Blogger Yoani Sanchez lança o primeiro jornal digital em Cuba

Vai chamar-se 14ymedia e pretende falar do que se fala na ilha comunista a partir de dentro.

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Yoani Sanchez quer fazer um jornal para "falar da necessária transição" de Cuba JOSE CASTANARES/AFP

A publicação on-line terá o nome 14ymedia, por causa do ano de lançamento, mas também por ser no 14º piso num prédio em Havana que a blogger, nomeada pela revista Time em 2008 como uma das 100 pessoas mais influentes no mundo, tem denunciado casos de corrupção, de censura e de desrespeito pelas liberdades individuais pelo Governo agora comandado por Raúl  Castro.

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A publicação on-line terá o nome 14ymedia, por causa do ano de lançamento, mas também por ser no 14º piso num prédio em Havana que a blogger, nomeada pela revista Time em 2008 como uma das 100 pessoas mais influentes no mundo, tem denunciado casos de corrupção, de censura e de desrespeito pelas liberdades individuais pelo Governo agora comandado por Raúl  Castro.

“Será um caminho difícil, nas últimas semanas assistimos a uma propaganda oficial para diminuir e até demonizar o nosso trabalho na tentativa de transformar a comunicação social”, escreveu Sanches no seu blog Generación Y.

A ideia de fazer um jornal digital surgiu quando “estava a discutir com um amigo sobre a importância do jornalismo na situação cubana actual”, diz Sanchez. “Ele queria-me convencer a entrar num partido de oposição e eu lembrei-o que um repórter não deve ter qualquer tipo de militância.” Depois desta conversa, decidiu criar o jornal.

Será “um espaço para falar de Cuba dentro de Cuba”, promete Yoani Sanchez. “Um meio que esperamos que venha a ajudar e acompanhar a necessária transição que vai acontecer no nosso país. Um espaço dedicado à história de uma realidade onde há pessoas como o meu amigo, mas também outros que aplaudem o sistema actual, por convicção, oportunismo ou medo.”

Reinaldo Escobar, marido de Yoani Sanchez, faz parte da equipa de jornalistas – no total são 11. Além de dois jornalistas profissionais, participam um dentista, um engenheiro civil e um cabeleireiro, esclareceu Sanchez à Reuters. A equipa não será remunerada. “Isto não é ganhar a vida; é uma paixão.”

Seis dos nove jornalistas que vão trabalhar na publicação já foram interpelados por agentes de segurança do Estado, disse Sanchez. “Foram pressionados por agentes, que para tentar dissuadi-los disseram-lhes que eu era uma má pessoa” afirmou à Reuters.

A fim de se evitar mais problemas com as autoridades cubanas, a publicação não terá escritório em Havana, nem conexão por e-mail: os repórteres escreverão as notícias nos seus telemóveis privados, enviarão para o servidor do site acedendo ao wi-fi público em hotéis locais.

A crítica pública sobre o sistema comunista cubano pode ser considerada propaganda ao inimigo e é punível com penas de prisão duras. As autoridades cubanas consideram geralmente todos os adversários como “mercenários” a serviço dos Estados Unidos e já denunciaram Yoani Sanchez como a ponta de lança de uma “ciberguerra” lançada por Washington contra Cuba.

Com financiamento inicial de 110 mil euros, o site foi concebido na Europa. O financiamento veio de pequenos doadores. “Não aceitamos nenhum dinheiro dos governos, somente a partir de pessoas ligadas ao jornalismo”, disse Sanchez à agência Reuters.

Apesar dos esforços, a maioria dos cubanos não poderá ler a nova publicação. Numa população de 11,2 milhões, só 2,6 milhões têm acesso à Internet. E mesmo assim, o Governo controla quais os sites que podem ou não ser visualizados.  

Editado por Clara Barata