Canto para bebés

Uma longa licença de paternidade permite ao pai uma proximidade e uma intimidade com a criança que seria porventura mais difícil de conseguir apenas nos fins de tarde e de semana

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Charles Platiau/Reuters

O Lukas tem seis meses, eu tenho trinta e três anos. Esta semana começámos juntos uma aventura: durante os próximos cinco meses eu estarei de licença de paternidade. Um período tão longo é praticamente impossível de conseguir em Portugal, mas nós vivemos na Dinamarca, onde os esquemas de maternidade e paternidade são bastante generosos.

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O Lukas tem seis meses, eu tenho trinta e três anos. Esta semana começámos juntos uma aventura: durante os próximos cinco meses eu estarei de licença de paternidade. Um período tão longo é praticamente impossível de conseguir em Portugal, mas nós vivemos na Dinamarca, onde os esquemas de maternidade e paternidade são bastante generosos.


Poder passar um longo período como pai a tempo inteiro é um privilégio e, julgo, uma condição prévia para uma sociedade tendencialmente igualitária. Com a excepção da amamentação, não há nada que uma mãe possa fazer que um pai não possa. Ainda que esta ideia seja do senso comum, está muito longe de estar internalizada nas nossas sociedades, incluindo aqui, onde, apesar de o estado incentivar a distribuição do período de paternidade entre os dois progenitores, a percentagem média de tempo ocupado pelo pai é apenas de uns estranhos seis por cento. Em determinados meios profissionais estes valores são bastante mais elevados mas os números dinamarqueses estão longe dos apresentados nos outros países escandinavos, onde existe uma quota obrigatória para tempo de paternidade.


Mas a ideia principal que quero deixar é que, em paralelo com os benefícios óbvios para a criança e para a mãe, uma longa licença de paternidade permite ao pai uma proximidade e uma intimidade com a criança que seria porventura mais difícil de conseguir apenas nos fins de tarde e de semana. Mais do que somente acompanhar os progressos diários, passar tempo junto da criança permite ao pai essa coisa intangível de conhecer o seu filho. E também propicia experiências preciosas, como a que vivi há alguns dias.


Às 10:00 em ponto lá estávamos na St. Lukas Kirke, a igreja de S. Lucas, onde a líder da paróquia — a equivalente ao padre católico — organiza sessões de canto para bebés em pequenos grupos. Seis bebés, um piano, um xilofone e muita música cantada pela madre e acompanhada pelos adultos. Estivemos os 50 minutos sentados ou deitados em colchões no chão desta enorme igreja protestante, descalços, brincando com os nossos bebés ao som de melodias tradicionais escandinavas. A música ecoava nas paredes simples e austeras enquanto nós cantávamos para eles, ouvindo os seus risos, os seus berros, as suas gargalhadas. Já a caminho do fim, alguns minutos foram reservados para relaxar. O pianista tocava uma melodia tradicional com um arranjo simples e nostálgico, e cada pai deitou-se nos colchões com o seu bebé, fazendo-lhe carinhos, dando-lhe mimo, enrolando-se um no outro. Durante algum tempo o tempo parou e nós crescemos juntos mais um bocado.