Um referendo a fingir, mas não a brincar
Hoje vão ser conhecidos os resultados do referendo em Donetsk e Lugansk
Os ucranianos em cerca de uma dúzia de cidades nas regiões de Donetsk e Lugansk foram ontem chamados a votar e a decidir sobre o futuro destas duas regiões que fazem fronteira com a Rússia e onde se concentra grande parte da capacidade industrial da Ucrânia.
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Os ucranianos em cerca de uma dúzia de cidades nas regiões de Donetsk e Lugansk foram ontem chamados a votar e a decidir sobre o futuro destas duas regiões que fazem fronteira com a Rússia e onde se concentra grande parte da capacidade industrial da Ucrânia.
A União Europeia, os EUA e, naturalmente, o Governo provisório da Ucrânia já disseram que não iriam reconhecer a legitimidade do referendo. Aliás, chamar referendo ao que se passou ontem pode ser algo exagerado. O The Washington Post dava conta ontem de uma gravação em que um líder separatista ucraniano se queixava a um responsável político russo sobre as dificuldades que estaria a ter para organizar a logística do referendo E foi-lhe aconselhado a declarar simplesmente que 99% das pessoas votaram no “sim”, “ou, melhor, digamos 89%”.
Os pró-russos dizem que a gravação não é autêntica. Mesmo que assim seja, estamos a falar de um referendo sem observadores, com cadernos eleitorais desactualizados (basta um passaporte para votar), com boletins facilmente falsificáveis, e votos que serão contados apenas pelos activistas que apoiam o “sim”. E havia relatos de camiões a transportar urnas já cheias de boletins, ainda antes do início da votação.
Naturalmente serão apenas os pró-russos a reconhecer a legitimidade do referendo. Mas as consequências do referendo, mesmo que seja a fingir, serão bastante sérias. Os mais radicais sentir-se-ão mais legitimados.
E já não chega procurar o pecado original que, nas palavras de Gerhard Schroder, foi ter-se imposto aos ucranianos a obrigação de escolher entre a Rússia e a União Europeia, passando por cima de questões culturais e étnicas que agora estão a vir ao de cima. Agora trata-se de tentar estancar aquilo que parece ser cada vez mais uma inevitabilidade: a guerra civil.