Não vemos só com os olhos

Foto
As imagens de Manuela Marques jogam com algumas das qualidades da fotografia, como a suspensão e a fixação MANUELA MARQUES/ CORTESIA GALERIA CAROLINE PAGÈS

O despertar de um sono longo e profundo dá-nos a sensação de ver o que nos rodeia pela primeira vez. Esse estado inebriante, ainda com os sentidos atordoados, atira-nos o olhar para pormenores a que nunca antes déramos importância e a percepção das coisas surge de uma forma desordenada, encantatória. Até que se recupere a plenitude dos sentidos, vamos identificando o que nos rodeia gradualmente, às apalpadelas. As obras de Manuela Marques (Tondela, 1959) na exposição O tamanho deste vento é um triângulo na água, recém-inaugurada na delegação de Paris da Fundação Calouste Gulbenkian, transportam-nos para esse limbo perceptivo e jogam com as armadilhas do olhar, com a dúvida e com o (re)descoberta de elementos primordiais, como a água e o ar. São fotografias (e um vídeo) que nos recordam que a experiência do ver e a recepção das imagens estão para lá da capacidade física dos olhos. São trabalhos que pedem para ser vistos não apenas com o olhar, mas sobretudo com o pensamento e com a certeza de que é impossível experimentá-los sem a memória (a nossa, a da autora e a das imagens).

Foi este estado hipnagógico (posição em que estamos meio a dormir, meio acordados, quando o ver físico se mistura com o ver mental) que o comissário Sérgio Mah invocou para explicar um dos fios condutores do seu trabalho na mostra de Manuela Marques, prémio BES Photo 2011, pensada ao pormenor para que possa transmitir “a experiência do tocar e do sentir as coisas”. Os trabalhos que se mostram em cinco salas (pouco mais de 30 obras) abarcam um período alargado de produção desta artista visual radicada em Paris, que começou a expor em França no início da década de 1990 (em Lisboa, é representada pela Galeria Caroline Pagès). Quando procurou um eixo para a selecção de imagens de O tamanho deste vento…, Mah deparou-se com uma produção muito variada. Viu sobretudo natureza, condição feminina, intimidade, pequenos acontecimentos, mas optou por deslocar-se para um plano “primário”, o da “presença dos sentidos”, que se situa antes da experiência do quotidiano, antes da intimidade e do registo sociológico.

Percorrendo a exposição com o Ípsilon, Mah explica ter querido evitar que a narratividade ganhasse protagonismo, preferindo uma orientação não-linear que desse a perceber uma sensibilidade particular, um “ponto de frequência” da artista com as imagens. “É uma exposição relacionada com a volatilidade das coisas, com pequenos movimentos, com a textura e a matéria. Vemos muito as mãos. É um sinal de que a visualidade é misturada com o táctil”, adianta o comissário, que assina também um ensaio (O olhar-relação. Com o corpo, com as mãos.) na monografia. Para Sérgio Mah, o trabalho de Manuela Marques enquadra-se nas últimas tendências da fotografia, hoje mais assumidamente propensa a percorrer os caminhos do especulativo e a fugir da sua relação cada vez mais precária com o real: “É um bom exemplo de uma história mais recente da fotografia que convoca para a imagem um campo mais poético, filosófico e fenomenológico. Se calhar não estaríamos a fazer este tipo de associação há três décadas, quando ainda predominava uma acepção muito documental e tradicional da fotografia, mas trabalhos como o da Manuela tentam seguir uma disponibilidade (cada vez mais presente) em reconverter as coordenadas da nossa relação com as imagens”.

Essas coordenadas incluem, por exemplo, a procura de registos visuais em que as dúvidas e os mistérios se adensam, em que ganham espaço os teatros de sombras e as pequenas mises-en-scène. Sombras como as que estão presentes na fotografia que serve de preâmbulo à exposição, um emaranhado de formas (cornos de animais), numa afirmação da teatralidade da natureza no seu lado mais violento. Ou então, como no conjunto de três grandes impressões a cores de flores ou frutos, num complexo jogo óptico que junta o referente e o seu duplo banhados por azuis crepusculares (mistura de noite e de dia) — imagens que põem em causa as capacidades da nossa percepção e baralham qualidades do fotográfico como a nitidez, o foco e a perspectiva.

Pregar partidas

A opção por inverter as regras do jogo, por confundir (como o título da exposição, retirado de um poema de Fiama Hasse Pais Brandão, deixa antever), é um dos caminhos encontrados para tentar mostrar que afinal “a matéria não explica o real”. Ao Ípsilon, no dia da apresentação de O tamanho deste vento..., Manuela Marques confessa que a utilização que faz da fotografia pode ser considerada “perversa”. “Utilizo-a muitas vezes como se estivesse a negar as suas funções mais básicas. Utilizo-a como uma espécie de contra-indicação para problematizar a percepção que temos do real e dos espaços que nos rodeiam. Inverto as regras do jogo, procuro as coisas menos evidentes.”

Sérgio Mah alinhou nestas incursões por caminhos mais curvilíneos, ajudando a artista a construir um percurso expositivo que amiúde nos troca as voltas, nos inquire e nos leva a tomar consciência de que a forma como vemos influencia aquilo que vemos. É por isso que há um retrato a abrir a exposição. Está colocado de forma a acompanhar-nos visualmente durante a maior parte do percurso e fornece as pistas para uma das ideias-chave da mostra: pôr-nos a olhar as imagens com a consciência de que elas também nos “olham”. E tantas vezes nos enganam.

Na pequena sala que abre a exposição, esta imagem de uma mulher de torso despido foi voltada para o espaço aberto e persegue-nos, não só fisicamente, mas, sobretudo, mentalmente. Neste primeiro momento, foram escolhidas ainda duas imagens que dão o resto do programa que vem a seguir. Há uma fotografia de espelhos e outra de uma mão que segura cuidadosamente caules emaranhados e minúsculas flores, a lembrar uma estrutura atómica, a origem de qualquer coisa. Na primeira, os espelhos foram registados de uma perspectiva que lhe nega a sua função, a de reflectir para o exterior. O reflexo do reflexo desta imagem resulta numa mise-en-abyme que convoca “um jogo paradoxal entre identidade e alteridade”. Manuela Marques: “O que me interessa nos espelhos é o reflexo da sua própria condição. É como se fosse um buraco negro, uma coisa que se consome a si própria, uma espécie de anti-matéria. Gosto de negar as funções naturais das coisas na minha fotografia.” Já a mão que toca os elementos indicia uma atenção às pequenas coisas, “aos pequenos fios”, uma aproximação cuidada e inquisidora ao que nos circunda, sem que se note um pendor demasiado confessional ou autobiográfico. Para lá da procura de um estado de espírito, a prática artística de Manuela Marques “centra-se sobretudo no plano da recepção das imagens”, explica Sérgio Mah. E no campo da experiência perceptiva há sempre lugar para a subjectividade. A artista é a primeira a reconhecer que estas fotografias podem pregar as suas partidas, admitindo a probabilidade de haver quem se interrogue sobre o que está a ver ao certo. Se isso acontecer, talvez um dos objectivos de Manuela Marques se cumpra: instalar a dúvida.

É o que pode acontecer a quem se confrontar com os “retratos” de pedras, a última série, em que os primeiros planos não passam de forma abstractas muito desfocadas, e os segundos planos surgem imprecisos com muitas folhas e ervas. Aqui, continua o comissário, a sensação é a de que o corpo da fotógrafa ficou demasiado próximo, tão próximo que a visão já não consegue discernir. Ao mesmo tempo, vemos o fundo um pouco mais nítido, como se não se quisesse esconder tudo, mas também não se quisesse revelar demasiado, um jogo circular muito presente em toda a exposição.

Com um sotaque por vezes a fugir para o português do Brasil (a artista é representada pela Galeria Vermelho, de São Paulo), Manuela Marques movimenta-se por entre as suas imagens como quem conhece muito bem os cantos à casa. Mas há um momento da visita em que o seu discurso fica particularmente denso e apaixonado: é quando surge a imagem dos espelhos, captada no Palácio de Versalhes. Quando perguntamos porque não captou outro tipo de imagens, porventura mais reveladoras, responde que são as paisagens anti-faustosas as que mais lhe interessam. Com carta branca para entrar no palácio quando está fechado ao público, uma vez por semana, e fotografar o que quiser, Manuela Marques procurou neste espaço imenso as pequenas feridas, as lesões e as marcas do uso e do tempo. “Não são fotografias espectaculares, de qualquer maneira eu também raramente estou no espectacular.”

Já perto do fim, Manuela Marques aponta para aquela que considera “a” fotografia da exposição, na acepção mais fatal da palavra — a preto-e-branco, alguém segura um bloco de gelo. “Cá está, uma fotografia a sério”, graceja. Esta representação fotográfica da água aprisionada num dos seus estádio, a solidez, joga metaforicamente com o suporte que lhe dá imagem, nomeadamente com algumas das suas qualidades, como a suspensão e a fixação. É uma fotografia que nos impele para a percepção de que afinal tanto a solidez aquática como a rigidez fotográfica não são, afinal, fatalidades perpétuas, antes etapas de um caminho rumo a outra coisa qualquer. Para que essa dinâmica aconteça basta que determinadas condições naturais se conjuguem ou que exista uma predisposição para imaginar. Na mesma sala, um vídeo projectado no tecto, que mostra tão só o “movimento puro” da água, ajuda a quebrar o enguiço do imobilismo e a anunciar que as imagens (as fotográficas também) estão longe de uma existência petrificada.



O Ípsilon viajou a convite da delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris

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O despertar de um sono longo e profundo dá-nos a sensação de ver o que nos rodeia pela primeira vez. Esse estado inebriante, ainda com os sentidos atordoados, atira-nos o olhar para pormenores a que nunca antes déramos importância e a percepção das coisas surge de uma forma desordenada, encantatória. Até que se recupere a plenitude dos sentidos, vamos identificando o que nos rodeia gradualmente, às apalpadelas. As obras de Manuela Marques (Tondela, 1959) na exposição O tamanho deste vento é um triângulo na água, recém-inaugurada na delegação de Paris da Fundação Calouste Gulbenkian, transportam-nos para esse limbo perceptivo e jogam com as armadilhas do olhar, com a dúvida e com o (re)descoberta de elementos primordiais, como a água e o ar. São fotografias (e um vídeo) que nos recordam que a experiência do ver e a recepção das imagens estão para lá da capacidade física dos olhos. São trabalhos que pedem para ser vistos não apenas com o olhar, mas sobretudo com o pensamento e com a certeza de que é impossível experimentá-los sem a memória (a nossa, a da autora e a das imagens).

Foi este estado hipnagógico (posição em que estamos meio a dormir, meio acordados, quando o ver físico se mistura com o ver mental) que o comissário Sérgio Mah invocou para explicar um dos fios condutores do seu trabalho na mostra de Manuela Marques, prémio BES Photo 2011, pensada ao pormenor para que possa transmitir “a experiência do tocar e do sentir as coisas”. Os trabalhos que se mostram em cinco salas (pouco mais de 30 obras) abarcam um período alargado de produção desta artista visual radicada em Paris, que começou a expor em França no início da década de 1990 (em Lisboa, é representada pela Galeria Caroline Pagès). Quando procurou um eixo para a selecção de imagens de O tamanho deste vento…, Mah deparou-se com uma produção muito variada. Viu sobretudo natureza, condição feminina, intimidade, pequenos acontecimentos, mas optou por deslocar-se para um plano “primário”, o da “presença dos sentidos”, que se situa antes da experiência do quotidiano, antes da intimidade e do registo sociológico.

Percorrendo a exposição com o Ípsilon, Mah explica ter querido evitar que a narratividade ganhasse protagonismo, preferindo uma orientação não-linear que desse a perceber uma sensibilidade particular, um “ponto de frequência” da artista com as imagens. “É uma exposição relacionada com a volatilidade das coisas, com pequenos movimentos, com a textura e a matéria. Vemos muito as mãos. É um sinal de que a visualidade é misturada com o táctil”, adianta o comissário, que assina também um ensaio (O olhar-relação. Com o corpo, com as mãos.) na monografia. Para Sérgio Mah, o trabalho de Manuela Marques enquadra-se nas últimas tendências da fotografia, hoje mais assumidamente propensa a percorrer os caminhos do especulativo e a fugir da sua relação cada vez mais precária com o real: “É um bom exemplo de uma história mais recente da fotografia que convoca para a imagem um campo mais poético, filosófico e fenomenológico. Se calhar não estaríamos a fazer este tipo de associação há três décadas, quando ainda predominava uma acepção muito documental e tradicional da fotografia, mas trabalhos como o da Manuela tentam seguir uma disponibilidade (cada vez mais presente) em reconverter as coordenadas da nossa relação com as imagens”.

Essas coordenadas incluem, por exemplo, a procura de registos visuais em que as dúvidas e os mistérios se adensam, em que ganham espaço os teatros de sombras e as pequenas mises-en-scène. Sombras como as que estão presentes na fotografia que serve de preâmbulo à exposição, um emaranhado de formas (cornos de animais), numa afirmação da teatralidade da natureza no seu lado mais violento. Ou então, como no conjunto de três grandes impressões a cores de flores ou frutos, num complexo jogo óptico que junta o referente e o seu duplo banhados por azuis crepusculares (mistura de noite e de dia) — imagens que põem em causa as capacidades da nossa percepção e baralham qualidades do fotográfico como a nitidez, o foco e a perspectiva.

Pregar partidas

A opção por inverter as regras do jogo, por confundir (como o título da exposição, retirado de um poema de Fiama Hasse Pais Brandão, deixa antever), é um dos caminhos encontrados para tentar mostrar que afinal “a matéria não explica o real”. Ao Ípsilon, no dia da apresentação de O tamanho deste vento..., Manuela Marques confessa que a utilização que faz da fotografia pode ser considerada “perversa”. “Utilizo-a muitas vezes como se estivesse a negar as suas funções mais básicas. Utilizo-a como uma espécie de contra-indicação para problematizar a percepção que temos do real e dos espaços que nos rodeiam. Inverto as regras do jogo, procuro as coisas menos evidentes.”

Sérgio Mah alinhou nestas incursões por caminhos mais curvilíneos, ajudando a artista a construir um percurso expositivo que amiúde nos troca as voltas, nos inquire e nos leva a tomar consciência de que a forma como vemos influencia aquilo que vemos. É por isso que há um retrato a abrir a exposição. Está colocado de forma a acompanhar-nos visualmente durante a maior parte do percurso e fornece as pistas para uma das ideias-chave da mostra: pôr-nos a olhar as imagens com a consciência de que elas também nos “olham”. E tantas vezes nos enganam.

Na pequena sala que abre a exposição, esta imagem de uma mulher de torso despido foi voltada para o espaço aberto e persegue-nos, não só fisicamente, mas, sobretudo, mentalmente. Neste primeiro momento, foram escolhidas ainda duas imagens que dão o resto do programa que vem a seguir. Há uma fotografia de espelhos e outra de uma mão que segura cuidadosamente caules emaranhados e minúsculas flores, a lembrar uma estrutura atómica, a origem de qualquer coisa. Na primeira, os espelhos foram registados de uma perspectiva que lhe nega a sua função, a de reflectir para o exterior. O reflexo do reflexo desta imagem resulta numa mise-en-abyme que convoca “um jogo paradoxal entre identidade e alteridade”. Manuela Marques: “O que me interessa nos espelhos é o reflexo da sua própria condição. É como se fosse um buraco negro, uma coisa que se consome a si própria, uma espécie de anti-matéria. Gosto de negar as funções naturais das coisas na minha fotografia.” Já a mão que toca os elementos indicia uma atenção às pequenas coisas, “aos pequenos fios”, uma aproximação cuidada e inquisidora ao que nos circunda, sem que se note um pendor demasiado confessional ou autobiográfico. Para lá da procura de um estado de espírito, a prática artística de Manuela Marques “centra-se sobretudo no plano da recepção das imagens”, explica Sérgio Mah. E no campo da experiência perceptiva há sempre lugar para a subjectividade. A artista é a primeira a reconhecer que estas fotografias podem pregar as suas partidas, admitindo a probabilidade de haver quem se interrogue sobre o que está a ver ao certo. Se isso acontecer, talvez um dos objectivos de Manuela Marques se cumpra: instalar a dúvida.

É o que pode acontecer a quem se confrontar com os “retratos” de pedras, a última série, em que os primeiros planos não passam de forma abstractas muito desfocadas, e os segundos planos surgem imprecisos com muitas folhas e ervas. Aqui, continua o comissário, a sensação é a de que o corpo da fotógrafa ficou demasiado próximo, tão próximo que a visão já não consegue discernir. Ao mesmo tempo, vemos o fundo um pouco mais nítido, como se não se quisesse esconder tudo, mas também não se quisesse revelar demasiado, um jogo circular muito presente em toda a exposição.

Com um sotaque por vezes a fugir para o português do Brasil (a artista é representada pela Galeria Vermelho, de São Paulo), Manuela Marques movimenta-se por entre as suas imagens como quem conhece muito bem os cantos à casa. Mas há um momento da visita em que o seu discurso fica particularmente denso e apaixonado: é quando surge a imagem dos espelhos, captada no Palácio de Versalhes. Quando perguntamos porque não captou outro tipo de imagens, porventura mais reveladoras, responde que são as paisagens anti-faustosas as que mais lhe interessam. Com carta branca para entrar no palácio quando está fechado ao público, uma vez por semana, e fotografar o que quiser, Manuela Marques procurou neste espaço imenso as pequenas feridas, as lesões e as marcas do uso e do tempo. “Não são fotografias espectaculares, de qualquer maneira eu também raramente estou no espectacular.”

Já perto do fim, Manuela Marques aponta para aquela que considera “a” fotografia da exposição, na acepção mais fatal da palavra — a preto-e-branco, alguém segura um bloco de gelo. “Cá está, uma fotografia a sério”, graceja. Esta representação fotográfica da água aprisionada num dos seus estádio, a solidez, joga metaforicamente com o suporte que lhe dá imagem, nomeadamente com algumas das suas qualidades, como a suspensão e a fixação. É uma fotografia que nos impele para a percepção de que afinal tanto a solidez aquática como a rigidez fotográfica não são, afinal, fatalidades perpétuas, antes etapas de um caminho rumo a outra coisa qualquer. Para que essa dinâmica aconteça basta que determinadas condições naturais se conjuguem ou que exista uma predisposição para imaginar. Na mesma sala, um vídeo projectado no tecto, que mostra tão só o “movimento puro” da água, ajuda a quebrar o enguiço do imobilismo e a anunciar que as imagens (as fotográficas também) estão longe de uma existência petrificada.



O Ípsilon viajou a convite da delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris