Berlusconi começa a prestar serviço comunitário e isso pode ser bom para ele
Antigo primeiro-ministro chegou à Fundação Sagrada Família, em Milão, onde vai ajudar doentes de Alzheimer nos próximos 12 meses. Pena pode ser "uma oportunidade de propaganda".
Pouco depois das 9h30 desta sexta-feira, Il Cavaliere chegava à Fundação Sagrada Família, na província de Milão, para começar a cumprir 12 meses de serviço comunitário, ajudando doentes de Alzheimer.
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Pouco depois das 9h30 desta sexta-feira, Il Cavaliere chegava à Fundação Sagrada Família, na província de Milão, para começar a cumprir 12 meses de serviço comunitário, ajudando doentes de Alzheimer.
O passado de Berlusconi perseguiu-o nas páginas dos jornais e nas aberturas dos noticiários em Itália: o que iria ele fazer para tirar partido da pena a que foi condenado por fraude fiscal?
Os quatro anos de prisão da sentença decretada em primeira instância há dois anos (e confirmada no ano passado pelo Supremo Tribunal) foram automaticamente reduzidos para um ano, devido a uma amnistia. Com mais de 70 anos, Berlusconi podia escolher entre ficar em prisão domiciliária ou prestar serviço comunitário.
Depois de ter indicado que iria optar pela primeira, resolveu escolher a segunda – uma decisão que foi logo descrita pelo jornalista e escritor Jacopo Iacobini, nas páginas do jornal La Stampa, como "uma oportunidade de propaganda".
Nesta sexta-feira, o director do centro que vai receber a ajuda de Silvio Berlusconi nos próximos 12 meses apressou-se a garantir que não iria deixar que a pena do antigo primeiro-ministro se transformasse em mais um espectáculo mediático.
"Vamos dar pequenos passos para não cometermos erros. Depois disso, ele poderá fazer todo o tipo de coisas. Poderá ajudar com as refeições, que são complicadas, porque, por vezes, é preciso 'recordar' os doentes de que eles estão a comer", explicou Massimo Restelli ao jornal La Repubblica.
"Pedimos a todas as pessoas, incluindo Berlusconi, que prestem atenção e que ouçam, e que não fiquem ansiosos para mostrar trabalho", acrescentou o responsável.
Tal como qualquer outro condenado a prestar serviço comunitário na Fundação Sagrada Família, no município de Cesano Boscone, Silvio Berlusconi será acompanhado por um profissional de saúde especializado na doença de Alzheimer, para que possa ser estabelecida uma ligação entre ele e os doentes "de forma gradual".
"Veremos se a presença de Silvio vai criar laços fortes, se irá tornar-se uma referência para alguém. Os nossos hóspedes conseguem lembrar-se, ainda que isto pareça um absurdo para as pessoas que não conhecem a doença", disse Massimo Restelli.
Antes de chegar à Fundação Sagrada Família, o antigo primeiro-ministro já tinha avisado que não estava a pensar em ser apenas mais um: "Acho que acabarei por ficar muito mais tempo do que aquilo a que fui obrigado. Preparei uma grande surpresa. Em apenas dez dias aprendi os diferentes métodos curativos que podem ser usados", disse Berlusconi, de 77 anos.
Emilio Fede, antiga figura de proa de uma das estações de televisão de Berlusconi, a Rete 4, e condenado a sete anos de prisão por ter promovido encontros do antigo primeiro-ministro com prostitutas, enalteceu a "humanidade" com que o seu amigo vai cumprir o serviço comunitário.
"Berlusconi está a preparar-se muito bem e está a estudar tudo sobre [a doença de] Alzheimer. Vai desempenhar a sua tarefa bem e com humanidade", disse Emilio Fede. Tudo em nome da sua mãe, Rosa Bossi, "uma referência importante na sua vida, que ajudou sempre os mais idosos".
Mas também há quem não queira saber das intenções de Berlusconi, nem da forma como irá criar laços com os doentes de Alzheimer. Quando chegou às instalações da Fundação Sagrada Família, o antigo primeiro-ministro tinha à sua espera um manifestante, que exigiu a sua ida directa para a prisão, sem passar pela casa dos serviços comunitários.
"Para a prisão! Nós, os trabalhadores italianos, temos um sonho nos nossos corações: Berlusconi em San Vittore!", disse o manifestante, numa referência à prisão localizada no centro de Milão, construída no século XIX, e por onde passaram nomes como Totò Riina, o último grande chefe da Cosa Nostra, ou Gaetano Bresci, o anarquista que assassinou o rei Humberto I, em Julho de 1900.