Sonhar, talvez controlar os nossos sonhos...

Aqueles sonhos em que chegamos ao trabalho completamente nus, ou em que somos perseguidos por um psicopata armado de um machado podem tornar-se um dia uma coisa do passado.

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Em certas condições, torna-se possível controlar o desenlace de um sonho Manuel Roberto

O trabalho de Ursula Voss, da Universidade J.W. Goethe de Frankfurt (Alemanha), e colegas foi inspirado por anteriores experiências de laboratório durante as quais voluntários humanos que se encontravam na fase REM do sono (a fase em que sonhamos) relatavam, ao acordar, que tinham tido um sonho lúcido. De facto, os electroencefalogramas registados durante o sono mostravam que esses sonhos eram acompanhados por uma actividade eléctrica cerebral particular, as chamadas ondas gama.

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O trabalho de Ursula Voss, da Universidade J.W. Goethe de Frankfurt (Alemanha), e colegas foi inspirado por anteriores experiências de laboratório durante as quais voluntários humanos que se encontravam na fase REM do sono (a fase em que sonhamos) relatavam, ao acordar, que tinham tido um sonho lúcido. De facto, os electroencefalogramas registados durante o sono mostravam que esses sonhos eram acompanhados por uma actividade eléctrica cerebral particular, as chamadas ondas gama.

Ora, este tipo de onda está relacionado com funções executivas tais como o pensamento de alto nível e a consciência do nosso próprio estado mental. Só que quase nunca tinha sido visto durante o sono REM.

Visto que as ondas gama surgem durante o sonho lúcido, a equipa de Voss quis saber o que é que aconteceria se essas ondas fossem geradas induzindo uma corrente eléctrica no cérebro, durante a fase de sonho, da mesma frequência que as ondas gama naturais.

Para testar esta ideia, os cientistas colocaram electrodos no coro cabeludo de 27 voluntários e utilizaram uma técnica dita de estimulação transcraniana de corrente alternada (tACS na sigla em inglês). Os participantes reportaram a seguir que tinham ficado conscientes de que estavam a sonhar. E também relataram que tinham sido capazes de controlar o enredo da história, por exemplo vestindo a sua personagem no sonho antes de ela sair de casa rumo ao emprego. Mais: tinham sentido ainda que o seu “eu” no sonho era uma terceira pessoa que eles observavam de fora.

Porém, Voss não antevê qualquer aplicação comercial do sonho lúcido. Isto porque os dispositivos disponíveis no mercado “não funcionam muito bem”, disse a cientista numa entrevista.. E que os aparelhos que, como no seu estudo, permitem aplicar correntes eléctricas ao cérebro “devem ser sempre monitorizados por um médico”.

Todavia, se os resultados se confirmarem, a técnica poderá permitir ajudar as pessoas que sofrem de stress pós-traumático e que têm frequentemente sonhos aterradores, nos quais revivem a sua experiência traumática.

Se estas pessoas conseguirem sonhar de forma lúcida, poderão ser capazes de alterar o desenlace dos seus sonhos – por exemplo, virar numa rua diferente daquela onde foi colocada uma bomba ou entrando num restaurante antes de serem atacadas por um violador. “Ao aprenderem a controlar o sonho e a distanciar-se dele”, diz Voss, os doentes com stress pós-traumático poderiam reduzir o impacto emocional dos seus sonhos e começar a recuperar.