Os portugueses da Unbabel estão a revolucionar a tradução na Internet

É a primeira empresa portuguesa a entrar no acelerador YCombinator: combina a tradução automática com uma comunidade de tradutores

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“Tenho uma casa para alugar na praia a estrangeiros. No espanhol e no francês vou-me desenrascando. E quando é um alemão? Eu não falo alemão! Ponho as coisas no Google Translate e não sei se estou a dizer alguma coisa em condições ou a dar pontapés na gramática!” Quantas vezes acontecem histórias deste tipo? Em 2014, a tradução automática continua a ser uma promessa. Foi neste sentido que surgiu a Unbabel, uma startup portuguesa que combina a tradução automática com uma comunidade de pessoas. Como? Primeiro faz-se a tradução automática, depois um tradutor nativo na língua corrige o resultado dessa tradução.

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“Tenho uma casa para alugar na praia a estrangeiros. No espanhol e no francês vou-me desenrascando. E quando é um alemão? Eu não falo alemão! Ponho as coisas no Google Translate e não sei se estou a dizer alguma coisa em condições ou a dar pontapés na gramática!” Quantas vezes acontecem histórias deste tipo? Em 2014, a tradução automática continua a ser uma promessa. Foi neste sentido que surgiu a Unbabel, uma startup portuguesa que combina a tradução automática com uma comunidade de pessoas. Como? Primeiro faz-se a tradução automática, depois um tradutor nativo na língua corrige o resultado dessa tradução.

"Para nós não fazia sentido que em 2014 este problema ainda existisse e fosse tão grave, quando a tradução automática tem sido uma promessa desde os anos 70", explica Vasco Pedro, um dos cinco fundadores da Unbabel que, juntamente com Sofia Pessanha, falou com o P3 via Skype (Silicon Valley não é propriamente perto). E acrescenta. "A tradução automática não vai acontecer nos próximos anos. Estamos perto, mas não estamos perto o suficiente." Foi assim que começaram a pensar numa forma de optimizar o processo de tradução, de tornar a tradução mais acessível. E que melhor forma do que unir à tradução automática "experts" nas línguas a traduzir?

A Unbabel está destinada a qualquer pessoa que pretenda fazer uma tradução de forma simples, correcta, e sem grandes custos. Ainda que o preço possa variar, por norma, o serviço de tradução custa 0,01€ por palavra. A língua mais popular é o Espanhol, visto que a maioria dos clientes da startup estão sediados nos EUA e têm interesse em deslocar-se para a América Latina. Sofia Pessanha explicou ao P3 que "existem dois tipos de clientes, as pequenas startups que querem ser internacionais, têm as suas aplicações móveis, e pedem-nos ajuda quando os clientes começam a interagir nas línguas em que disponibilizam o produto. Nós traduzimos toda a comunicação." Depois, existem as grandes empresas da internet, sediadas em São Francisco. "Estamos a fazer alguns pilotos com essas empresas, mas para já não podemos divulgar informação", esclarece Sofia.

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Qualquer pessoa pode fazer traduções na Unbabel, desde que demonstre conhecimento da língua que diz dominar. Segundo Vasco Pedro, “existe um processo de selecção, temos uma série de testes standardizados, o que nos permite perceber o que é que cada uma das pessoas consegue fazer na plataforma. A maioria das pessoas passa nos testes.” Para ser pago pelas traduções, um editor tem de acumular 500 pontos em tarefas livres, e depois, baseado na rapidez e qualidade das traduções feitas até ao momento, pode começar a ser pago. O preço de cada tradução parte dos 8 dólares (cerca de 5,8 euros) por hora, e pode subir, dependendo da qualidade dos serviços e do feedback dos outros editores. 

A ida para Silicon Valley 

Sofia e Vasco estão agora a viver nos Estados Unidos, juntamente com João, Bruno e Hugo, os restantes fundadores da Unbabel. Como é que isto aconteceu? “Quando surgiram as candidaturas nós ponderamos nem sequer nos candidatarmos, a competição era tão grande, cerca de 9 mil empresas para 60 lugares, a probabilidade de isto acontecer era baixíssima”, conta Vasco.

Eis que recebem um e-mail do YCombinator. “No dia em que íamos assinar a nossa primeira 'term-sheet', recebemos um e-mail a dizer que gostaram do projecto e gostavam de nos conhecer”. Os cinco fundadores compraram uma viagem para os EUA de imediato para dez minutos de entrevista, em que nada estava garantido. Vasco acrescenta: “Não querem slides, não querem apresentação, não querem coisas preparadas. Têm uma série de pessoas a fazer perguntas em metralhadora, é bastante intenso.”

Foi a 11 de Novembro de 2013. No mesmo dia, receberam a confirmação do YCombinator. “Ficaram muito entusiasmados e disseram que gostavam que fizéssemos parte do programa”, continua Vasco. A 2 de Janeiro de 2014, mudaram-se de malas e bagagens para Silicon Valley.

Para Vasco, trabalhar com os co-fundadores da Unbabel é uma mais-valia. “Estamos os cinco a viver na mesma casa. É uma grande benesse, porque estar há três meses a trabalhar 24 horas por dia e passar todo este tempo como equipa fundadora permite-nos criar uma relação importantíssima entre nós.” Em Silicon Valley, além do trabalho, não resta grande tempo para pensar noutras coisas. “A nossa semana tem sido trabalhar, pensar na Unbabel, pensar em como crescer”, explica Vasco. A equipa considera estar a ter oportunidades que, em Portugal, nunca conseguiria. “Mesmo empresas enormes estão dispostas a mover-se rapidamente no sentido de tentar perceber se aquilo que estamos a fazer é uma mais-valia para a empresa.”

Continuar a crescer

De momento, a Unbabel conta com 6437 editores e 2.438.344 palavras traduzidas em 28 línguas. Para Vasco e Sofia, há necessidade de aumentar a equipa, mas o mais importante é o crescimento do produto e de clientes. Vasco explicita. “Gostávamos de ser rentáveis dentro de um ano.”

Há ainda outros objectivos. “Trazer os nossos serviços a uma série de clientes novos, tornar real esta visão de comunicação, com base na tradução, mas sem ter a sensação de que há um obstáculo no meio, e por outro lado melhorar o processo de tradução em si”, explica Vasco. Para o futuro, fica também a promessa de permitir aos tradutores que personalizem a tradução, que traduzam aquilo que gostem de traduzir, e de tornar a equipa de tradução mais eficiente.

Sofia Pessanha contou ao P3 que, quando os cinco fundadores começaram a imaginar a Unbabel, “uma das visões era ter estudantes universitários a fazer traduções no telemóvel, no metro, em casa, e a ter dinheiro para sair à noite de sexta-feira”, uma realidade que já não é distante.

A aplicação já está disponível. Basta uma inscrição na plataforma web e... começar a traduzir. 

Texto editado por Luís Octávio Costa