2012 (Lucas é o mentor do projecto, Medeiros colaborador e fonte de inspiração).

Serão agora Medeiros/Lucas e estão a preparar novo disco, inspirado pelas aventuras de um Dom Quixote imaginário que salta da Mancha para o mar que se prolonga dos Açores ao Mediterrâneo. Vamos ouvir canções “de aventura e desventura, de viagem física e existencial” na tal casa do Minho em Lisboa, num acontecimento chamado Taina Fest, co-organizado pela Lovers & Lollipops e pela Associação Terapêutica do Ruído. Lucas e Medeiros estarão  longe de sozinhos.

Taina é expressão criada a norte que designa refeição prolongada e farta de comes e bebes. No Taina Fest, pega-se no sentido gastronómico e junta-se-lhe outro tipo de fartura: a de sons, de concertos, de música, portanto. Nascido em Barcelos, teve posteriormente edições no Porto e estreou-se em Lisboa em Março. A segunda edição lisboeta acontece hoje e dificilmente poderia realizar-se em local mais apropriado: o Grupo Excursionista e Recreativo Os Amigos do Minho, na Rua do Benformoso 244, no Intendente (a entrada custa 5€ e dá direito a petisco).

Cá um baixo, um salão com o inevitável balcão onde se servem os petiscos e as bebidas. Lá em cima, no terraço com vista para os telhados da cidade e coberto pelos ramos e folhagens de videira, a música (estamos em Lisboa, mas a casa é do Minho). Ao longo da tarde (o início está marcado para as 16h, o fim para as 22h), ouvir-se-á Jibóia da Mãe, ou seja o encontro sem rede entre a guitarra eléctrica de Jibóia e a clássica de Filho da Mãe (20h30), o rock e a soul “muy caliente” de Nicotine’s Orchestra (19h30) ou as novidades de Alek Rein (18h30), músico da folk e do psicadelismo de quem se esperam maravilhas quando se decidir por fim a dar sequência ao óptimo EP Gemini. Antes de todos eles, entre Lisboa e o Minho, abrir-se-á às 17h30 um outro espaço.

Juntam-se Pedro Lucas e Carlos Medeiros, o cantor terceirense de voz profunda que Lucas homenageou no nome do seu trabalho anterior (O Cantar na M’Incomoda é o título de um álbum que Medeiros editou em 1998, mais um nascido das recolhas musicais realizadas nas ilhas e que têm sido a base do seu trabalho). Lucas, nascido no Faial e habitante de Copenhaga há vários anos, conta que após um concerto em Ponta Delgada, ofereceu-se para produzir um novo disco de Medeiros. Este lançou-lhe uma contra proposta. Que o fariam, mas seria obra conjunta. “Depois, fomos passar uns dias para as traseiras de São Miguel, numa casa junto ao mar e andámos à procura”, conta Pedro Lucas. Gravaram algum material de Medeiros e enfiaram-se depois na biblioteca a procurar autores que dessem palavras à ideia que tinham. “Algo de quixotesco, mas em que a noção de quixotesco é bastante lata”: “Substituímos o cavalo e o burro de Dom Quixote e Sancho Pança por botes e marinheiros”.

Recolheram poemas de sefarditas ibéricos do século XVI, versejares tradicionais ou um relato da batalha naval do Lepanto, que em 1571 opôs a Liga Santa cristã e a esquadra do Império Otomano. “As crónicas de guerra, os sonhos e a aventura, de que [enquanto açorianos] não é possível escapar [dada a imensidão do mar em volta] e o mais corriqueiro, o mais terra-a-terra da marinhagem”, ilustra Pedro Lucas.

As maquetas a que tivemos acesso, primeira amostra de um álbum que será gravado no Outono e editado no início de 2015, mostram uma música de que está ausente a justaposição entre a produção electrónica e as recolhas que eram a identidade do Experimentar na M’Incomoda. Tudo gira à volta da voz preciosa de Carlos Medeiros, suportado por guitarra eléctrica, percussão discreta e alguma electrónica. “Apesar das texturas electrónicas, a intenção era que a música fosse mais orgânica. Tinha vontade de trabalhar de forma diferente e investir mais em canções originais”, explica Pedro Lucas.

No Taina Fest, apresentar-se-ão acompanhados de Pedro Gaspar, que cuidará da electrónica. A intenção é mostrar as novas canções em formato “cru, despido”. Ou seja, Medeiros/Lucas em construção. E nós com o privilégio de testemunhar a viagem enquanto esta acontece.