Entre o antes e o depois da fotografia, Henri Cartier-Bresson
“Il ballerino!”, disse em voz alta um italiano. E num ecrã um homem parecia bailar. Punha-se em bicos de pés. Esticava-se, contorcia-se, levantava ligeiramente um pé, outro, até encontrar uma zona de equilíbrio. Fazia movimentos repentinos (meio contorcionistas, meio apalhaçados), erguia o pescoço, espreitava, talvez no encalço de um enquadramento capaz de juntar na mesma linha “cabeça, olhar, e coração”. E, caso esse momento se lhe oferecesse, disparava.
O palco deste “bailarino”, deste caçador — fato completo, alto, esguio —, é a rua em bulício, no meio de muitas pessoas, carros a passar, caixas de fruta empilhadas. E o nome é Henri Cartier-Bresson (1908-2004), o fotógrafo superlativo, o dono do olhar que nos deixou boa parte da iconografia fotográfica mais reconhecível (mais matricial e inovadora também) do século XX.
Esta amostra da frenética coreografia que Cartier-Bresson punha em prática no seu trabalho foi retirada do documentário-entrevista L’Aventure Moderne (1962), de Roger Kahane, e é-nos mostrada já perto do fim da grande retrospectiva que o Centro Pompidou, em Paris, dedica ao fotógrafo francês (a primeira na Europa depois da sua morte). À frente do ecrã, juntam-se pequenos grupos, que, entre risos pela forma desconcertante como este homem se movimentava de Leica na mão, descobrem um modo de actuação afinal cheio de hesitações, longe da imagem de “fotógrafo-matador” (implacável na caça) que se foi construindo à volta de Henri Cartier-Bresson, talvez o nome que mais se confunde com o da arte a que mais se dedicou: “Observar, observar, observar”. “É pelos olhos que compreendo”, disse um dia o fotógrafo que detestava ser fotografado (e de aparecer em público, de ser reconhecido).
Até se chegar ao complexo (e divertido) jogo de pernas cartierbressoniano da exposição (que fica em Paris até 9 de Junho e depois se aproxima de nós: estará na Fundación Mapfre de Madrid de 28 de Junho até 8 de Setembro), é preciso passar por centenas de fotografias (a maior parte cópias de época), muitas das quais imediatamente reconhecíveis por quem tenha o mínimo de cultura visual (não necessariamente ligada à fotografia). Esta opção de manter um bom número de imagens-cliché não é só inevitável — é também consciente e serve para sublinhar uma selecção mais secreta (e politizada), verdadeiro contraforte na interpretação de uma obra que pode não ser assim tão conhecida como se pensa que é. Uma obra conceptualmente muito diversificada, também contrariamente ao que se pensava, e isto muito por culpa do autor, que sempre lutou por dar a máxima unidade formal ao seu trabalho, por si controlado meticulosamente (em reproduções, exposições e livros) ao longo da vida.
Até à sua morte, Cartier-Bresson fez questão de supervisionar todas as mostras que incluíssem imagens suas, garantindo que as tiragens eram feitas apenas para essas ocasiões, em um ou dois formatos e utilizando papéis fotográficos com a mesma qualidade de grão, tonalidade e superfície. Sempre dedicou um cuidado extremo às exposições e, muitas vezes, foi enquanto as organizava que tomou decisões cruciais acerca do rumo do seu trabalho.
Além do instante decisivo
A maneira como as imagens de Cartier-Bresson foram sendo circunscritas ao mundo muito particular do seu próprio criador é muito devedora da famosa noção de “instante decisivo”, que tem tanto de certeira como de redutora. O fotógrafo utilizou parte de um axioma de Jean-François Paul de Gondi (1613-1679), cardeal de Retz, segundo o qual “não há nada no mundo que não tenha o seu momento decisivo”. Estas duas últimas palavras acabaram por formar o título do prefácio que assinou no seu primeiro livro, Images à la Sauvette, publicado em 1952, naquele que é o seu primeiro (e mais profundo) texto sobre fotografia, a forma como concebe a sua prática, a sua ética e a sua metodologia. Ao defender que os fotógrafos deviam procurar captar o “instante decisivo”, Cartier-Bresson acabou por estampar um carimbo estilístico em cima das suas imagens que com o passar dos anos se foi tornando mais um empecilho do que uma marca distintiva ou um modelo a seguir. É um selo que acabou também por se transformar numa sanguessuga capaz de esvaziar as imagens de alguma dinâmica perceptiva relacionada, por exemplo, com imaginário acerca do que pode estar antes ou depois. Ou simplesmente de as esvaziar do acidental. Mas para além desta muralha, o mestre francês foi capaz de erguer outra, porventura ainda mais alta, quando, em 1979, decidiu criar a master collection, uma selecção de 385 fotografias que considerava as melhores do seu arquivo e que destinou a instituições internacionais com o objectivo de fornecer o derradeiro mosaico do seu trabalho. Foram impressos seis jogos de provas, quatro dos quais estão em museus de França, Japão, EUA e Reino Unido. Mas, passado algum tempo, foi o próprio a autorizar que a essa primeira escolha se acrescentassem mais fotografias ou que, quando mostradas em público, se fizessem outras escolhas. E por aqui já se percebe como as imagens fotográficas, por mais extraordinárias que sejam, convivem mal com demasiados espartilhos, nomeadamente com os que tentam impor leituras (preconceitos, chaves de leitura) antes de chegarem à percepção de cada um.
Não é de estranhar que em todos os textos assinados no catálogo da exposição do Pompidou se refira a parangona do “instante decisivo”. Mas desta vez não é para a elevar aos píncaros pela expressão que terá conseguido impor nas fotografias de Henri Cartier-Bresson, mas justamente para a relativizar e para tentar distanciar esta retrospectiva do anátema que o fotógrafo lançou sobre as imagens que foi registando ao longo de mais 70 anos. “A não ser que se quisesse refazer sempre a mesma exposição e o mesmo livro, torna-se evidente que, apesar de conter a maior parte dos seus maiores ícones, a master collection não permite apresentar uma obra em toda a sua diversidade criativa”, refere o texto de introdução do monumental catálogo organizado por Clément Chéroux, comissário da mostra e um dos maiores especialistas do trabalho de Henri Cartier-Bresson. Ali o “instante decisivo” é atribuído à necessidade que os exegetas têm de encontrar alguma coisa que simbolize a “unidade da obra” do fotógrafo, e que, numa expressão, resuma “o génio da composição”, a “capacidade de movimentação” ou sua “habilidade para estar no sítio certo“.
A tentativa de libertar as imagens de Cartier-Bresson da armadilha (e da expectativa) do “momento do tudo ou nada” é um dos desafios assumidos nesta empreitada levada a cabo pela equipa do Pompidou e pela fundação com o nome do artista (foram precisos três anos para concluir a estrutura da exposição). Nas duas últimas retrospectivas, em 2003, na Biblioteca Nacional de França, também em Paris, e em 2008, no Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova Iorque, o espectro desta chave estética (que muitos consideram mais uma regra de conduta moral e social perante a sua prática fotográfica) ainda esteve muito presente. Na primeira, em jeito de homenagem comissariada pelo editor Robert Delpire (criador da mítica colecção Photo Poche), a presença em vida de Cartier-Bresson (que inaugurou no mesmo ano a sua fundação) terá necessariamente condicionado as principais orientações, que privilegiaram as fotografias “clássicas”. Na segunda, da responsabilidade de Robert Galassi (antigo conservador-chefe de fotografia do MoMA), foram preferidos critérios temáticos e geográficos objectivamente mais voltados para os trabalhos que fossem “sinónimos do instante decisivo”.
Agora, a partir de mais de meio milhar de fotografias, desenhos, pinturas, filmes, livros e outros documentos gráficos, a exposição de Paris (que tem sido um enorme sucesso de bilheteira, com tempos de espera para entrar que podem chegar às duas horas) reclama o ceptro do “inédito”, se é que tal classificação pode ser ambicionada para um fotógrafo como Cartier-Bresson, cujo trabalho tem sido mostrado à exaustão. O ponto de partida de Chéroux foi o coração da sua obra: as mais de 30 mil reproduções de época que estão à guarda da fundação. Para além destas, foram consultados e estudados provas de contacto, livros, escritos (notas, cartas…) e as poucas entrevistas de fundo que concedeu. Foram ainda ouvidos testemunhos de quem com ele privou. Esta abordagem (“decididamente histórica”) teve por objectivo “refazer” as leituras da obra “não de um, mas dos vários Henri Cartier-Bresson”, que se foram moldando às circunstâncias de tempo e espaço. Hic et nunc (latim para “aqui e agora”) era uma expressão muito cara ao fotógrafo e é usada pelo comissariado para indicar o princípio geral que se quis aplicar a esta retrospectiva, como quem tenta fazer regressar à terra uma nave espacial que andou perdida no cosmos. “O Henri Cartier-Bresson que aqui se tratou não é utópico nem anacrónico (…), é um Henri Cartier-Bresson em contexto”.
Três Cartier-Bresson
As grelhas de análise que tradicionalmente se utilizam para situar a obra de Cartier-Bresson dividem-se em duas tendências muito distintas. Uma, assente sobretudo na historiografia americana, atribui às fotografias o estatuto de “obra” dentro do contexto das artes plásticas, essencialmente as imagens produzidas durante os anos 30. Outra, de raiz francesa, enquadra a produção de Cartier-Bresson a partir das qualidades fundamentais atribuídas à fotografia, a partir da reportagem e da edição e, apesar de reconhecer valor plástico às suas imagens, jamais descarta a sua qualidade como documento, preferindo os trabalhos do pós-guerra, das décadas da cooperativa Magnum, que ajudou a fundar em 1947.
A retrospectiva do Pompidou tenta fugir a uma abordagem maniqueísta, descartando a tentação de “pôr em oposição” ou de “reconciliar” estas duas visões tão díspares da obra do mestre francês. Sem renegar uma e outra, propõe a sua própria visão assente em três pilares fundamentais. O primeiro, que se refere à produção feita entre 1926 e 1935, é profundamente marcado pelo contacto com tertúlias de grupos ligados ao surrealismo, inclui as primeiras fotografias captadas com uma Brownie Box, e as grandes viagens pela Europa, pelo México e pelos EUA. O segundo, que se inicia com o regresso dos EUA e termina com uma nova viagem para Nova Iorque, em 1946, é determinado pela militância política, pelo trabalho para a imprensa comunista, pelo cinema e pela guerra. O terceiro começa com a criação da agência Magnum e conclui-se no início dos anos 70, depois de ter decidido abandonar progressivamente a fotografia de reportagem para se dedicar a algumas das suas primeiras aspirações artísticas, o desenho e a pintura.
Entre as dualidades típicas do pré e do pós-guerra, a do artista e a do repórter fotográfico, o período do meio acabou por se tornar menos conhecido. No entanto, é talvez aquele que melhor ajuda a perceber todas as escolhas de carreira e de estilo que se seguiram e que tornaram Cartier-Bresson um nome fundamental da afirmação do fotográfico como um suporte moderno, poderoso e eficaz para comunicar, testemunhar e denunciar. Numa tentativa de revelar as principais orientações do seu olhar e os assuntos em que decidiu investir mais tempo, esta retrospectiva tem a virtude de trazer um número considerável de documentos originais e de publicações de época. As reportagens que realizou para a imprensa comunista (Regards, Ce Soir…), por exemplo, são mostradas com grande destaque e começam a revelar um gosto pelos “assuntos sociais”, de pendor humanista, como a pobreza, as crianças na rua, a joie de vivre (um género muito parisiense) ou as manifestações de rua.
Mas uma das primeiras coisas que espantam nesta mostra é o talento precoce de Cartier-Bresson no olhar certeiro e, sobretudo, na eficácia da composição da imagem fotográfica, um olhar moldado pelo desenho e pela pintura, que aprendeu, no final dos anos 20, na academia de André Lothe (1885-1862), pintor e escultor fauvista e cubista, que incute no fotógrafo a obsessão pela geometria visual. É nessa altura que começa a frequentar também os círculos surrealistas e a fazer colagens muito influenciadas pelo amigo Max Ernst (que foi chamado para o momento em que Cartier-Bresson disse ao pai que seria fotógrafo, quando tinha 22 anos). A partir deste caldo de influências diversificadas forma-se uma exigência cada vez maior, e um olhar clínico que se revela essencialmente a partir da primeira viagem a África, entre 1930 e 1931, que tinha como missão a procura de negócios para as empresas da família, ligadas ao algodão e aos tecidos. Um grupo de amigos americanos (Julien Levy, o primeiro a expor o seu trabalho nos EUA, Caresse e Harry Crosby, Gretchen e Peter Powel, que tinham uma cultura fotográfica muito actual e apurada) dão-lhe a conhecer, entre outros, Eugène Atget (1857-1927), uma das principais influências das primeiras fotografias de Cartier-Bresson (manequins, vitrines, fontes tipográficas de velhas lojas, santos…), bem como a corrente germano-soviética da Nova Visão (ângulos radicais, composições geométricas, repetição de motivos…).
“Um duro prazer”
É um Henri Cartier-Bresson cheio de informação, um tubo de ensaio artístico, aquele que decide dedicar o seu talento e o seu saber “à arte” (prefácio de Images à la Sauvette). Sedento de aventura e depois de despachar os negócios que o levaram ao continente africano — Costa do Marfim, Camarões, Togo e Sudão —, Cartier-Bresson entrega-se à fotografia. Manda rolos para França e, numa carta à mãe, mostra-se curioso com o resultado da revelação. “Tenho tirado muitas fotografias”, diz na missiva de Janeiro de 1931.
O exotismo, a antropologia visual e toda mística, muito em voga na época, acerca do “continente negro” não lhe interessaram. Preferiu o movimento das pessoas e o frenesim das ruas, o quotidiano. A experiência africana foi de tal maneira intensa que, quando regressou a França, decidiu fazer da fotografia o seu modo de vida, a sua expressão plástica, a ferramenta através da qual tentou compreender e (apreender) o mundo. O empurrão definitivo foi dado por uma fotografia do húngaro Martin Munkácsi (1896-1963), que Cartier-Bresson viu na revista Arts et Métiers Graphiques e em que três rapazes correm rumo às vagas do lago Tanganica. “Fez-me perceber imediatamente que a fotografia poderia atingir a eternidade através do momento. É a única fotografia que me influenciou. Há nela tal intensidade, espontaneidade, alegria de viver e prodígio que ainda hoje me sinto deslumbrado”, escreveu em 1977.
Com as fotografias de África e as que tirou nos meios surrealistas, no final dos anos 20, constrói o First Album (disponível digitalmente numa das primeiras salas da retrospectiva): não mais do que algumas dezenas de imagens coladas num caderno de argolas, mas que revelam claramente a intenção de fazer escolhas e delinear um estilo. A partir de então, passa a pôr os pés ao caminho não para viajar, mas para fotografar. No final de 1931, parte num velho Buick rumo a Berlim, Budapeste e Varsóvia. Em 1932, volta a partir para Itália e depois para Espanha (Alicante, Barcelona, Valência, Toledo, Madrid, Sevilha), altura em que, para muitos, terá realizado as suas melhores fotografias, aquelas em que se revelam alguns dos traços de estilo e de conteúdo que o acompanhariam. Há composições muito cuidadas, linhas fortes e geometrizantes, picados e contra-picados para mostrar o movimento de pessoas, a rua, o trabalho, o lazer e as condições de vida.
Seguindo os famosos “exercícios de purificação” dados por Lothe para chegar às composições perfeitas, através das regras da “divina proporção”, Cartier-Bresson movimenta-se à procura de “um ritmo da superfície”, das “linhas” e dos “valores”, mas não esquece, no entanto, o papel da “sorte objectiva”, que se consegue através da “sensibilidade”, da “intuição” e de uma “capacidade de antecipação”. E se há coisa que não se pode negar a esta retrospectiva é a forma como, na diversidade, procura mostrar a capacidade de Cartier-Bresson em unir estes dois talentos numa prática fotográfica sempre perseguida pela ambição da “síntese”. Mesmo quando o cinema parecia ganhar mais espaço na sua carreira (deixou vários documentários sobre a Guerra Civil de Espanha e participou em filmes de Jean Renoir, como assistente e actor), o olhar cirúrgico influenciado pela fotografia manteve-se. E, enquanto se dedicou mais às câmaras de filmar, não deixou o ofício que paradoxalmente considerava um “duro prazer”, fotografando intensamente para a imprensa comunista.
Em 1943, depois de se ter evadido de um cativeiro de três anos às mãos dos nazis, regressa à imagem fotográfica para abraçar a foto-reportagem, decisão que o conduzirá à fundação da agência Magnum (com Robert Capa, George Rodger, David Seymour e William Vandivert), no mesmo ano em que o MoMA lhe dedicou a sua primeira retrospectiva, quando já era um nome firmado internacionalmente. É o início de uma etapa que o conduzirá aos quatro cantos do mundo (Cartier-Bresson não desejava tornar-se um globetrotter) e em que será testemunha de alguns dos acontecimentos mais marcantes do século XX. A lista é demasiado vasta para caber num artigo de jornal, mas citemos apenas dois: no dia 30 de Janeiro de 1948, fotografou Gandhi em Nova Deli horas antes de ter sido assassinado (as imagens que fez do funeral deram a volta ao mundo); a 3 de Dezembro do mesmo ano estava em Pequim no momento em que o Exército Popular de Libertação de Mao Tsé-tung dava as últimas estocadas no regime nacionalista de Chang Kai-chek (ficou na China durante quase mais um ano). Nesta época, a reportagem ao serviço da cooperativa Magnum dominou a sua produção visível, mas sempre que possível ia construindo um universo fotográfico mais pessoal, longe dos constrangimentos e dos prazos da imprensa. Essas fotografias foram resumidas pelo próprio como “uma combinação de reportagem, de filosofia, e de análise social, psicológica”, uma forma de “antropologia visual” num tempo analógico em que o registo gráfico jogava um papel fundamental. Esse corpo de trabalho, que na retrospectiva assume pontualmente a forma de núcleos temáticos (Sonhadores Diurnos, O Homem e a Máquina…), é talvez o mais desconhecido e o que revela um lado (formalmente) mais livre da fotografia de Cartier-Bresson.
Quer seja para ver os macro-acontecimentos, quer seja para ver os fogachos de mundo que deslumbraram Henri Cartier-Bresson, quem quiser entrar nesta exposição deve preparar-se para esperar — se quiser ver, de facto, as provas de época, que respeitam os formatos e as (pequenas) dimensões por si impostas. E isto quer dizer também que é preciso ficar com a cara a dois palmos da superfície em que o mestre decidiu registar os seus momentos fotográficos. Afinal, talvez não tão “decisivos” assim.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
“Il ballerino!”, disse em voz alta um italiano. E num ecrã um homem parecia bailar. Punha-se em bicos de pés. Esticava-se, contorcia-se, levantava ligeiramente um pé, outro, até encontrar uma zona de equilíbrio. Fazia movimentos repentinos (meio contorcionistas, meio apalhaçados), erguia o pescoço, espreitava, talvez no encalço de um enquadramento capaz de juntar na mesma linha “cabeça, olhar, e coração”. E, caso esse momento se lhe oferecesse, disparava.
O palco deste “bailarino”, deste caçador — fato completo, alto, esguio —, é a rua em bulício, no meio de muitas pessoas, carros a passar, caixas de fruta empilhadas. E o nome é Henri Cartier-Bresson (1908-2004), o fotógrafo superlativo, o dono do olhar que nos deixou boa parte da iconografia fotográfica mais reconhecível (mais matricial e inovadora também) do século XX.
Esta amostra da frenética coreografia que Cartier-Bresson punha em prática no seu trabalho foi retirada do documentário-entrevista L’Aventure Moderne (1962), de Roger Kahane, e é-nos mostrada já perto do fim da grande retrospectiva que o Centro Pompidou, em Paris, dedica ao fotógrafo francês (a primeira na Europa depois da sua morte). À frente do ecrã, juntam-se pequenos grupos, que, entre risos pela forma desconcertante como este homem se movimentava de Leica na mão, descobrem um modo de actuação afinal cheio de hesitações, longe da imagem de “fotógrafo-matador” (implacável na caça) que se foi construindo à volta de Henri Cartier-Bresson, talvez o nome que mais se confunde com o da arte a que mais se dedicou: “Observar, observar, observar”. “É pelos olhos que compreendo”, disse um dia o fotógrafo que detestava ser fotografado (e de aparecer em público, de ser reconhecido).
Até se chegar ao complexo (e divertido) jogo de pernas cartierbressoniano da exposição (que fica em Paris até 9 de Junho e depois se aproxima de nós: estará na Fundación Mapfre de Madrid de 28 de Junho até 8 de Setembro), é preciso passar por centenas de fotografias (a maior parte cópias de época), muitas das quais imediatamente reconhecíveis por quem tenha o mínimo de cultura visual (não necessariamente ligada à fotografia). Esta opção de manter um bom número de imagens-cliché não é só inevitável — é também consciente e serve para sublinhar uma selecção mais secreta (e politizada), verdadeiro contraforte na interpretação de uma obra que pode não ser assim tão conhecida como se pensa que é. Uma obra conceptualmente muito diversificada, também contrariamente ao que se pensava, e isto muito por culpa do autor, que sempre lutou por dar a máxima unidade formal ao seu trabalho, por si controlado meticulosamente (em reproduções, exposições e livros) ao longo da vida.
Até à sua morte, Cartier-Bresson fez questão de supervisionar todas as mostras que incluíssem imagens suas, garantindo que as tiragens eram feitas apenas para essas ocasiões, em um ou dois formatos e utilizando papéis fotográficos com a mesma qualidade de grão, tonalidade e superfície. Sempre dedicou um cuidado extremo às exposições e, muitas vezes, foi enquanto as organizava que tomou decisões cruciais acerca do rumo do seu trabalho.
Além do instante decisivo
A maneira como as imagens de Cartier-Bresson foram sendo circunscritas ao mundo muito particular do seu próprio criador é muito devedora da famosa noção de “instante decisivo”, que tem tanto de certeira como de redutora. O fotógrafo utilizou parte de um axioma de Jean-François Paul de Gondi (1613-1679), cardeal de Retz, segundo o qual “não há nada no mundo que não tenha o seu momento decisivo”. Estas duas últimas palavras acabaram por formar o título do prefácio que assinou no seu primeiro livro, Images à la Sauvette, publicado em 1952, naquele que é o seu primeiro (e mais profundo) texto sobre fotografia, a forma como concebe a sua prática, a sua ética e a sua metodologia. Ao defender que os fotógrafos deviam procurar captar o “instante decisivo”, Cartier-Bresson acabou por estampar um carimbo estilístico em cima das suas imagens que com o passar dos anos se foi tornando mais um empecilho do que uma marca distintiva ou um modelo a seguir. É um selo que acabou também por se transformar numa sanguessuga capaz de esvaziar as imagens de alguma dinâmica perceptiva relacionada, por exemplo, com imaginário acerca do que pode estar antes ou depois. Ou simplesmente de as esvaziar do acidental. Mas para além desta muralha, o mestre francês foi capaz de erguer outra, porventura ainda mais alta, quando, em 1979, decidiu criar a master collection, uma selecção de 385 fotografias que considerava as melhores do seu arquivo e que destinou a instituições internacionais com o objectivo de fornecer o derradeiro mosaico do seu trabalho. Foram impressos seis jogos de provas, quatro dos quais estão em museus de França, Japão, EUA e Reino Unido. Mas, passado algum tempo, foi o próprio a autorizar que a essa primeira escolha se acrescentassem mais fotografias ou que, quando mostradas em público, se fizessem outras escolhas. E por aqui já se percebe como as imagens fotográficas, por mais extraordinárias que sejam, convivem mal com demasiados espartilhos, nomeadamente com os que tentam impor leituras (preconceitos, chaves de leitura) antes de chegarem à percepção de cada um.
Não é de estranhar que em todos os textos assinados no catálogo da exposição do Pompidou se refira a parangona do “instante decisivo”. Mas desta vez não é para a elevar aos píncaros pela expressão que terá conseguido impor nas fotografias de Henri Cartier-Bresson, mas justamente para a relativizar e para tentar distanciar esta retrospectiva do anátema que o fotógrafo lançou sobre as imagens que foi registando ao longo de mais 70 anos. “A não ser que se quisesse refazer sempre a mesma exposição e o mesmo livro, torna-se evidente que, apesar de conter a maior parte dos seus maiores ícones, a master collection não permite apresentar uma obra em toda a sua diversidade criativa”, refere o texto de introdução do monumental catálogo organizado por Clément Chéroux, comissário da mostra e um dos maiores especialistas do trabalho de Henri Cartier-Bresson. Ali o “instante decisivo” é atribuído à necessidade que os exegetas têm de encontrar alguma coisa que simbolize a “unidade da obra” do fotógrafo, e que, numa expressão, resuma “o génio da composição”, a “capacidade de movimentação” ou sua “habilidade para estar no sítio certo“.
A tentativa de libertar as imagens de Cartier-Bresson da armadilha (e da expectativa) do “momento do tudo ou nada” é um dos desafios assumidos nesta empreitada levada a cabo pela equipa do Pompidou e pela fundação com o nome do artista (foram precisos três anos para concluir a estrutura da exposição). Nas duas últimas retrospectivas, em 2003, na Biblioteca Nacional de França, também em Paris, e em 2008, no Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova Iorque, o espectro desta chave estética (que muitos consideram mais uma regra de conduta moral e social perante a sua prática fotográfica) ainda esteve muito presente. Na primeira, em jeito de homenagem comissariada pelo editor Robert Delpire (criador da mítica colecção Photo Poche), a presença em vida de Cartier-Bresson (que inaugurou no mesmo ano a sua fundação) terá necessariamente condicionado as principais orientações, que privilegiaram as fotografias “clássicas”. Na segunda, da responsabilidade de Robert Galassi (antigo conservador-chefe de fotografia do MoMA), foram preferidos critérios temáticos e geográficos objectivamente mais voltados para os trabalhos que fossem “sinónimos do instante decisivo”.
Agora, a partir de mais de meio milhar de fotografias, desenhos, pinturas, filmes, livros e outros documentos gráficos, a exposição de Paris (que tem sido um enorme sucesso de bilheteira, com tempos de espera para entrar que podem chegar às duas horas) reclama o ceptro do “inédito”, se é que tal classificação pode ser ambicionada para um fotógrafo como Cartier-Bresson, cujo trabalho tem sido mostrado à exaustão. O ponto de partida de Chéroux foi o coração da sua obra: as mais de 30 mil reproduções de época que estão à guarda da fundação. Para além destas, foram consultados e estudados provas de contacto, livros, escritos (notas, cartas…) e as poucas entrevistas de fundo que concedeu. Foram ainda ouvidos testemunhos de quem com ele privou. Esta abordagem (“decididamente histórica”) teve por objectivo “refazer” as leituras da obra “não de um, mas dos vários Henri Cartier-Bresson”, que se foram moldando às circunstâncias de tempo e espaço. Hic et nunc (latim para “aqui e agora”) era uma expressão muito cara ao fotógrafo e é usada pelo comissariado para indicar o princípio geral que se quis aplicar a esta retrospectiva, como quem tenta fazer regressar à terra uma nave espacial que andou perdida no cosmos. “O Henri Cartier-Bresson que aqui se tratou não é utópico nem anacrónico (…), é um Henri Cartier-Bresson em contexto”.
Três Cartier-Bresson
As grelhas de análise que tradicionalmente se utilizam para situar a obra de Cartier-Bresson dividem-se em duas tendências muito distintas. Uma, assente sobretudo na historiografia americana, atribui às fotografias o estatuto de “obra” dentro do contexto das artes plásticas, essencialmente as imagens produzidas durante os anos 30. Outra, de raiz francesa, enquadra a produção de Cartier-Bresson a partir das qualidades fundamentais atribuídas à fotografia, a partir da reportagem e da edição e, apesar de reconhecer valor plástico às suas imagens, jamais descarta a sua qualidade como documento, preferindo os trabalhos do pós-guerra, das décadas da cooperativa Magnum, que ajudou a fundar em 1947.
A retrospectiva do Pompidou tenta fugir a uma abordagem maniqueísta, descartando a tentação de “pôr em oposição” ou de “reconciliar” estas duas visões tão díspares da obra do mestre francês. Sem renegar uma e outra, propõe a sua própria visão assente em três pilares fundamentais. O primeiro, que se refere à produção feita entre 1926 e 1935, é profundamente marcado pelo contacto com tertúlias de grupos ligados ao surrealismo, inclui as primeiras fotografias captadas com uma Brownie Box, e as grandes viagens pela Europa, pelo México e pelos EUA. O segundo, que se inicia com o regresso dos EUA e termina com uma nova viagem para Nova Iorque, em 1946, é determinado pela militância política, pelo trabalho para a imprensa comunista, pelo cinema e pela guerra. O terceiro começa com a criação da agência Magnum e conclui-se no início dos anos 70, depois de ter decidido abandonar progressivamente a fotografia de reportagem para se dedicar a algumas das suas primeiras aspirações artísticas, o desenho e a pintura.
Entre as dualidades típicas do pré e do pós-guerra, a do artista e a do repórter fotográfico, o período do meio acabou por se tornar menos conhecido. No entanto, é talvez aquele que melhor ajuda a perceber todas as escolhas de carreira e de estilo que se seguiram e que tornaram Cartier-Bresson um nome fundamental da afirmação do fotográfico como um suporte moderno, poderoso e eficaz para comunicar, testemunhar e denunciar. Numa tentativa de revelar as principais orientações do seu olhar e os assuntos em que decidiu investir mais tempo, esta retrospectiva tem a virtude de trazer um número considerável de documentos originais e de publicações de época. As reportagens que realizou para a imprensa comunista (Regards, Ce Soir…), por exemplo, são mostradas com grande destaque e começam a revelar um gosto pelos “assuntos sociais”, de pendor humanista, como a pobreza, as crianças na rua, a joie de vivre (um género muito parisiense) ou as manifestações de rua.
Mas uma das primeiras coisas que espantam nesta mostra é o talento precoce de Cartier-Bresson no olhar certeiro e, sobretudo, na eficácia da composição da imagem fotográfica, um olhar moldado pelo desenho e pela pintura, que aprendeu, no final dos anos 20, na academia de André Lothe (1885-1862), pintor e escultor fauvista e cubista, que incute no fotógrafo a obsessão pela geometria visual. É nessa altura que começa a frequentar também os círculos surrealistas e a fazer colagens muito influenciadas pelo amigo Max Ernst (que foi chamado para o momento em que Cartier-Bresson disse ao pai que seria fotógrafo, quando tinha 22 anos). A partir deste caldo de influências diversificadas forma-se uma exigência cada vez maior, e um olhar clínico que se revela essencialmente a partir da primeira viagem a África, entre 1930 e 1931, que tinha como missão a procura de negócios para as empresas da família, ligadas ao algodão e aos tecidos. Um grupo de amigos americanos (Julien Levy, o primeiro a expor o seu trabalho nos EUA, Caresse e Harry Crosby, Gretchen e Peter Powel, que tinham uma cultura fotográfica muito actual e apurada) dão-lhe a conhecer, entre outros, Eugène Atget (1857-1927), uma das principais influências das primeiras fotografias de Cartier-Bresson (manequins, vitrines, fontes tipográficas de velhas lojas, santos…), bem como a corrente germano-soviética da Nova Visão (ângulos radicais, composições geométricas, repetição de motivos…).
“Um duro prazer”
É um Henri Cartier-Bresson cheio de informação, um tubo de ensaio artístico, aquele que decide dedicar o seu talento e o seu saber “à arte” (prefácio de Images à la Sauvette). Sedento de aventura e depois de despachar os negócios que o levaram ao continente africano — Costa do Marfim, Camarões, Togo e Sudão —, Cartier-Bresson entrega-se à fotografia. Manda rolos para França e, numa carta à mãe, mostra-se curioso com o resultado da revelação. “Tenho tirado muitas fotografias”, diz na missiva de Janeiro de 1931.
O exotismo, a antropologia visual e toda mística, muito em voga na época, acerca do “continente negro” não lhe interessaram. Preferiu o movimento das pessoas e o frenesim das ruas, o quotidiano. A experiência africana foi de tal maneira intensa que, quando regressou a França, decidiu fazer da fotografia o seu modo de vida, a sua expressão plástica, a ferramenta através da qual tentou compreender e (apreender) o mundo. O empurrão definitivo foi dado por uma fotografia do húngaro Martin Munkácsi (1896-1963), que Cartier-Bresson viu na revista Arts et Métiers Graphiques e em que três rapazes correm rumo às vagas do lago Tanganica. “Fez-me perceber imediatamente que a fotografia poderia atingir a eternidade através do momento. É a única fotografia que me influenciou. Há nela tal intensidade, espontaneidade, alegria de viver e prodígio que ainda hoje me sinto deslumbrado”, escreveu em 1977.
Com as fotografias de África e as que tirou nos meios surrealistas, no final dos anos 20, constrói o First Album (disponível digitalmente numa das primeiras salas da retrospectiva): não mais do que algumas dezenas de imagens coladas num caderno de argolas, mas que revelam claramente a intenção de fazer escolhas e delinear um estilo. A partir de então, passa a pôr os pés ao caminho não para viajar, mas para fotografar. No final de 1931, parte num velho Buick rumo a Berlim, Budapeste e Varsóvia. Em 1932, volta a partir para Itália e depois para Espanha (Alicante, Barcelona, Valência, Toledo, Madrid, Sevilha), altura em que, para muitos, terá realizado as suas melhores fotografias, aquelas em que se revelam alguns dos traços de estilo e de conteúdo que o acompanhariam. Há composições muito cuidadas, linhas fortes e geometrizantes, picados e contra-picados para mostrar o movimento de pessoas, a rua, o trabalho, o lazer e as condições de vida.
Seguindo os famosos “exercícios de purificação” dados por Lothe para chegar às composições perfeitas, através das regras da “divina proporção”, Cartier-Bresson movimenta-se à procura de “um ritmo da superfície”, das “linhas” e dos “valores”, mas não esquece, no entanto, o papel da “sorte objectiva”, que se consegue através da “sensibilidade”, da “intuição” e de uma “capacidade de antecipação”. E se há coisa que não se pode negar a esta retrospectiva é a forma como, na diversidade, procura mostrar a capacidade de Cartier-Bresson em unir estes dois talentos numa prática fotográfica sempre perseguida pela ambição da “síntese”. Mesmo quando o cinema parecia ganhar mais espaço na sua carreira (deixou vários documentários sobre a Guerra Civil de Espanha e participou em filmes de Jean Renoir, como assistente e actor), o olhar cirúrgico influenciado pela fotografia manteve-se. E, enquanto se dedicou mais às câmaras de filmar, não deixou o ofício que paradoxalmente considerava um “duro prazer”, fotografando intensamente para a imprensa comunista.
Em 1943, depois de se ter evadido de um cativeiro de três anos às mãos dos nazis, regressa à imagem fotográfica para abraçar a foto-reportagem, decisão que o conduzirá à fundação da agência Magnum (com Robert Capa, George Rodger, David Seymour e William Vandivert), no mesmo ano em que o MoMA lhe dedicou a sua primeira retrospectiva, quando já era um nome firmado internacionalmente. É o início de uma etapa que o conduzirá aos quatro cantos do mundo (Cartier-Bresson não desejava tornar-se um globetrotter) e em que será testemunha de alguns dos acontecimentos mais marcantes do século XX. A lista é demasiado vasta para caber num artigo de jornal, mas citemos apenas dois: no dia 30 de Janeiro de 1948, fotografou Gandhi em Nova Deli horas antes de ter sido assassinado (as imagens que fez do funeral deram a volta ao mundo); a 3 de Dezembro do mesmo ano estava em Pequim no momento em que o Exército Popular de Libertação de Mao Tsé-tung dava as últimas estocadas no regime nacionalista de Chang Kai-chek (ficou na China durante quase mais um ano). Nesta época, a reportagem ao serviço da cooperativa Magnum dominou a sua produção visível, mas sempre que possível ia construindo um universo fotográfico mais pessoal, longe dos constrangimentos e dos prazos da imprensa. Essas fotografias foram resumidas pelo próprio como “uma combinação de reportagem, de filosofia, e de análise social, psicológica”, uma forma de “antropologia visual” num tempo analógico em que o registo gráfico jogava um papel fundamental. Esse corpo de trabalho, que na retrospectiva assume pontualmente a forma de núcleos temáticos (Sonhadores Diurnos, O Homem e a Máquina…), é talvez o mais desconhecido e o que revela um lado (formalmente) mais livre da fotografia de Cartier-Bresson.
Quer seja para ver os macro-acontecimentos, quer seja para ver os fogachos de mundo que deslumbraram Henri Cartier-Bresson, quem quiser entrar nesta exposição deve preparar-se para esperar — se quiser ver, de facto, as provas de época, que respeitam os formatos e as (pequenas) dimensões por si impostas. E isto quer dizer também que é preciso ficar com a cara a dois palmos da superfície em que o mestre decidiu registar os seus momentos fotográficos. Afinal, talvez não tão “decisivos” assim.